Em um cenário de intensa volatilidade nos mercados globais de tecnologia, Borge Brende, presidente do Fórum Econômico Mundial (WEF), lançou um alerta grave sobre a possível formação de três grandes bolhas financeiras. Segundo Brende, o mundo deve monitorar de perto os excessos de otimismo e os níveis recordes de endividamento global, que, juntos, podem estar inflando bolhas nos setores de Inteligência Artificial (IA), Criptomoedas e Dívida Soberana.
Durante uma visita a São Paulo nesta quarta-feira (5), o líder do Fórum, conhecido por organizar o encontro anual de líderes em Davos, na Suíça, expressou a preocupação de que o frenesi em torno da IA possa ter levado a uma precificação exagerada no mercado de tecnologia. A menção às bolhas surge em meio a quedas significativas nas ações globais de tecnologia, um movimento que, segundo analistas, é motivo de cautela, mas não de pânico imediato, após os mercados terem atingido picos recordes.
“É possível que vejamos bolhas no futuro. Uma delas é a bolha de criptomoedas, a segunda é a bolha de IA e a terceira seria a bolha de dívida,” afirmou Brende a jornalistas.
A preocupação com a dívida global é particularmente acentuada, com o presidente do WEF observando que os governos não se endividavam tanto desde o ano de 1945. Paralelamente, os mercados têm demonstrado uma resiliência notável, ignorando historicamente as preocupações com juros altos, inflação persistente e turbulências comerciais, em grande parte impulsionados pela crença no potencial transformador da IA nas perspectivas econômicas e corporativas.
Ameaça aos Colarinhos Brancos
O potencial da IA para ganhos de produtividade é inegável, segundo Brende, mas a tecnologia também representa um risco significativo para o emprego. O executivo alertou para o perigo de um novo “Cinturão da Ferrugem” (região industrial em declínio) se materializar nas grandes cidades, onde trabalhadores de “colarinho branco” que atuam em escritórios estariam mais suscetíveis à substituição pela automação e ao aumento da produtividade impulsionada pela IA. Brende citou cortes de vagas recentes em empresas como Amazon e Nestlé como exemplos dessa tendência.
Moeda digital Bitcoin (Foto: reprodução/Getty Images Embed/Dan Kitwood)
Apesar dos riscos de curto prazo, o presidente do WEF reiterou a visão histórica de que a mudança tecnológica, em última análise, impulsiona a produtividade, que ele considera o único caminho sustentável para elevar a prosperidade a longo prazo. “Assim, é possível pagar melhores salários e garantir mais prosperidade à sociedade,” concluiu.
Ações de Tecnologia em Correção
As quedas recentes nas ações de tecnologia reforçam o clima de cautela. O setor, que vinha em trajetória de recordes, registrou perdas pelo segundo dia consecutivo. Bolsas como as de Seul e Tóquio caíram cerca de 5% em relação aos picos, e os futuros da Nasdaq também sinalizaram recuo. As empresas mais afetadas foram aquelas que se beneficiaram intensamente do rally de IA, notadamente a fabricante de chips Nvidia, que viu suas ações recuarem quase 4% em Wall Street.
Analistas do mercado, como Jon Withaar, da Pictet Asset Management, e Herald van der Linde, do HSBC, veem o movimento majoritariamente como um ajuste de posição ou uma realização de lucros de curto prazo, e não como o prenúncio de um colapso em massa. No entanto, a reação negativa aos resultados da Palantir Technologies, empresa de dados e IA, serviu como um gatilho para a liquidação.
“As pessoas estão envolvidas até o pescoço com essas ações de IA,” observou Van der Linde, sugerindo que uma “pausa” ou “rotação” no mercado seria natural. Apesar da venda ampla na “parte alavancada do mercado,” a intenção de uma saída em massa ainda não foi detectada pelos gestores de fundos, que, após um ano de ganhos sólidos, se mostram vigilantes. O cenário atual, portanto, pede vigilância redobrada, com o otimismo da IA confrontando os riscos estruturais da dívida e do excesso de euforia.
