Fair Play Financeiro: CBF divulga regras

Um passo para a melhoria do futebol brasileiro, nesta quarta-feira (26), durante o Summit CBF Academy que ocorreu em São Paulo, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) apresentou o projeto de Fair Play financeiro. Que vai fiscalizar os clubes das séries A e B do Campeonato Brasileiro, para isso foi criado o Sistema de Sustentabilidade Financeira (SSF), com as regras estipuladas pela entidade.

A apresentação do SSF foi feita pelo Caio Resende, diretor acadêmico do evento, e César Grafietti, economista especializado em esportes. Que mostraram cada etapa do projeto a ser implantado.

O que é o SSF 

O Sistema de Sustentabilidade Financeira tem quatro pilares de fiscalização que os clubes precisam seguir a curto e médio prazo. Cada instituição tem até 2028, quando as normas serão regidas, para se enquadrar no Controle de Dívidas, Equilíbrio Operacional, Controle de Custo do Elenco e Controle do Endividamento de Curto Prazo.

Como irá funcionar cada pilar, para o Controle de Dívidas os clubes terão que informar a partir de agora detalhes dos contratos de atletas firmados com outros times, deixando claro como será a forma de pagamento, além de especificações de direitos de imagem e salários. As informações devem ser direcionadas ao DTMS, sistema criado pela CBF para esse fim. 



Edição de 2025 do Summit CBF Academy (Vídeo: reprodução/Instagram/@brasil)


Vale ressaltar que o controle das dívidas vale também para atrasos com funcionários e autoridades públicas. Além de ter uma fiscalização em três datas anuais já estipuladas, 31 de março, 31 de julho e 30 de novembro. 

Já o Equilíbrio Operacional leva em conta o superávit de cada clube, ou seja, as dívidas não podem ser maiores que a arrecadação anual da equipe, será permitido zerar, mas não negativar. A CBF irá permitir que o dono do time, em caso de SAF, faça injeção financeira para que as contas fiquem pelo menos no zero. Já os demais clubes podem obter doações, desde que não seja utilizado o próprio recurso da instituição. Essa conta, no entanto, é somente do futebol masculino, não envolvendo as outras modalidades existentes.

Seguindo os pilares, o Controle de Custos de elenco é uma parte importante para manter a saúde financeira nas fiscalizações. Neste ponto, são vistos os seguintes itens: salários, encargos, direitos de imagem e amortizações que, segundo o plano, não poderão ultrapassar 70% das receitas neste primeiro momento para a série A e de 80% para os clubes da série B.

O último pilar é um dos mais complexos de controlar, pois é justamente o Controle de Endividamento a Curto Prazo. Perante as regras, os times não poderão passar de 45% da divisão da dívida líquida (a partir de 2030). Até esta data, os clubes terão um tempo para ir se adequando, em 2028 essa porcentagem é de 60% e em 2029 de 50% para chegarem com as contas saudáveis no prazo determinado.

Punições por descumprimento

É importante dizer que essas mudanças terão que ser gradativas e que a base para a fiscalização e gerenciamento dos clubes é sempre a referência do ano anterior, assim como é feito no caso de imposto de renda (feito anualmente), dando um exemplo prático. Caso haja algum descumprimento, as punições aplicadas vão seguir um critério do mais brando até o mais severo.

Em primeiro momento, aqueles que não seguirem começam com uma advertência pública, seguida de multa e, em casos mais graves, retenção de receitas e aplicação da CBF de transfer ban, mesma punição que a FIFA aplica. Ainda não se sabe como cada instituição vai se adequar ao SSF, porém espera-se que todos cumpram em prol de um belo espetáculo dentro de campo.  

CBF anuncia modelo de Fair Play Financeiro para clubes brasileiros

A CBF deve apresentar até o fim de novembro o modelo de Fair Play Financeiro para o futebol brasileiro. Até agora, já foram realizadas três reuniões com especialistas e representantes dos clubes, e um novo encontro está previsto para o fim do próximo mês para discutir a versão final. O projeto será mostrado oficialmente em 26 de novembro, no Summit CBF Academy, em São Paulo, e a previsão é que comece a ser aplicado no próximo ano, de forma gradual.

Consenso entre clubes e cautela na definição do modelo

o vice-presidente da CBF, Ricardo Gluck Paul, afirmou que os dirigentes dos clubes têm mostrado muito mais pontos de concordância do que de discordância. Segundo ele, há um sentimento quase unânime de que o modelo seja implementado rapidamente, mas de forma gradual.

O dirigente é um dos maiores defensores do Fair Play Financeiro e tem conversado com frequência com clubes e especialistas sobre o assunto. Paul disse que “ainda é cedo” para definir qual modelo será adotado, mas garantiu que ele será ajustado à realidade do futebol brasileiro.


Próximos compromissos da comissão técnica e da Seleção Brasileira (Foto: reprodução/X/@CBF_Futebol)

O projeto seguirá referências de modelos já existentes, sem criar algo totalmente inédito. No entanto, qualquer detalhe neste momento ainda é apenas especulação. Um novo encontro no fim de outubro deve fornecer os subsídios necessários para concluir a minuta.

Modelo será gradual e baseado em receitas reais dos clubes

Ricardo Gluck Paul adiantou que o Fair Play Financeiro será calculado com base no que os clubes realmente arrecadam, e não em receitas previstas. Segundo ele, isso se deve principalmente ao fato de grande parte da renda vir do Campeonato Brasileiro.

Outra certeza é que o modelo será implementado de forma gradual. Um dos motivos são os contratos já existentes, que comprometem parte das receitas dos clubes nos próximos anos.

O presidente da CBF, Samir Xaud, destacou que haverá um período de transição e lembrou que, em outros países, esse processo chegou a levar anos. Segundo ele, é preciso dar tempo para que os clubes consigam se adaptar ao novo modelo.

Leila garante que Palmeiras buscará fair play financeiro: “Não podemos ser prejudicados”

A presidente do Palmeiras, Leila Pereira, afirmou que o clube irá “bater forte” na implementação do fair play financeiro no Brasil. A declaração aconteceu logo após a reeleição de Ednaldo Rodrigues como presidente da CBF, em um cenário de crescente debate sobre o controle financeiro dos clubes.

Durante sua fala, Leila destacou que o Palmeiras, apesar de honrar todos os seus compromissos, precisa que outros clubes também o façam para garantir um campeonato mais justo. “Precisamos que todos os clubes paguem em dia, inclusive para o próprio Palmeiras”, afirmou a dirigente, enfatizando o impacto negativo da falta de regularidade nos pagamentos dentro das competições.

O fair play financeiro, um conjunto de regras que visa garantir a sustentabilidade financeira dos clubes, já é amplamente adotado em ligas europeias, como na Premier League, La Liga e Bundesliga. Essas normas buscam limitar os gastos de clubes, forçando-os a viver dentro de suas possibilidades e evitar o endividamento excessivo.

A ideia é permitir que as equipes competem em igualdade de condições, sem que o desequilíbrio financeiro prejudique a integridade esportiva. De acordo com Leila, os clubes que não cumprem com suas obrigações financeiras acabam criando uma distorção no campeonato, o que prejudica clubes que pagam suas dívidas corretamente.

Debate sobre fair play financeiro no Brasil

O debate sobre a adoção do fair play financeiro no Brasil não é novo. Em setembro de 2024, a Comissão Nacional de Clubes deu início a discussões sobre a implementação dessas regras. O encontro contou com a participação de diversos clubes da Série A, B e C, incluindo o Palmeiras.

O principal objetivo do encontro foi avançar na criação de um modelo que pudesse ser implantado no Brasil até 2025. Durante a reunião, o debate foi considerado inicial, mas já gerou um bom posicionamento dos clubes, como o Palmeiras, que se mostrou favorável à aplicação do modelo.

Entretanto, a resistência de clubes endividados pode ser um obstáculo para que a ideia avance. “Sei que é difícil, porque alguns clubes devedores não vão querer, claro. Ninguém fala que não quer, mas ninguém decide. A forma de não fazer é ficar enrolando”, explicou Leila.

Apesar dos desafios, ela se mostrou determinada a continuar lutando pela implementação do fair play financeiro, convencida de que ele é essencial para a saúde financeira do futebol brasileiro.

Posição dos Clubes

A ideia do fair play financeiro tem ganhado força, especialmente após algumas declarações de presidentes de clubes, como Rodolfo Landim, do Flamengo, e John Textor, do Botafogo. Landim, em um grupo de WhatsApp, destacou os altos investimentos feitos pelo Flamengo e levantou questionamentos sobre a viabilidade de um modelo sem regras claras de controle financeiro.


John Textor e Rodolfo Landim no Estádio do Orlando City acompanhando amistoso do Flamengo (Foto: reprodução/GE)

Por outro lado, Textor, dono da SAF do Botafogo, também se mostrou favorável à adoção do fair play financeiro, citando como exemplo a gestão do Botafogo, que estaria dentro dos limites exigidos pelas regras europeias.

Esse debate tem ganhado destaque nos últimos meses, especialmente após algumas falências financeiras e a crescente concentração de poder nos clubes com maior poderio financeiro. Para Leila, o Palmeiras é um exemplo de gestão responsável, mas a falta de regras claras prejudica o próprio clube. “Clubes que pagam em dia são prejudicados por clubes que não pagam ninguém”, disse, ao criticar o desequilíbrio nas competições gerado pela falta de uma regulação eficaz.


Leila Pereira comenta sobre os clubes que não pagam as dívidas (Vídeo: reprodução/Instagram/@tntsportsbr)


Futuro do fair play financeiro no futebol brasileiro

Apesar de as discussões estarem em estágio inicial, a expectativa é de que o tema avance em 2025. A Comissão Nacional de Clubes planeja novas reuniões mensais para tentar definir um modelo que seja viável para o futebol brasileiro. A pressão de clubes como o Palmeiras, que defendem um sistema mais justo, pode ser determinante para que o modelo europeu de fair play financeiro seja adotado.

No entanto, a implementação do modelo pode não ser fácil. Muitos clubes veem as restrições financeiras como um obstáculo ao seu crescimento, e alguns gestores podem resistir à mudança. Mesmo assim, a insistência de dirigentes como Leila Pereira, que acreditam que um futebol mais equilibrado e sustentável é possível, promete continuar a alimentar o debate. A implementação do fair play financeiro no Brasil, portanto, se mantém como uma das principais pautas do futebol nacional para os próximos anos.

Entenda sobre o Fair Play Financeiro e o impacto que pode gerar no Brasil

Na sede da CBF, dirigentes se reuniram e retomaram debate para execução do Fair Play Financeiro no Brasil. Na Comissão Nacional de Clubes estavam presentes representantes de Atlético Goianiense, Flamengo, Fluminense, Fortaleza, Internacional, Palmeiras, São Paulo e Vasco. Os frequentes atrasos nos pagamentos, incluindo salários, são a razão dessa discussão.

Assunto ganhou notoriedade depois de uma crítica do presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, acerca dos investimentos feitos pelo Botafogo nas últimas contratações. John Textor, nome forte do Botafogo, refutou dizendo que gasta apenas 45% das receitas do clube em salários.

Início da discussão

Esse tema é discutido pela CBF e clubes desde 2013. A meta era que entrasse em vigor de 2021 a 2024, de forma gradual, mas teve seu adiamento devido a pandemia da COVID-19, porque os clubes tiveram suas receitas gravemente comprometidas.

Fair Play Financeiro

Fair play Financeiro é um conjunto de regras que aspiram que os clubes se controlem financeiramente com a finalidade de que se tornem sustentáveis a longo prazo e que sejam capazes de honrar seus compromissos. Seja com outros clubes, funcionários ou com o Estado.

As grandes ligas europeias e a própria Uefa, já operam sob essas regras, que determinam critérios para permitir que os clubes participem dos seus torneios.

O economista Cesar Grafietti apresentou a CBF, em 2019, um projeto acerca desse tema, porém não foi implementado.

“Um clube não pode gastar além do que arrecada, não pode ter dívidas, não pode ter atraso de salários. Então você cria um conjunto de regras para tentar, de alguma maneira (..). Você controla os gastos com percentual da receita, o quanto você pode gastar com salários em relação à receita, coloca um teto. E controla os prejuízos. Um limite máximo de prejuízo que o clube pode ter para operar saudável.”, explicou usando a Uefa como exemplo.

Ao redor do mundo

Na Espanha, La Liga coloca um limite de custos com salários de atletas e comissão técnica a 70% das receitas. A dívida líquida não pode superar o total de receitas. Além do que o saldo, entre contratações e vendas, tem não podem ultrapassar 100 milhões de euros.

Na Inglaterra, a Premiere League impõe restrições sobre os prejuízos acumulados, se baseando na soma dos resultados antes dos impostos das últimas três temporadas. Um clube pode ter prejuízo acumulado de até 15 milhões de libras. Entretanto, esse limite pode ser elevado para té 105 milhões se os acionistas contribuírem com até 90 milhões, para reduzir o déficit para os 15 milhões iniciais. Prejuízos acima dos 105 milhões são proibidos.

A liga estabeleceu novas regras para a temporada 2025/26, limitando os gastos a 85% das receitas. Também decretou um teto para salários, levando em conta os valores das receitas dos direitos de transmissão da Premiere League.

Na Uefa, o sistema foi introduzido pela primeira vez em 2009 e realizou mudanças em 2022, tornando as regras um padrão que vem sendo adotado, de forma progressiva, pelas ligas nacionais europeias. Segundo o órgão continental, os clubes devem fornecer declarações confirmando que não há atrasos nos pagamentos em três momentos: julho, outubro e janeiro. Atrasos superiores a 90 dias aumentam a gravidade das sanções. A Uefa também impõe um limite de 60 milhões de euros em prejuízos acumulados por três temporadas.


Modelos de FPF (Foto: Reprodução/Editoria de Arte O Globo)

Possíveis punições

Todos esses sistemas estabelecem sanções para a desobediência das regras. Na Espanha, por exemplo, há o impedimento do registro de novos atletas. Na Inglaterra, os clubes são punidos com perda de pontos. Na França, clubes sancionados podem ser rebaixados. Já a Uefa, impede que clubes participem de suas competições.

Brasil

No Brasil, o economista Cesar Grafietti propõe regras que unam o controle de dívidas ao controle de gasto. Dessa forma, possibilita que clubes com menos dívidas gastem mais com salários e contratações.

“São duas dimensões: a do controle de dívida e a do controle de gastos. Precisamos fazer é combinar as duas (..). Eles não precisam que sobrem muito dinheiro para pagar suas dívidas. Clubes que têm muitas dívidas, têm que gastar menos.”, explanou.

A expectativa é de que os clubes se reúnam, de forma mensal, na Comissão Nacional de Clubes para fazer esse planejamento ser implementado.