No começo de 2025, equipes de energia em vários estados começaram a notar um movimento que, à primeira vista, parecia só uma coincidência. Um pedido urgente aqui, outro ali, sempre vindo de novos datacenters que surgiam em terrenos antes vazios. Quando as requisições passaram a chegar quase toda semana, ficou claro que a rede elétrica já não dava conta. A sensação de pressa tomou conta das salas de operação, onde técnicos passaram a debater, quase diariamente, como evitar que a demanda crescente empurrasse o sistema para o limite.
A pressão não surgiu do nada. Ainda em 2024, gigantes como OpenAI, Google e Amazon anteciparam um salto na potência computacional até 2030. Desde então, muitas concessionárias admitem que estão correndo atrás. Projetos chegam antes das obras, que começam antes das licenças. É assim que se formam disputas por energia, ajustes provisórios e filas de espera espalhadas por todo o país.
Redes em alerta
No Oregon, a situação ficou evidente quando a Amazon voltou às reuniões com autoridades depois de ver parte de um investimento bilionário praticamente congelado por falta de energia disponível. A Pacificorp explicou que não poderia atender ao pedido de imediato, e o assunto acabou nas mesas regulatórias. Em Santa Clara, dois centros de 50 megawatts, erguidos pela Digital Realty e pela Stack Infrastructure, seguem sem operar desde 2024. A concessionária local prevê liberar energia só depois de 2028, quando concluir uma atualização cara e demorada.
⚡ La IA está devorando la energía de Estados Unidos.
Según BlackRock, los centros de datos, impulsados por la explosión de la inteligencia artificial, podrían consumir hasta el 20 % de toda la electricidad del país antes de 2030.
La demanda basada en IA crece mucho más rápido… pic.twitter.com/6aaGOEYw5c
— Héctor Chamizo (@hectorchamizo) November 26, 2025
IA acelera o consumo de energia nos EUA e pode gerar gargalos antes de 2030 (Foto: reprodução/X/@hectorchamizo)
Consultores que acompanham o setor dizem que esse tipo de impasse deixou de ser exceção. Ohio vive exemplo parecido: uma mudança na regra de contratação enxugou a fila de projetos de 30 para 13 gigawatts. Ainda assim, especialistas lembram que o país tem histórico de acelerar grandes obras quando há interesse econômico forte. Institutos de energia enxergam até um lado positivo nessa corrida, que pode destravar investimentos que ficaram engavetados por anos.
Datacenters viram usinas próprias
Com a rede pública pressionada, várias empresas passaram a montar suas próprias fontes de energia. No Texas, não é raro ver turbinas novas sendo instaladas a poucos metros dos prédios que abrigam servidores. O projeto Stargate, em Abilene, montado por OpenAI, SoftBank, Oracle e MGX, já funciona com dez turbinas só para garantir que nada desligue de surpresa. Esse movimento começou a atrair até grupos do setor de petróleo: a Chevron, por exemplo, planeja instalar 5 gigawatts em geração a gás até 2027, aproveitando o excedente da Bacia Permiana.
Startups e fornecedores menores oferecem células a combustível e turbinas compactas, uma solução rápida para novos datacenters. A xAI, de Elon Musk, já aplicou a estratégia em mais de um local. Especialistas estimam que o gás natural atenderá boa parte da demanda, enquanto o governo aposta em reatores nucleares antigos e novos modelos AP1000. Modernizar a rede e programas de resposta ao consumo poderiam liberar potência extra. Pesquisadores da Duke University calculam que reduzir apenas 1% do uso dos datacenters criaria uma folga de 125 gigawatts.
