Governo aciona STF por judicialização de fraudes no INSS

Cenário de crescente insatisfação entre aposentados e pensionistas, o governo federal levou ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma ação com potencial de grande impacto jurídico e social. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, junto à Advocacia-Geral da União (AGU), solicitou a suspensão imediata de todos os processos judiciais que exigem ressarcimentos por descontos indevidos nos benefícios do INSS, ocorridos entre março de 2020 e março de 2025. A iniciativa busca frear o avanço de milhares de ações que, segundo o Planalto, podem comprometer o equilíbrio do sistema previdenciário brasileiro.

Descontos indevidos

O pedido foi apresentado como uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) e levanta uma discussão constitucional sobre a responsabilidade da União e do INSS por fraudes praticadas por terceiros, especialmente no caso de associações que descontaram valores sem autorização dos segurados. A intenção do governo é clara: evitar decisões conflitantes, conter danos financeiros à União e estabelecer uma resposta coordenada e segura para ressarcir os lesados.

Segundo o Executivo, escritórios de advocacia estariam explorando a situação de forma predatória, movendo ações em massa com interesses financeiros, o que estaria gerando uma judicialização sem precedentes. Esse movimento estaria não apenas sobrecarregando o Judiciário, mas também atrasando o processo de reparação real aos beneficiários que, de fato, sofreram prejuízos.


Presidente Lula fala sobre as tarifas impostas pelo presidente Donald Trump a produtos brasileiros (Foto: reprodução/Ton Molina/Getty Images Embed)


Valores descontados

Para lidar com a crise, a AGU também pleiteia a criação de um crédito extraordinário que permita ao governo ressarcir as vítimas de maneira rápida, fora do embate jurídico. A medida é vista como uma forma de preservar a segurança jurídica e evitar um colapso no atendimento previdenciário, cada vez mais pressionado pela demanda judicial.

Em contrapartida, o Partido Progressista ingressou com ação própria no STF, exigindo que o INSS devolva integralmente os valores descontados, com estimativas precisas e definição da fonte de pagamento. O impasse agora está nas mãos do Supremo, que terá a missão de equilibrar o direito dos segurados à reparação com a proteção do sistema público de previdência.

Agências dos Correios vão auxiliar aposentados após fraudes no INSS

A partir do dia 30 de maio, beneficiários do INSS que foram alvos de descontos irregulares poderão contar com atendimento presencial em agências dos Correios espalhadas pelo país. A medida foi anunciada pelo governo federal nesta quinta-feira (22), como forma de ampliar o suporte às vítimas da fraude que pode ter gerado um prejuízo bilionário aos cofres públicos.

Correios assumem atendimento

O novo atendimento será prestado exclusivamente nas unidades dos Correios, e não nas agências do INSS, que enfrentam alta demanda. Conforme o Ministério da Previdência Social, 4.730 agências estarão envolvidas na ação, alcançando cerca de 66% dos municípios brasileiros.

Segundo o presidente do INSS, Gilberto Waller, basta apresentar um documento de identidade para ser atendido. Em casos de dificuldade de locomoção, o beneficiário poderá enviar um representante com uma procuração autenticada.

Entre os serviços oferecidos estão: verificação da existência de descontos indevidos, identificação das entidades responsáveis, protocolo de solicitações, informações sobre o retorno do INSS e orientação para contestar os débitos e pedir reembolso. A lista das agências aptas ao atendimento estará disponível nos sites oficiais dos Correios e do INSS, além do telefone 135.

O governo reforça que o atendimento digital segue disponível e funciona normalmente pelo aplicativo Meu INSS e pelo número 135. A ida aos Correios é apenas uma opção adicional, visto que o ressarcimento está garantido a qualquer tempo, segundo o ministro da Previdência, Wolney Queiroz.


Cerca de 2 milhões de aposentados e pensionistas do INSS pediram ressarcimento
(Foto: reprodução/X/@siteptbr)

Esquema de fraude levou a prejuízo bilionário

A iniciativa foi anunciada após a revelação de um esquema fraudulento que, segundo a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União, envolvia o pagamento de propina a servidores para liberar descontos em massa nos benefícios. As entidades suspeitas teriam se aproveitado de um sistema paralelo para registrar filiações sem consentimento.

A investigação aponta que aposentados chegaram a ser vinculados a várias associações no mesmo dia. O prejuízo estimado pode ultrapassar R$ 6 bilhões entre 2019 e 2024. A Advocacia-Geral da União entrou com pedido de bloqueio de R$ 2,56 bilhões em bens de 12 associações envolvidas.

O escândalo resultou na saída do então ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, acusado de omissão. Documentos revelam que ele teria sido alertado sobre os problemas em junho de 2023, mas demorou quase um ano para agir. O presidente do INSS à época, Alessandro Stefanutto, também foi exonerado e virou alvo de investigação.

Apesar de a maioria dos segurados usar os canais digitais — 98% dos atendimentos, segundo o governo —, o Ministério da Previdência aposta em ações presenciais para alcançar pessoas com pouco acesso à internet. Para isso, também pretende utilizar as vans do PrevMóvel e as embarcações do PrevBarco, levando informação e atendimento às regiões mais isoladas do país.