Conselho adia votação sobre usina que pode derrubar a internet

Alexandre Kenzo Por Alexandre Kenzo
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A reunião do Conselho Estadual do Meio-Ambiente (Coema) prevista para esta quinta-feira (19), que votaria por aprovar ou não a usina de dessalinização proposta para Fortaleza, foi adiada. Até o momento, a Superintendência Estadual do Meio-Ambiente (Semace) não divulgou o motivo do adiamento.

Desde o mês passado, as discussões em torno do projeto de usina tem aumentado devido à oposição por parte de grandes operadoras telefônicas, que apontaram o risco que tal construção poderia trazer para a internet no país inteiro. Isso porque é justamente no local, a Praia do Futuro, que se encontram os cabos submarinos de fibra ótica que conectam o Brasil ao resto do mundo.

A obra pode gerar apagão de internet no país, porque não está se colocando uma usina onde tem um cabo, mas onde tem um hub todo!“, afirmou Luiz Henrique Barbosa, presidente executivo da TelComp, entidade que representa as operadoras e data centers nacionais, pondo ênfase em como tal estrutura de Fortaleza – composta por 17 cabos no total – é o que garante a conexão brasileira à internet.


Usina de remoção do sal da água do mar em Fortaleza: o fio verde representa a estrutura da usina; e os laranja, cabos de fibra ótica que garantem fornecimento de interne

Ilustração em que o fio verde representa a estrutura da usina; e os laranja, cabos de fibra ótica. O mais próximo estava a uma distância de 40 metros, antes das mudanças ao projeto. (Foto:Reprodução/g1)


Mudanças ao projeto

A iniciativa governamental teria como objetivo remover o sal da água do mar e assim aumentar a oferta de água potável à população local da Grande Fortaleza em 12%. Segundo a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece), responsável pela usina, o temor das operadoras já não seria mais fundamentado após as revisões feitas, incluindo o aumento da distância entre a infraestrutura e os cabos de 40 para 500 metros. Com isso, a empresa considera que qualquer risco de afetar os serviços de internet pode ser descartado.

A nosso ver, isso está totalmente resolvido, não vamos trazer nenhum risco, buscamos a conciliação,” afirmou Neuri Freitas, diretor-presidente da companhia. “A gente acha que não há esse risco já que no continente todos os cabos cruzam com alguma estrutura, como rede de gás, de energia e diversas outras estruturas.

Por outro lado, alguns empresários do setor e pesquisadores discordam, apontando que pelo fato de a usina gerar movimento no fundo do mar (assoalho), o risco de danificação dos cabos estaria presente em toda a atividade da dessalinizadora.

A usina vai puxar água do assoalho oceânico para tirar o sal. Essa sucção vai alterar o fundo do mar, mudando a topografia da região,” afirmou Yuri Victor Lima de Melo, professor de Engenharia da Computação na Universidade Federal do Ceará (UFC). “E, mudando a topografia, os cabos vão se movimentar, o que também pode causar o rompimento de algum deles.


Ilustração da torre de captação da usina, no fundo do mar.

Ilustração da torre de captação da usina, no fundo do mar. (Foto:Reprodução/SPE Águas de Fortaleza)


Funcionamento da usina

Tal preocupação provém do modo como essa usina funcionaria. É possível esboçar um modelo de acordo com as seguintes etapas:

  • Primeiro, a usina capta a água no fundo do mar: No fundo do mar da Praia do Futuro, se encontram as tubulações e a torre de captação. A pouco mais de um quilômetro da costa, com torre submersa a 14 metros de profundidade, a água é captada, próxima do solo, e então levada para a estação de tratamento. Esta é a etapa com que os críticos do projeto mais se preocupam.
  • Segundo, remove o sal: Já dentro da usina, a água do mar é pressionada contra membranas semi-permeáveis, que barram a passagem das moléculas de sal. Assim, são criadas duas soluções: água de um lado, e sal do outro. Tal etapa é complexa e compreensiva, necessitando da criação da usina para operar em escala adequada.
  • Finalmente, distribui a água potável: Saindo da usina, a água sem o sal é levada para uma central da Cagece, para ser distribuída para casas e estabelecimentos. O sal, separado, volta ao mar.

Foto Destaque: Usina de dessalinização, já adiada para 2026, agora pode ter ainda mais atrasos. Reprodução/Cacege

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