Germanier encerra a semana de alta-costura com colaboração brasileira

A Semana de Alta-Costura em Paris chega ao fim com um desfile marcante do estilista suíço Kevin Germanier. Conhecido por seu olhar vanguardista e sustentável, o designer escolheu encerrar o line-up oficial com uma coleção que celebra mais uma vez a parceria com o brasileiro Gustavo Silvestre.

O destaque da apresentação ficou por conta de quatro looks confeccionados em crochê de ráfia, resultado de uma colaboração minuciosa que uniu arte, moda e transformação social. As peças foram desenvolvidas ao longo de mais de 700 horas de trabalho artesanal, conduzidas por sete artesãos ligados ao Projeto Ponto Firme, iniciativa criada por Silvestre em 2015 e que atua com pessoas em situação de vulnerabilidade, incluindo egressos do sistema prisional.


Modelo sendo preparada para o desfile para Kevin Germanier (Foto: reprodução/Instagram/@kevingermanier)


Sustentabilidade e impacto social em foco


A escolha dos materiais e a valorização do trabalho manual revelam o compromisso estético e ético da dupla. A ráfia, fibra vegetal leve e resistente, ganhou forma em tramas complexas, que desafiam a noção tradicional de luxo ao incorporar texturas naturais em looks de passarela.

Mais do que uma proposta estética, a colaboração carrega uma mensagem poderosa sobre reintegração e oportunidades. O Projeto Ponto Firme, que já foi destaque em edições anteriores da São Paulo Fashion Week, amplia seu alcance ao marcar presença novamente na Semana de Alta-Costura de Paris.


Modelos desfilando para Kevin Germanier (Foto: reprodução/Instagram/@kevingermanier)


Uma parceria que se consolida

Essa é a sexta vez que Gustavo Silvestre e Kevin Germanier trabalham juntos, sendo a segunda participação conjunta no calendário oficial da alta-costura, uma conquista significativa tanto para o estilista brasileiro quanto para o suíço. A continuidade dessa colaboração evidencia a sólida sinergia entre os dois criadores, que compartilham não apenas afinidades estéticas, mas também um posicionamento claro diante da indústria da moda: ambos acreditam que inovação, inclusão e consciência social devem caminhar lado a lado com a excelência criativa.

Ao unir o savoir-faire técnico e conceitual do ateliê europeu com a potência transformadora do trabalho artesanal brasileiro, o desfile de encerramento não apenas entrega beleza e impacto visual, mas também propõe uma reflexão urgente sobre os caminhos possíveis da moda contemporânea.

Em um cenário muitas vezes dominado pela velocidade e pelo consumo desenfreado, Germanier e Silvestre mostram que é possível trilhar uma rota alternativa mais ética, colaborativa e comprometida com realidades diversas.

Arte e tecnologia se entrelaçam em desfile de Iris van Herpen

Após um ano de intervalo, a estilista holandesa Iris van Herpen voltou às passarelas da moda, trazendo consigo seu magnetismo e inovação, provando mais uma vez porque é uma das estilistas mais renomadas. 

Nesta segunda-feira (7), Iris retornou na semana de alta-costura em Paris, através de uma apresentação futurística com hologramas, misturando a arte com a tecnologia e promovendo uma experiência imersiva.

Moda e tecnologia em encontro

Trazendo a experiência imersiva para o desfile, o cenário do primeiro look era totalmente escuro, dando espaço somente para a luz que emanava do holograma. Surgindo quase como uma aura celestial, a peça tinha mangas que lembravam as asas de uma ave, presas nos braços da modelo. O balanço das mangas associava a tecnologia a movimentos artísticos, envolvendo o público magicamente.


Holograma cria uma peça celestial em modelo (Foto: reprodução/Victor VIRGILE/Getty Images Embed)


No segundo look, a modelo caminha devagar pela passarela, somente com luzes cobrindo seu corpo. A ideia futurista veste o corpo e esconde o rosto, dando uma ideia de que a modelo está vestindo somente as luzes que se refletem em si. Quando a luz do evento se acende, é possível ver seu rosto e que ela veste uma peça completa, contando com uma capa, vestido e botas, que misturam o azul com o creme em cores claras.


Modelo caminha na passarela em desfile de Iris van Herpen (Foto: reprodução/Victor VIRGILE/Getty Images Embed)


Look após as luzes serem ligadas (Foto: reprodução/Kristy Sparrow/Getty Images Embed)


Transição na semana de alta-costura

A semana de alta-costura de Paris vem sendo marcada por transições no mundo da moda, com o público aguardando estreias e despedidas significativas. Michael Rider está envolvido em uma dessas transições, já que fez sua estreia na direção criativa da Celine no domingo (6), inaugurando um ciclo de estreia de Glenn Martens para a Maison Margiela nesta quarta-feira (9).


Glenn Martens na Semana de Moda de Milão em 2024 (Foto: reprodução/Vittorio Zunino Celotto/Getty Images Embed)


Já nas despedidas, temos o atual estúdio criativo da Chanel se despedindo e dando lugar a seu novo sucessor, Matthieu Blazy. Na Balenciaga, Demna Gvasalia está fora da maison e tem destino para a Gucci. 

Schiaparelli abre a semana de alta-costura em Paris com desfile dramático

A semana de alta-costura parisiense iniciou nesta segunda-feira (24) com o surrealismo da italiana Schiaparelli dando a largada. Em uma apresentação brilhante – tanto em criação artística, quanto em cenário, com a passarela à meia luz, ornamentada por holofotes e candelabros a moda antiga parisiense – a coleção denominada “The Phoenix” ( “A Fênix”, em tradução para o português) trouxe uma atitude diferente, mas não menos sublime, do esperado para grife. 


Espetáculo à meia luz protagonizado pela Schiaparelli (Foto: reprodução/Instagram/@ffw)

O desfile contou logo na sua abertura com uma explosão cintilante: um vestido que carrega o imaginário para a figura de uma fênix, com asas em prata abraçando o torso da modelo. A pegada por trás da presença marcante das referências a ave mitológica durante a criação é uma inspiração na fundadora da marca, Elsa Schiaparelli, que durante muitos anos usou uma estola de penas, em homenagem à bailarina conhecida por interpretar o clássico balé “O Lago dos Cisnes”, além da habilidade da fundadora e estilista de sempre se reinventar, durante sua história na indústria da moda, assim como uma fênix que sempre ressurge das cinzas. 

Surrealismo menos óbvio

Um dos desejos do diretor criativo da Schiaparelli, Daniel Roseberry, para essa coleção era atenuar o sentimento de surrealismo literal que banhava as coleções passadas da marca e fugir do perigo de cair em um ciclo repetitivo de criações estrondosas e gritantes. Com “A Fênix”, Roseberry se lança em novos ares de mudança.


Coleção “A Fênix”, da Schiaparelli, na Semana de Alta-Costura de Paris 2024 (Foto: reprodução/Instagram/@ffw)

As novidades começam já com a localização do desfile. Posteriormente, as apresentações da Schiaparelli eram marcadas pela luz natural, no famoso museu de belas artes em Paris Petit Palais, agora com tapetes pretos felpudos e uma nova aura sombria, o desfile ocorreu no porão do Hotel Solomon de Rothschild, invocando essa nova sensação de mistério desejada pelo diretor criativo.


Coleção “A Fênix”, da Schiaparelli, na Semana de Alta-Costura de Paris 2024 (Foto: reprodução/Instagram/@ffw)

A volta da atitude envolvente

As modelos entraram na passarela com suas cabeças envoltas em crepe transparente, sob pequenos feixes de luz, que construíram um “clima de adega”, nas palavras de Roseberry. Todas também receberam a instrução de olharem fixamente nos olhos dos presentes sentados na primeira fila, cativando, indiretamente, a atenção fixa de todos. “Eu queria que parecesse um balé surreal e hipersensual”, explicou Roseberry sobre a arquitetação do desfile.


Coleção “A Fênix”, da Schiaparelli, na Semana de Alta-Costura de Paris 2024 (Foto: reprodução/Instagram/@ffw)

O sexy, depois de tantos anos praticamente escondido no universo da moda, voltou através dos espartilhos e vestidos de seda lavada apresentados pela Schiaparelli neste primeiro dia da Semana de Alta-Costura. Os bordados prateados, a lã e os decotes profundos corroboram com a ideia de mistério e uma nova atitude menos sinuosa que Daniel Roseberry deseja para a marca.