Semaglutida é cada vez mais usada como forma de emagrecer

Fernanda Eirão Por Fernanda Eirão
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Foto destaque: a semaglutida, princípio ativo do medicamento Ozempic, é usado temporariamente por pessoas querendo emagrecer (Reprodução/Veja)

O medicamento Semaglutida vem sendo usado por muitas pessoas para ajudar a tratar da obesidade e foi visto como uma das grandes revoluções científicas no ano passado pela renomada revista Science. Mas o remédio também passou a ser usado por quem perder poucos quilos, levando à automedicação sem total ciência dos efeitos no corpo.

O que é a Semaglutida

O medicamento foi criado na Dinamarca e começou a ser vendido no Brasil em 2019 para tratar a diabete tipo 2. Devido aos bons resultados observados na perda de peso, o remédio passou a ser recomendado para pacientes com obesidade. 

Segundo Maria Edna de Melo, endocrinologista do Hospital das Clínicas da USP, a Semaglutida é semelhante ao hormônio GLP1, que é produzido no intestino após uma refeição. “Então ele vai no estômago, segura um pouco mais a comida lá, então isso dá uma sensação de saciedade”, explica a médica. Ela também esclareceu que a Semaglutida é diferente dos medicamentos mais antigos, que agiam via serotonina e noradrenalina, que poderia impactar o humor e a frequência cardíaca dos usuários.

De acordo com o endócrino Bruno Halpern, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (Abeso), a Semiglutida consegue perdas médias de peso inéditas acima de 15%, enquanto os mais antigos chegavam a apenas 10%.


semaglutida é usada para emagrecer
A caneta de semiglutida é indicada para pacientes com obesidade, uma doença crônica. Mas quem quer uma solução rápida de emagrecimento, também usa o medicamento. (Foto: reprodução/Endocrinologistadramelissa)

O sucesso mundial fez com que a Novo Nordisk, a farmacêutica que inventou o medicamento, virasse a empresa mais valiosa da Europa, destronando a marca de luxo Louis Vuitton. “Vale 480 bilhões de dólares. O PIB da Dinamarca sem a indústria farmacêutica, teria sido menos 0,5% nos primeiros 9 meses de 2023 e o PIB cheio total foi 1,3% para cima, uma diferença muito grande”, diz o Gustavo Campanhã, gestor de ações e sócio da WHG.

A projeção é de aumento no uso do medicamento, apesar de seu custo elevado. No Brasil, o medicamento custa cerca de R$ 1 mil. Um estudo de uma empresa global de serviços estima que até 2035, o medicamento será usado por 7% da população norte-americana. Essas pessoas também passarão a comer bem menos alimentos com alto teor de açúcar e gordura. 

Riscos e uso no Brasil

A famosa “canetinha” virou uma das grandes aliadas daqueles que querem perder medidas. O remédio ajuda na saciedade, ajudando a pessoa a comer menos. “Como um pedacinho de chocolate, já fico satisfeita, uma cervejinha também. Eu notei nas redes sociais algumas influenciadoras que também estavam perdendo peso com dieta, com academia, mas que era um período meio curto, então eu desconfiei que também fizessem o uso do medicamento”, conta Natacha, jovem de 29 anos do interior de São Paulo que faz uso da Semaglutida.

Em 2021, ela foi o remédio mais vendido no país, de acordo com a Associação de Indústria Farmacêutica de Pesquisa. Recentemente, a Anvisa identificou lotes falsos das canetas no mercado. 

Nas redes sociais existem diversas propagandas, de influencers, pessoas comuns e inclusive de farmácias. Como o medicamento pode ser comprado sem receita, muitas pessoas se automedicam e ensinam umas às outras como fazer as aplicações na internet.

Para muitos que sofrem de obesidade, os médicos prescrevem uso contínuo. Mas hoje, pessoas que querem perder dois ou três quilos fazem uso temporário do remédio. “Elas acabam utilizando muitas vezes de forma inadequada e levando ao aparecimento de efeitos colaterais mais intensos, como náusea, até vômitos”, explica Maria Edna de Melo.

A dermatologista Maria Fernanda Guazzelli relata uma história parecida, com uma paciente que quase não conseguia beber água devido aos efeitos decorrentes da automedicação em excesso. “Nas últimas semanas, eu não passo um único dia sem que uma paciente venha reportando que, depois do uso dessas medicações, notou como se fosse esse derretimento. Uma perda muito rápida de peso. Ele perde compartimentos de gordura tanto de corpo quanto de rosto. E a gordura, para nós, é um tecido importante de sustentação da pele. São queixas relacionadas à flacidez de pele”, conta a dermatologista. É o famoso “rosto de Ozempic”, que faz com que a pessoa perca colágeno e elastina, resultando numa pele mais flácida e com propensão a rugas.


Muitos frequentadores de academias recorrem ao medicamento para acelerar os resultados (Foto: reprodução/Freepik)

Uma academia em São Paulo disse que há diversos alunos que usam o medicamento. “Aproximadamente, 6 a 7 alunos em cada 10 estão utilizando a caneta, especialmente durante o verão ou quer tomar para o Carnaval. Outros para um casamento, e até mesmo noivas expressam o desejo de estar magras. É importante para mim entender o que você está fazendo para entender. Já tive alunas que não comunicaram o uso e acabaram passando mal”, segundo o dono da academia.

O remédio foi aprovado pela Anvisa e é considerado seguro, mas não há estudos apontando os riscos em pessoas que querem perder pouco peso. E ainda há o risco do medicamento ficar em falta para quem realmente precisa. 

De acordo com o endócrino Bruno Halpern, quem utiliza o medicamento de forma temporária, vai acabar voltando aos hábitos alimentares antigos e a engordar, fomentando a ideia de usar o medicamento a longo prazo. Isso vai criar uma dependência da medicação e frisa que essa dependência não é física, mas psicológica.

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