Durante anos, Marco Pigossi viveu entre o brilho dos holofotes e a dor do silêncio. Em uma revelação recente no podcast “Desculpa Alguma Coisa”, o ator contou que manteve um relacionamento amoroso em segredo por medo de assumir publicamente sua sexualidade. Hoje, casado e vivendo uma nova fase da vida fora do Brasil, ele transforma sua história pessoal em um relato potente sobre repressão, medo, acolhimento e liberdade.
Um amor que precisou se esconder
Pigossi revelou que vivenciou um relacionamento duradouro de maneira completamente discreta, mantendo-o longe de olhares, registros e da própria liberdade de amar. Segundo ele, o motivo era o medo não só da reação do público, mas também das implicações que assumir sua sexualidade poderia acarretar em sua carreira artística em um mercado ainda caracterizado por padrões rígidos.
O ator classificou esse período como um tempo de “sobrevivência”, em que esconder quem ele era parecia a única opção possível. Mesmo envolvido emocionalmente, o relacionamento era atravessado pela insegurança constante de ser descoberto, de virar manchete, de sofrer rejeição profissional e social.
Com o fim da relação, Pigossi revelou que sentiu a necessidade de pedir desculpas ao ex-companheiro por tê-lo submetido a uma dinâmica de invisibilidade. Para ele, hoje, é claro que o silêncio imposto não afetava apenas a si mesmo, mas também a pessoa que estava ao seu lado, obrigada a viver um amor incompleto, sem direito à existência pública.
Segundo o ator, viver um amor oculto não era apenas uma escolha individual, mas uma consequência direta de um sistema que impõe vergonha, silenciamento e insegurança a pessoas LGBTQIA+. O pedido de desculpas, mais do que um acerto pessoal, foi também um gesto simbólico de reconhecimento da dor provocada por esse apagamento.
O medo de ser visto e o peso da fama
Antes de se assumir, o ator já vivia sob os holofotes da televisão brasileira, frequentemente escalado para papéis de galã. A imagem pública construída ao longo dos anos aumentava ainda mais o medo de romper com expectativas. Ele já contou que sentia pânico com a simples possibilidade de ser visto em público ao lado de outro homem.
Situações simples, como ir ao cinema ou jantar fora, se tornavam episódios de tensão. Muitas vezes, amigos acompanhavam os encontros para disfarçar. O que para muitos casais é trivial, para ele exigia estratégia, silêncio e constante estado de alerta.
Mesmo interpretando personagens LGBTQIA+ na televisão, fora das câmeras o ator ainda vivia uma vida atravessada pelo receio. A contradição entre o que representava e o que podia viver na própria pele revelava o quanto o medo ainda comandava suas escolhas.
A virada: assumir, sair do Brasil e recomeçar
A grande mudança veio quando Marco Pigossi decidiu se assumir publicamente. O processo não foi instantâneo, mas representou um divisor de águas em sua vida pessoal e profissional. Pouco tempo depois, ele se mudou para os Estados Unidos, onde passou a construir uma nova etapa da carreira, agora no cinema internacional.
Foi nesse período que conheceu o cineasta italiano Marco Calvani. O relacionamento entre os dois se fortaleceu longe da pressão da mídia brasileira e, em 2024, eles oficializaram a união. Hoje, Pigossi vive abertamente seu amor, algo que por muitos anos parecia impossível.
O cinema como espelho da própria história
A vida pessoal e a carreira artística passaram a se cruzar de forma ainda mais intensa quando Pigossi estrelou o filme Maré Alta, dirigido pelo próprio marido. Na trama, ele interpreta um jovem brasileiro que se muda para os Estados Unidos em busca de liberdade para viver sua sexualidade.
O papel tem fortes paralelos com sua própria trajetória. Mais do que um personagem, o filme representa um espelho emocional de sua história: o deslocamento, a fuga do medo, a reconstrução da identidade e a descoberta de que é possível viver sem se esconder.
Representatividade, cura e novos caminhos
Ao compartilhar sua história, Marco Pigossi entende que ultrapassa o campo individual. Seu relato ecoa a realidade de muitas pessoas que ainda vivem relações escondidas por medo de rejeição, violência ou exclusão.
Hoje, ele fala abertamente sobre a importância da representatividade, do acolhimento e da construção de espaços onde ninguém precise escolher entre amar e sobreviver. O ator reforça que assumir a própria verdade não apaga as dores do passado, mas transforma essas feridas em caminhos de cura.
Mais do que um desabafo, sua fala se torna um ato político, afetivo e social. Ao dar nome ao que viveu, Pigossi ajuda a iluminar histórias que ainda permanecem no escuro e mostra que, apesar do medo, é possível reescrever a própria trajetória.
