Ministério da Saúde amplia faixa etária para vacinação da dengue com doses próximas ao vencimento


O Ministério da Saúde adotou nesta quinta-feira (16), uma estratégia para o aproveitamento das vacinas de dengue que estão próximas ao vencimento. A Câmara Técnica de Imunizações tomou a decisão de liberar a ampliação das faixas etárias para a vacina da dengue no Sistema Único de Saúde (SUS) em municípios que têm um número alto de doses para vencer em 30 de abril.

Expansão da faixa etária

As vacinas, que têm validade próxima, agora poderão ser aplicadas em pessoas de 4 a 59 anos, o que pode variar com o critério do município. Os imunizantes fazem parte de uma doação feita ao Brasil em fevereiro.

 O objetivo dessa estratégia é reduzir a perda de doses com vencimento próximo somente para esse grupo, com vencimento no final do mês de abril. Segundo o Ministério da Saúde, essa medida é temporária e é restrita para os lotes de Qdenga que se enquadrem no requisito.


Faixa etária é ampliada pelo Ministério de Saúde (Foto: reprodução/Youtube/ Band Jornalismo)

Baixa adesão

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, revelou pouco tempo antes da publicação da nova medida que já havia um Plano B em curso que buscava redistribuir as doses para 154 novos municípios.


Ministra da Saúde comenta baixa adesão de vacinas da dengue (Foto: reprodução/Youtube/ Rede TVT)

Já estamos fazendo a redistribuição, mas, se não houvesse um negacionismo às vacinas, certamente as famílias estariam levando suas crianças e jovens para serem vacinados. Esse é o ponto fundamental que eu queria colocar“, reforçou a ministra ao participar da reunião da Comissão de Assuntos Sociais no Senado.

A baixa adesão foi o que fez com que as doses estocadas nos municípios chegassem próximo da data de validade, portanto, a estratégia de expansão visou diminuir a perda de imunizantes nesses municípios onde há excesso de doses.

Medida temporária

Além de esclarecer que o público que decidir por se vacinar nesta antecipação terá a segunda dose garantida, o ministério reforçou que ainda deverá ser priorizada a faixa etária de 10 a 14 anos – público-alvo o qual as doses estão liberadas desde março.

Também foi pedido que a comunicação sobre a vacinação e sobre a estratégia em si seja intensificada nos estados e municípios a fim de atrair o público para a imunização.

Redução de procura por vacina da dengue faz estados ampliarem público-alvo

Assim que o Brasil chegou ao número de um milhão de casos de dengue, em dois meses, estados afirmam que houve uma redução da busca de vacinas para a doença. Além disso, alguns estados não seguem a recomendação do Ministério da Saúde de implantar o cronograma de faixa etária para a vacinação e tentam ampliar o público alvo.

Descumprimento do cronograma de vacinas

Segundo apuração do O Globo, os estados do Acre, Mato Grosso do Sul e Goiás foram os que já disponibilizaram para os adolescentes de 14 anos a vacina da dengue, enquanto o Distrito Federal ainda analisa ampliar para o público de 12 anos. 

A ministra da saúde, Nísia Trindade, solicitou aos municípios dos estados, que anteciparam o cronograma, para que não continuem com a ação. Além disso, Nísia, afirmou que a estratégia do governo é manter com a restrição de idade para garantir a possibilidade de uma segunda dose. Durante entrevista, a ministra disse que as cidades que tomam decisões precipitadas e imediatas podem comprometer a vacinação de milhares de crianças e adolescentes. “Se cada município tomar uma decisão descoordenada, a gente pode deixar crianças e adolescentes sem proteção. Todas as nossas ações são decididas por um comitê técnico com especialistas e também há escassez de doses de vacina”, afirmou.


Frascos de vacinas Qdenga, aprovada pela Anvisa (foto: reprodução/ Rogério Vidmantas/ Prefeitura de Dourados/ Agência Brasil)

Estados que descumpriram o cronograma

No Acre, seis das 11 cidades já disponibilizavam vacinas para os adolescentes de 14 anos desde o dia 26 de fevereiro, uma semana após o início da campanha de vacinação. O Globo verificou a última atualização de vacinados da secretaria de saúde do Acre e foi constatado que 770 jovens entre 10 a 11 anos foram vacinados, sendo que a meta seguindo o cronograma seria de 17.810 crianças nessa idade.

Na última sexta-feira (1), 134 cidades de Goiás disponibilizaram vacinas para adolescentes de até 14 anos. O secretário estadual de saúde, Rasível dos Santos, justificou ampliar o público a ser vacinado por conta de uma baixa na procura para vacinar jovens entre 10 a 11 anos e afirmou que foi algo discutido com o Ministério da Saúde. 

A secretaria de saúde do Mato Grosso do Sul também explicou que elevar a idade para vacinar foi a estratégia adotada por causa da baixa procura de vacina da dengue. 

Estudo conclui que vacina contra dengue produzida pelo Instituto Butantan tem eficácia de 79,6%

Nesta quarta-feira (31), a revista científica New England Journal of Medicine (NEJM) publicou resultados de uma pesquisa na  qual comprovou a eficácia geral de 79,6% da nova vacina contra a dengue produzida pelo Instituto Butantan, em São Paulo.

A taxa de eficácia é semelhante ao novo imunizante produzido em laboratório japonês, Qdenga,  que recentemente entrou para a lista das vacinas que serão ofertadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O imunizante japonês registrou 80,2% de eficácia nas pesquisas e será aplicado através de duas doses. Já no  caso da vacina brasileira, nomeada como Butantan-DV,  tem previsão de iniciar sua distribuição a partir de 2025 e sua  aplicação será em dose única. 


Imunizante Butantan-DV está sendo desenvolvido há mais de 10 anos. (foto: Reprodução/Governo de São Paulo)

Pesquisa e desenvolvimento

Liderado por Ésper Kallás e Fernanda Castro Boulos, o novo imunizante brasileiro produzido pelo Instituto Butantan está em desenvolvimento há mais de 10 anos. Com participação de diversas instituições brasileiras e norte-americanas, a vacina é financiada pela farmacêutica alemã Merck, ao lado do Governo Federal e da Fapesp, órgão estadual de fomento à pesquisa do estado de  São Paulo.

Atualmente, as pesquisas para conclusão da vacina estão em período de acompanhamento da terceira fase clínica, ou seja, os pesquisadores estão monitorando a evolução dos voluntários que tiveram contato com o imunizante. Ao todo, mais de 16 mil voluntários de 15 cidades brasileiras participaram desta fase três de testes, etapa na qual se iniciou em 2016 e foi finalizada em 2019. Dessa forma, a previsão é que todos os indivíduos completem cinco anos de acompanhamento neste ano e a etapa de monitoramento seja concluída. 

As etapas anteriores da pesquisa mostraram resultados convincentes aos pesquisadores, durante a fase um de testes, por exemplo, o imunizante do Butantan mostrou que ele induziu a geração de anticorpos em 100% dos indivíduos que já tiveram dengue e em mais de 90% naqueles que nunca haviam tido contato com o vírus.

Já o teste clínico de fase dois, mostrou que a vacina induziu a produção de anticorpos e de células de defesa em pessoas com ou sem contato prévio com todos os sorotipos da dengue. Portanto, o novo imunizante brasileiro se mostrou altamente eficaz na proteção contra todos os tipos diferentes de vírus que a doença possui. 

Resultados

Dentre os resultados obtidos através das três fases pelas quais a vacina brasileira passou, observou-se uma porcentagem superior de eficácia entre os indivíduos que já tinham tido dengue (89,2%), em relação aos voluntários que nunca tinham tido contato com o vírus (73,6%). Além disso, os estudos mostraram que a Butantan-DV  tem eficácia maior no grupo de e  adultos, entre 18 e 59 anos.

Ainda de acordo com as pesquisas, as reações adversas dos voluntários que tomaram o imunizante foram leves, 36,4% se queixaram de dores de cabeça, 22,5% apresentou vermelhidão corporal e 19,3% sentiu fraqueza muscular. Ao que tudo indica, ainda neste ano se encerrará o período de monitoramento da fase três. Assim, todos os resultados serão analisados por uma comissão independente e só então serão submetidos à aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Aumento dos casos de dengue no Brasil exige estratégias de prevenção e controle

A dengue, uma doença viral transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, representa um crescente desafio no Brasil. Dados recentes do Ministério da Saúde indicam um aumento alarmante de casos: mais de 55 mil ocorrências foram registradas nas primeiras duas semanas de 2024, o dobro do mesmo período do ano anterior, evidenciando uma preocupante situação de saúde pública.

Estratégias para o controle da dengue no cenário nacional e global

Vacina Qdenga aprovada no Brasil (Foto: divulgação/Takeda)


Análise do aumento de casos de dengue no Brasil em 2024

Os números indicam que o Brasil enfrenta um aumento significativo nos casos de dengue, com 55.859 casos prováveis e seis mortes registradas apenas nas primeiras semanas de 2024.

Esse crescimento ocorre apesar do anúncio do governo federal de que as doses da vacina contra a dengue serão suficientes para imunizar até 3 milhões de pessoas neste ano, gerando preocupações sobre a capacidade do sistema de saúde de lidar com a demanda crescente.

No Rio de Janeiro, a situação é especialmente alarmante. Mais de 4 mil casos foram contabilizados em apenas 13 dias, um aumento de 669% em comparação ao mesmo período do ano anterior.

Relação entre mudanças climáticas e aumento da dengue no Brasil

A infectologista Luana Araújo destaca que o panorama para 2024 é “extremamente preocupante com relação às arboviroses”. As condições climáticas, intensificadas pelo fenômeno El Niño, e caracterizadas por calor intenso e chuvas volumosas, criam um ambiente ideal para a proliferação do mosquito.

Ela enfatiza a importância da conscientização da população, ressaltando que a prevenção continua é a principal ferramenta contra a dengue.

A eliminação de locais de procriação dos mosquitos, como pratos de plantas, garrafas e outros recipientes que acumulam água, é crucial para conter a disseminação do vetor.

SUS tem desafios na implementação da vacinação contra dengue

Diante do aumento dos casos, o governo brasileiro anunciou a inclusão da vacina Qdenga no SUS. Desenvolvida pelo laboratório japonês Takeda Pharma, a vacina está prevista para ser aplicada a partir de fevereiro, com foco em crianças e adolescentes de 6 a 16 anos.

No entanto, a quantidade limitada de doses e a necessidade de duas aplicações para a imunização completa representam desafios logísticos que precisarão ser superados.

Estratégias para o controle da dengue no cenário nacional e global

O aumento de casos de dengue no Brasil reflete uma tendência observada globalmente. Países como Singapura também estão enfrentando um aumento nos casos.

Entender a origem e evolução da dengue é fundamental para enfrentar esse desafio de forma abrangente e sustentável. Especialistas em saúde pública alertam para a necessidade de uma abordagem integrada, que envolva pesquisa científica, métodos de controle vetorial, educação pública e cooperação internacional.