Os limites da inteligência artificial, se é que existem

Heloisa Santos Por Heloisa Santos
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Há uma certa euforia no ar. E também uma certa histéria. De repente, não mais que de repente, parece que o mundo se deu conta da existência da Inteligência Artificial, também conhecida pelo acrônimo de IA. Pelo lado eufórico, vislumbram-se inúmeras oportunidades de avanços, que vão desde escrever textos para seus posts no Instagram até planejar investimentos seguros. Pelo lado histérico, teme-se que a máquina vá substituir os humanos em diversas tarefas, causando um aumento na fila do seguro-desemprego (que, eventualmente, poderá ser atendida por uma IA).

O Apocalipse de Asimov ainda está longe de ser uma realidade, mas é certo que algumas tarefas deixarão de ser feitas por humanos, em especial as repetitivas que, em última análise, ninguém gosta mesmo de fazer. Mas a pergunta que não cala é: até onde as IAs podem ir? Qual é o limite, se é que há, para o trabalho realizado por inteligências artificiais?

Em questões de tecnologia, é sempre difícil prever qual é o teto. Porque faz parte da evolução ultrapassar as fronteiras, às vezes além do que se imaginava. E a tecnologia da informação está em uma espiral de desenvolvimento, com capacidade de processamento e armazenamento maiores a cada dia. E a IA vive de processar e armazenar. Essa é, aliás, a grande diferença entre uma máquina comum, como uma engarrafadora, e uma inteligência artificial. A máquina repete a mesma tarefa infinitamente, sempre da mesma forma. Ela “aprende” cada vez que realiza a tarefa, acumulando informação e alterando sua própria atuação de acordo com o que aprendeu.

É por isso que os robôs de hoje conseguem fazer coisas assombrosas como escrever um texto que se pareça com algo criado por Fernando Pessoa ou Clarice Lispector – dois dos autores mais falseados da web. Ou até mesmo criar trabalhos escolares e acadêmicos, sem que seja necessário o input de pesquisas extensivas. Como a IA não só escreve, mas também desenha e pinta, há quem ache que as velhas duplas de criação da publicidade em breve serão substituídas por um bom processador e uma tela de alta definição – que finalmente entregarão os trabalhos no prazo.

Na parte de games, a inteligência artificial já está presente há muito tempo, com o intuito de incrementar a jogabilidade e a experiência do usuário. O próximo nível, porém, promete jogos “mutantes”, que se modificam conforme as ações do jogador. Imagine um chefe de fase que “aprenda” seus golpes mais manjados, e contra-ataque; ou um jogo de mundo aberto que analise seu padrão de comportamento e ajuste os desafios, para torná-los mais difíceis. Em teoria, o computador poderia aprender continuamente, até ser impossível ganhar dele.

Essa experiência do “jogo impossível de ganhar” já aconteceu no passado, quando a IA ainda engatinhava. Os cientistas investiram bom tempo e dinheiro para fazer um computador vencer um campeão no jogo de xadrez. No começo, os humanos ganhavam todas. Mas, com o tempo, a IA aprendeu, e hoje as máquinas estão à frente. Seja oficialmente ou por baixo dos panos, como sugeriu o pentacampeão mundial Magnus Carlsen depois de perder uma partida para Hans Niemann.



A inteligência artificial pode se complicar na hora que se depara com os chamados problemas de informação imperfeita. São aqueles em que algumas variáveis não estão disponíveis, como em um jogo de poker no estilo Texas Hold´em. Sem todos os números para considerar, ela tem que calcular milhões de probabilidades para tomar uma decisão, sem garantias de que é a melhor. Junte-se a isso o blefe, algo muito humano, e o cenário fica ainda mais complicado. Os programadores vêm quebrando a cabeça para tentar achar um jeito infalível de vencer no poker, mas não adianta processar e armazenar quando faltam peças do quebra-cabeça.

Então talvez aqui esteja o limite da inteligência artificial – a imperfeição. E, por imperfeito, entende-se algo em que falta uma parte ou, ao contrário, que há em excesso. Em um mundo cada vez mais pasteurizado, normatizado e esterilizado, a rebeldia da imperfeição, ainda que involuntária, parece ser o grande bug que a IA não sabe resolver. Ou será que sabe?

Foto Destaque: Reprodução

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