Aprenda a diferenciar os sintomas de dengue e leptospirose

Com as inundações e cheias no Rio Grande do Sul, as regiões afetadas ficaram propícias, junto ao arrasamento das terras e dos desaparecimentos de grande número de pessoas, a algumas doenças que tem seu pico de propagação com a água, sendo dengue e leptospirose como as principais que podem surgir nesta condição.

Diferenças entre leptospirose e dengue

Para contextualizar, dengue e leptospirose são condições que tem um diagnóstico muito parecido, em especial sobre os sintomas que o contaminado sente. A forma de adquirir cada doença muda, tendo em vista que a dengue é transmitida pelo mosquito aedes aegypti, enquanto a leptospirose tem a base da sua propagação na urina de ratos contaminados com a própria doença, algo que se torna mais perigoso em casos de enchente.

Em relação aos sintomas semelhantes, estão inclusos a febre alta, dores na cabeça, náuseas e vômitos, além da falta de apetite. Apesar da alta quantidade de igualdades, alguns sintomas são cruciais para diferenciar as duas situações.

A dengue, quando está em um grau avançado, pode causar algumas manchas vermelhas no corpo e a diminuição de plaquetas, que resultam em sangramentos nas mucosas. As dores nas articulações e atrás dos olhos também são sintomas da doença transmitida pela fêmea do mosquito aedes aegypti.

Enquanto isso, como sintomas diferentes da dengue, a leptospirose apresenta calafrios e dores musculares, com ênfase na panturrilha. Para ficar em alerta, a especialista Emy Akiyama Gouveia, infectologista do Hospital Albert Einstein, diz que a leptospirose pode contaminar a partir da ingestão de alimentos contaminados pela água advinda da enchente, que pode estar com a doença.


Vídeo do canal “Luz, Câmera e Ciência USP” sobre leptospirose (Vídeo: reprodução/Luz, Câmera e Ciência USP)

Cuidados e diagnósticos

Para prevenir-se das doenças citadas, é importante que além dos cuidados com a água e sua limpeza, sempre procurar um diagnóstico correto e confiável.

A leptospirose é diagnosticada a partir da coleta de sangue para que o examinador avalie a presença de anticorpos no paciente. Já a dengue, o principal instrumento de análise é o próprio quadro clínico do indivíduo, tendo como complemento em alguns casos, a solicitação de exames de laboratório.

Lembrando que em alguns casos, tanto a dengue quanto a leptospirose podem ser assintomáticas ou de sintomas extremamente leves, o que pode mudar algo nas recomendações de tratamento de ambas.

Primeira morte por leptospirose é confirmada no Rio Grande do Sul

O governo do Rio Grande do Sul confirmou nesta segunda-feira (20) a primeira morte por leptospirose no estado. Eldo Gross, de 67 anos, faleceu na sexta-feira (17) após sua casa ser inundada pelas chuvas na cidade de Travesseiro, no Vale do Taquari. Ele foi sepultado no sábado (18).

As enchentes que devastaram o estado causaram grandes danos materiais a residências e empresas, além de ameaçarem a saúde da população de diversas maneiras.


Voluntários ajudam a resgatar moradores após a enchente dos bairros Menino Deus e Cidade Baixa em 6 de maio de 2024 em Porto Alegre (Reprodução/Ramiro Sanchez /Getty Images Embed)


Segundo o médico Fábio José Pavan, Eldo procurou atendimento médico, foi internado e hospitalizado. Outros três casos da doença estão em tratamento, mas sem grandes complicações.

Medidas para evitar a Leptospirose

A Secretaria Estadual da Saúde recomenda algumas medidas para prevenir a doença: usar luvas e botas impermeáveis ao limpar áreas alagadas para evitar contato com água ou lama contaminada e consultar um médico se houve contato com água das enchentes. Em alguns casos, o uso preventivo de antibióticos pode ser indicado para reduzir o risco de infecção.

A leptospirose é uma doença bacteriana grave cujos sintomas incluem febre, dor muscular, náuseas, vômitos, diarreia, pele e olhos amarelados. A bactéria é transmitida pela urina de animais infectados. A contaminação ocorre pelo contato com água ou lama contaminada, principalmente por meio de lesões na pele.

Riscos à saúde na tragédia climática do RS

A situação no Rio Grande do Sul acende um alerta para a saúde pública. Profissionais da saúde estão preocupados com o contato da população com água suja, que pode servir de vetor para doenças como diarreia, leptospirose e dengue.

Em Novo Hamburgo, no Vale do Sinos, um abrigo acolhe 3.500 pessoas em três pavilhões. Médicos relatam que muitos dos desabrigados já chegam ao local com problemas de saúde potencialmente causados pelas enchentes. Em resposta à alta demanda, um pronto- atendimento 24 horas foi instalado.

Além das doenças transmitidas pela água, as doenças respiratórias também representam uma preocupação urgente no Rio Grande do Sul neste momento. O pesquisador do Observatório de Clima e Saúde da Fiocruz, Christovam Barcellos alerta: ”muita gente aglomerada em abrigos ou em outros lugares. O frio que está fazendo no Rio Grande do Sul, muitas pessoas perderam seus agasalhos, perderam forma de se proteger”.

As inundações também resultaram na perda de medicamentos controlados e receitas, dificultando ainda mais o trabalho das equipes de saúde.

Tratamento preventivo contra a leptospirose começa no RS

As consequências das enchentes que devastam o Rio Grande do Sul estão em todos os âmbitos da sociedade e são a longo prazo. Além da perda de moradias e de bens materiais, surge também a preocupação sobre a saúde física e emociona das pessoas. No momento, a principal linha de frente é a prevenção com a leptospirose.

Sobre a doença

A leptospirose é uma doença infecciosa, febril, aguda, transmitida pela bactéria Leptospira, presente na urina de animais infectados através da água, solo e alimentos, principalmente dos ratos. A contaminação se dá pela mucosa e por pequenos ferimentos. Todas essas condições, infelizmente, presentes nas regiões afetadas do estado gaúcho.

Os sintomas da doença são febres altas, dor de cabeça, sangramentos, calafrios, vômitos e olhos vermelhos. Após o começo dos sintomas, é indicado um exame laboratorial de sangue, porém a Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente (SVSA) recomenda o começo da quimioprofilaxia após alguns dos sintomas, como a dor na região lombar e na panturrilha, e após contato com essas áreas de risco trinta dias antes do começo dos sintomas, pois assim o sistema de saúde consegue atender um número maior de infectados na fase inicial. Os principais medicamentos para a doença são antibióticos, como doxiciclina e azitromicina, porém a profilaxia não garante que não haja contaminação, uma vez que ela precisa ser administrada por um período de pelo menos sete dias e sem novos contatos com áreas contaminadas, mas diminui as chances. Segundo a repórter Gabriela Plentz, da Gazeta Zero Hora, os medicamento citados já se encontram em falta na maioria das redes de farmácias gaúchas.



Orientações dos órgãos de saúde

Essa orientação se estende aos municípios não afetados, uma vez que muitos se hospedaram em casas de parentes e amigos e podem estar contaminados. O órgão governamental também pede ampla divulgação dos sintomas e quem teve contato com as águas e lama das enchentes procure uma unidade de saúde. Essas são orientadas a seguir com o procedimento não só para leptospirose, mas também diagnósticos diferenciais para doenças respiratórias, infecções de trato urinário, diarreias agudas, hepatites A e sepse.

O tratamento de profilaxia e também das doenças decorrentes das águas contaminadas, do cuidado com os feridos serão a longo prazo. Além das questões emocionais dessa grande tragédia não só natural, mas principalmente humanitária.