Tensão global no setor automotivo: crise de chips gera incerteza e paralisações

A indústria automobilística mundial enfrenta um novo e grave revés em sua já frágil cadeia de suprimentos. Uma escalada nas tensões geopolíticas, centrada na empresa holandesa de semicondutores Nexperia, acendeu um alerta vermelho entre as gigantes do setor. Com a proibição de exportações de componentes da Nexperia a partir da China, montadoras globais, como a Nissan e a Mercedes-Benz, correm contra o tempo para garantir estoques e explorar rotas de fornecimento alternativas.

A situação se tornou crítica após o governo holandês assumir o controle operacional da Nexperia, citando preocupações relativas à transferência de tecnologia para sua controladora chinesa, a Wingtech, um movimento que Washington classificou como um potencial risco à segurança nacional. Em retaliação, Pequim impôs a restrição de exportação, mergulhando o setor automotivo em um mar de incerteza.

Crise de semicondutores expõe vulnerabilidade das montadoras

A Nissan, uma das afetadas, admitiu estar em uma posição delicada. Guillaume Cartier, diretor de Desempenho da empresa, em declarações no Japan Mobility Show, afirmou que a montadora possuía suprimento garantido apenas “até a primeira semana de novembro”, um prazo apertado que sublinha a urgência do momento. Cartier ressaltou que, mesmo após aprenderem com a escassez da pandemia de Covid-19 e buscarem estocar componentes, as fabricantes permanecem reféns da saúde de seus fornecedores, especialmente os de escalões inferiores na complexa pirâmide de suprimentos. A dificuldade em mapear a disponibilidade de chips avança conforme se desce na cadeia, além dos fornecedores de “nível 1”.


Matéria sobre o governo da Holanda assumir o controle da fabricante Nexperia (Vídeo: reprodução/YouTube/CNN Brasil)


Na prática, os impactos já são tangíveis. A Honda suspendeu a produção em uma de suas fábricas no México na terça-feira e já iniciou ajustes fabris nos Estados Unidos e Canadá. No Brasil, a preocupação é palpável: um funcionário do governo local advertiu que, se a crise persistir, algumas plantas fabris podem ser forçadas a interromper as operações em um horizonte de duas a três semanas.

Os semicondutores da Nexperia são cruciais para diversos componentes automotivos, e esta crise se soma aos desafios pré-existentes do setor, como tarifas americanas e restrições chinesas sobre terras raras.

Crise nas cadeias globais exige soluções diplomáticas

O CEO da Mercedes-Benz, Ola Källenius, confirmou que a busca por soluções está em pleno andamento: “É evidente que estamos vasculhando o mundo em busca de alternativas”, disse, embora a empresa alemã esteja “preparada” para o curto prazo. Källenius diferenciou claramente este cenário da última crise de chips, enfatizando que a nova ameaça possui raízes políticas e, portanto, demandará uma solução diplomática.

A vulnerabilidade das cadeias de suprimentos globais diante de atritos comerciais ficou mais uma vez exposta. Como pontuou Källenius, “em um carro moderno de alta tecnologia, você tem praticamente os cinco continentes dentro dele”. Especialistas avaliam que, embora paralisações e o uso de peças alternativas sejam medidas de curto prazo, a solução definitiva passará, inevitavelmente, por negociações diretas entre empresas e governos, especialmente com a China. Klaus Schmitz, sócio da consultoria Arthur D. Little, prevê que o impacto real ainda está por vir, mas aponta para uma “situação bastante crítica”.

Zuckerberg pressiona Trump por impostos digitais antes do “tarifaço”

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou impor tarifas sobre países que adotarem impostos digitais. A decisão surge após reunião na Casa Branca com Mark Zuckerberg, que expressou preocupações sobre o impacto desses impostos.

Para Trump, esses impostos prejudicam empresas americanas e podem favorecer concorrentes de outros países, como sua principal rival nessa corrida tecnológica, a China. Por outro lado, a União Europeia alega que suas regulamentações digitais são neutras e aplicadas igualmente a todas as plataformas.

Principais temas discutidos

Na reunião realizada na Casa Branca, segundo pessoas próximas, um dos principais temas discutidos foi a tributação digital adotada por outros países. O CEO da Meta alertou que medidas excessivas poderiam reduzir investimentos e prejudicar a competitividade e a influência das empresas dos EUA no exterior.
Principais temas discutidos

Outro tema abordado foi o avanço da liderança tecnológica americana e os investimentos em infraestrutura. Mark Zuckerberg detalhou planos da empresa para construir um grande data center de inteligência artificial nos Estados Unidos, destacando que a iniciativa fortaleceria os sistemas de IA, geraria empregos e consolidaria a hegemonia do país, tornando-o uma referência global na corrida tecnológica.


Encontro em Mar-a-lago nos EUA no início desse ano (Vídeo: Reprodução/ YouTube/CNN Brasil)

A importância dos semicondutores para a Meta e a liderança americana

Os semicondutores são peças-chave para o desenvolvimento de tecnologias avançadas, como inteligência artificial, realidade aumentada e processamento de dados em larga escala.

Donald Trump taxou a China em 100% no início de seu mandato. A produção e o fornecimento de semicondutores são estratégicos para a liderança tecnológica americana. A discussão incluiu medidas para incentivar a fabricação doméstica e reduzir a dependência de fornecedores estrangeiros, especialmente em meio à crescente competição com países como a China, reforçando a relevância do setor na corrida tecnológica global.

Com essas medidas, os EUA reforçam sua posição na corrida tecnológica mundial, equilibrando interesses econômicos, inovação e segurança nacional, ao mesmo tempo em que empresas como a Meta tentam consolidar sua presença e influência no cenário internacional.

Governo Biden anuncia nova investigação sobre chips e semicondutores chineses

A representante comercial dos Estados Unidos, Katherine Thai, afirmou nesta segunda-feira (23) que o governo americano pretende iniciar uma investigação sobre políticas e práticas em relação à indústria de semicondutores.

A preocupação do governo dos Estados Unidos seria de evitar que a China tenha vantagem no mercado de chips, assim como já vem buscando nos mercados de energia solar e carros elétricos. A investigação será executada sob a Seção 301 da Lei do Comércio de 1974. A alegação dos americanos é de que os chineses têm adotado medidas anticompetitivas.

Disputa comercial

A medida dos Estados Unidos possivelmente irá complementar os planos de Donald Trump, que pretendem incluir taxas de 60% na importação de produtos chineses a partir de 2025. O atual presidente americano, Joe Biden, já aprovou uma medida onde impõe taxas de 50% a partir de 1 de janeiro.

Esta investigação ressalta o compromisso da administração Biden-Harris em defender os trabalhadores e as empresas americanas, aumentando a resiliência das cadeias de suprimentos críticas e apoiando o investimento incomparável que está sendo feito nesta indústria”.

– Katherine Thai


Governo Biden impõe taxa de 50% sobre produtos chineses a partir de 1 de janeiro de 2025. (Foto: reprodução/ X/ @NBCNews)

O informativo americano que sustenta a investigação afirma que a China busca dominar o mercado doméstico e global no setor de semicondutores, impondo meios anticompetitivos para atingir a autossuficiência. Os americanos também estão no meio do impasse chinês sobre Taiwan, território reivindicado pela China e essencial para a indústria de chips do mundo.

Possibilidades

Caso a disputa entre China e Estados Unidos siga adiante, isso pode tornar o mercado de semicondutores ainda mais competitivo. Atualmente os Estados Unidos têm investido na fabricação local de semicondutores, incluindo uma parceria com a empresa TSMC, uma empresa taiwanesa e maior produtora global de chips, que fornece para grandes marcas como Apple, Qualcomm e Samsung. O objetivo dessa medida seria diminuir a dependência dos Estados Unidos por chips e componentes chineses.