Chegou na última sexta-feira (22) em Brasília uma carta do novo presidente da Argentina, Javier Milei, cujo conteúdo foi revelado por fontes do governo brasileiro: a negação da entrada do país no Brics, bloco de países emergentes que atua como uma aliança geopolítica.
“Algumas decisões tomadas pela gestão anterior (do ex-presidente Alberto Fernández) serão revisadas,” escreveu Milei, não somente ao Brasil, mas também aos outros países integrantes do Brics. “Entre elas, encontra-se a criação de uma unidade especializada para a participação ativa do país (Argentina) no Brics.“, complementou.
No documento, Milei explicita que a adesão não é considerada “oportuna” pela sua nova política. O governo brasileiro, segundo fontes ouvidas pela GloboNews, disseram que se tratou de um posicionamento recebido com “zero surpresa”, uma vez que o presidente da Argentina já havia indicado desde sua campanha eleitoral que não planejava integrar no bloco.
Carta argentina negando convite para aderir ao Brics. (Foto:Reprodução/g1)
Política de Milei
De forma mais explícita, Milei anunciou na campanha para presidente que seu “alinhamento geopolítico é com os Estados Unidos e com Israel. Nós não vamos nos alinhar com comunistas.“
Trata-se de uma das facetas da política de Milei, que é considerada em geral libertária, de direita, e desreguladora. Autodenominado “anarcocapitalista,” o líder do partido La Libertad Avanza possui várias propostas polêmicas, como a criminalização do aborto, o fim da educação obrigatória, e a legalização da venda do órgãos humanos.
Em grande parte, as suas medidas ideológicas tem causado fricção com o sistema político argentino, no qual seu partido é minoria tanto no número de deputados quanto de senadores. Entre os decretos mais controvérsos até o momento, estão o Decreto de Necessidade e Urgência (dispensa mais de 5 mil funcionários públicos), a “Lei Ómnibus” (concentra poder no presidente ao decretar estado de emergência), e o Plano Motoserra (cortando vários subsídios, como os de energia e transporte).
O resultado disso é uma elevada crise interna, a qual tem gerado protestos com milhares de pessoas em Buenos Aires. Pela duração do mandato presidencial, a postura ideológica de Milei garante que a Argentina muito provavelmente não integrará no Brics no futuro próximo.
Localização geográfica dos países convidados a integrar no Brics. (Foto:Reprodução/Arte g1)
Brics
Atualmente os países que compõem o BRICS são: Brasil, Rússia, Índia, China, e África do Sul (South Africa), respectivamente dos quais o bloco deriva cada letra na sigla. No entanto, é possível que essa composição mude em 2024.
Apesar da rejeição da Argentina de Milei, outros países foram convidados à integração no bloco como forma de ampliar sua influência coletiva. Entre eles, estão: Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, e Irã.
Os convites foram lançados em agosto desse ano, na última reunião de cúpula em Joanesburgo, e se os países convidados cumprirem certas condições, eles devem passar a integrar no bloco a partir do dia 1º de janeiro de 2024.
Foto Destaque: O presidente argentino, Javier Milei. Reprodução/REUTERS/Agustin Marcarian