Stablecoins podem crescer mais com volta do IOF

O ministro do Superior Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, decidiu nesta quarta-feira (16) a favor do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), e o mercado pensa em formas de “driblar” o IOF, como através das criptomoedas stablecoins.

Para as operações de crédito, será mantido o decreto do governo de novas taxas para o IOF, por meio da MP (medida provisória). A medida não inclui transações consideradas como “risco sacado”, tal como antecipação de pagamentos para empresas e seus fornecedores, pois o ministro entende que não se trata de uma operação de crédito.

Rumo do IOF

Os ajustes nos impostos é um tópico muito debatido no Palácio do Planalto e no Congresso desde junho, com um lado pensando em beneficiar a maioria da população que trabalha para pagar basicamente todos os impostos do país, enquanto o outro prefere que as coisas continuem como estão, sem cobrar mais de quem recebe mais.

O presidente Lula havia assinado o decreto, mas o Congresso votou a favor de ser retirado. Dado que as partes não chegaram a um acordo, o governo recorreu ao STF, onde Moraes tomou conta do caso e agendou uma reunião para conciliar o Planalto e o Congresso, onde também não houve concordância; assim, foi imposto ao ministro que ele determinasse o percurso do IOF.

Apesar de ainda precisar dos votos dos outros membros, o aumento do IOF já está ocorrendo, com operações já tendo uma taxa mais alta, como enviar dinheiro para o exterior e investir em moedas mais caras, como o euro.


Com o aumento do IOF, as criptomedas stablecoins podem ter uma chance no mercado (Foto: reprodução/ Freepik/@natanaelginting)

Possível mercado para as stablecoins

Para alguns especialistas, uma forma de “evitar” o IOF são as stablecoins, uma criptomoeda que tem como base de crédito uma moeda — normalmente o dólar — ou ouro, em uma proporção 1:1.

As stablecoins são sugeridas por não terem aplicação de IOF, uma vez que não estão no mercado de câmbio. No Brasil, essas moedas ainda não são regulamentadas, sendo consideradas como ativos financeiros pela legislação.

Apesar de alguns especialistas a considerarem uma opção, inclusive por seu custo-benefício, por não haver uma legislação específica que trate os direitos e obrigações de quem vende e compra, as stablecoins não possuem garantia no Brasil.

Essas criptomoedas também respondem aos ativos em que estão atreladas, seja a moeda ou o ouro. Em outras palavras, elas também estão suscetíveis aos riscos do ouro e do dólar, ou de qualquer outra moeda em que tenha sua base.

BIS faz alerta severo sobre stablecoins e defende tokenização das moedas nacionais

O Bank for International Settlements (BIS), conhecido como o banco central dos bancos centrais, emitiu seu alerta mais duro até o momento sobre os riscos representados pelas stablecoins. Em um capítulo antecipado do relatório anual que será divulgado no próximo domingo (29), a instituição conclama os países a avançarem rapidamente na tokenização de suas moedas soberanas como resposta às ameaças crescentes do mercado de criptoativos.

Entre os principais riscos destacados pelo BIS estão o potencial das stablecoins de minar a soberania monetária, a falta de transparência quanto aos ativos que lastreiam essas moedas e o risco de fuga de capitais em economias emergentes.

O posicionamento da entidade ocorre poucos dias após o Senado dos Estados Unidos aprovar um projeto de lei que cria um marco regulatório para stablecoins atreladas ao dólar. A proposta, se confirmada pela Câmara, poderá impulsionar ainda mais a adoção dessas moedas digitais — que já movimentam mais de US$ 260 bilhões (R$ 1,42 trilhão), sendo 99% atreladas ao dólar.

Críticas à estabilidade e à transparência

“As stablecoins não conseguem se equiparar ao dinheiro sólido”, aponta o relatório. Segundo Hyun Song Shin, conselheiro econômico do BIS, esses ativos digitais não oferecem o mesmo nível de segurança e estabilidade nas transações que os bancos centrais garantem

Ele alerta ainda para o risco de colapsos, como o ocorrido com o TerraUSD (UST) e a criptomoeda LUNA em 2022, que provocaram “vendas de emergência” dos ativos que sustentavam o sistema.

Outra grande preocupação é a opacidade sobre quem controla o lastro dessas moedas.

Sempre haverá incerteza quanto à solidez do ativo que garante o valor da stablecoin. O dinheiro está realmente lá? Onde ele está?”, questionou Andrea Maechler, gerente geral adjunta do BIS.

Tokenização como solução


Criptomoedas (Foto: Reprodução/reprodução/Jakub Porzycki/NurPhoto/Getty Images Embed)

Como alternativa, o BIS sugere a criação de um sistema unificado e tokenizado, que integraria, em uma só plataforma digital, as reservas dos bancos centrais, os depósitos bancários e os títulos públicos. A ideia é que as moedas nacionais passem a ser emitidas em formato programável, permitindo liquidações de pagamentos e negociações de forma quase instantânea, com mais eficiência, menor custo e maior segurança.

Esse novo modelo, segundo o BIS, tornaria o sistema financeiro global mais transparente, resiliente e interoperável, ao mesmo tempo em que protegeria a economia dos riscos trazidos por criptoativos pouco regulados.

A realização de todo o potencial do sistema exige uma ação ousada”, afirmou Agustín Carstens, diretor-geral do BIS, que está em sua última semana no cargo.

No entanto, a implementação de uma infraestrutura digital global enfrenta obstáculos significativos, como a preservação da soberania regulatória de cada país e a complexa definição das regras de governança que irão orientar o funcionamento da plataforma.