A deputada federal licenciada Carla Zambelli (PL-SP) participou remotamente, via videochamada, de uma audiência crucial na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados. Detida na Itália, onde aguarda a decisão sobre um pedido de extradição, a parlamentar defendeu-se de um processo interno que pode levar à cassação de seu mandato. O caso é motivado por sua recente condenação pelo Supremo Tribunal Federal (STF), onde foi acusada de participar da invasão de sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Zambelli acusa perseguição política
Em seu depoimento, Zambelli criticou a postura do ministro Alexandre de Moraes, responsável por assinar o mandado de prisão que a mantém detida. “Eu não estou foragida, estou exilada”, declarou, alegando estar sob uma “prisão administrativa”. A deputada afirmou que as autoridades italianas consideram o mandado de prisão como uma “broma” e expressou otimismo quanto à sua soltura. “Estou tranquila por saber que em breve não estarei mais presa, estarei em liberdade”, disse.
A defesa de Zambelli argumenta que o processo é uma perseguição política, uma narrativa que ela buscou reforçar ao sugerir que sua condenação no STF foi conduzida por uma única pessoa, o que contradiz a decisão unânime da Primeira Turma do tribunal.
Durante a inquirição, a parlamentar exibiu lapsos de memória notáveis. Questionada sobre um relatório da Polícia Federal relacionado aos seus dispositivos eletrônicos, ela alegou: “Como estou aqui na prisão há 56 dias, minha memória não alcança”. A resposta foi prontamente direcionada a seu advogado. Zambelli também rechaçou o depoimento do hacker Walter Delgatti, com quem se encontrou em 2022.
Ela negou a afirmação de Delgatti de que teria dormido em sua casa, minimizando a relação a um mero encontro profissional para verificar a segurança das urnas eletrônicas. A deputada negou veementemente ter pago R$ 40 mil ao hacker, mencionando apenas um pagamento indireto de R$ 3 mil por meio de uma empresa de divulgação de seu mandato.
CCJ se aproxima de decisão final sobre cassação de Zambelli
O processo na CCJ é um passo decisivo, com o relator Diego Garcia (Republicanos-PR) agora responsável por elaborar o parecer final. A comissão já ouviu outros depoimentos importantes, incluindo o de Delgatti e de um perito, e a fala de Zambelli era aguardada para complementar o conjunto de evidências. A decisão do colegiado será levada a plenário, onde a cassação do mandato exigirá o voto da maioria absoluta dos deputados.
A audiência, que teve um momento de tensão com uma questão de ordem apresentada pela deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS) contra a realização da oitiva, rejeitada pelo presidente da CCJ, Paulo Azi (União–BA), sublinha a polarização e a gravidade do processo.
Enquanto aguarda o desfecho de seu caso na Itália, Zambelli enfrenta no Brasil a possibilidade real de perder sua cadeira na Câmara. Sua licença de 127 dias, concedida antes de sua detenção, já havia transferido sua vaga para o suplente Coronel Tadeu (PL-SP). A votação na CCJ e, em seguida, no plenário, será o capítulo final de um caso que mescla tecnologia, política e justiça, com a deputada lutando em duas frentes diferentes para manter sua liberdade e seu mandato.
