Em um recente estudo publicado na revista científica eLife,os cientistas de Cambridge, no Reino Unido, conseguiram rejuvenescer células da pele humana em até pelo menos 30 anos. Mesmo ainda estando numa fase inicial das pesquisas, esse projeto é visto como um avanço nos assuntos científicos. Para explicar melhor como foi produzido esse estudo, o professor especialista em Hematologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e membro do Centro de Terapia Celular da USP, Rodrigo Calado, examinou o funcionamento dessa tecnologia.
Segundo Calado, essa tecnologia já existe desde a clonagem da ovelha Dolly, quando alguns cientistas escoceses conseguiram colocar um núcleo de célula madura da glândula mamária de uma ovelha dentro do citoplasma. “Eles retiraram o núcleo recém-fecundado e dentro da célula sem núcleo, eles aplicaram o núcleo de uma célula madura. Dessa forma, os cientistas mostraram que o DNA da célula “velha” podia voltar no tempo e assim assumia as características de uma célula embrionária, podendo originar um novo organismo inteiro”.
Anos depois, o cientista japonês Shinya Yamanaka, encontrou quatro proteínas atuantes no controle do DNA, chamadas de fatores de transcrição. “Quando você introduz essas quatro proteínas no núcleo de uma célula qualquer, elas podem reprogramar o DNA da célula, chegando a um estado chamado de pluripotência. Esse estado que é embrionário, permite que a célula possa dar origem a qualquer tipo de outras células.”, conta Rodrigo.
Foto: Rosto de mulher rejuvenescendo/Reprodução: 1NEWS
Todo esse processo carrega uma série de alterações nas células para assim, elas podem perder suas cicatrizes, que a acometem ao longo do tempo. O professor diz que: “Esse processo seria como passar uma borracha nas cicatrizes acumuladas no DNA. O que esses cientistas fizeram foi ver como esses marcadores se relacionam ao envelhecimento de alguma forma e como eles puderam ser apagados durante a reprogramação das células”.
Um dos objetivos deste estudo é amenizar os efeitos de doenças ligadas ao envelhecimento, mas para o professor é cedo para pensar em grandes impactos. “A gente consegue rejuvenescer uma célula, para reprogramá-la e assim deixá-la em pluripotência, mas eu não consigo rejuvenescer o organismo como um todo”, conta Rodrigo.
Para Calado, o envelhecimento está ligado aos processos celulares, então fatores como: desenvolvimento hormonal e acúmulo de cicatrizes e até infecções de pele precisam ser considerados como itens que podem deixar nossa pele mais “velha”. “A gente pode aprender a cuidar melhor dos tecidos e retardar o processo do envelhecimento, mas o próprio organismo precisa ser entendido como um dos reguladores desse processo de envelhecer as células”.
Um dos próximos passos dessa pesquisa, segundo Calado, é tentar produzir órgãos, pois assim um paciente que tem algum “defeito genético”, ele poderá ser corrigido em um laboratório para depois ser feito um transplante e a colocação do órgão já corrigido. Testes em animais como camundongos já estão sendo feitos, mas em humanos ainda vai demorar um pouco.
Foto Destaque: Rosto de mulher rejuvenescido/Reprodução: CLÍNICA BRUNO VARGAS