Nessa segunda-feira (25), Vinicius Jr. participou de uma coletiva de imprensa pela Seleção Brasileira antes do amistoso contra a Espanha na terça (26), às 17h30 (Brasília) no Santiago Bernabéu. Vítima de recorrentes ataques racistas dos rivais espanhóis, Vini respondeu diversas perguntas sobre o assunto, chegando a chorar após falar sobre a luta diária contra o racismo. “Se fosse por mim, eu já teria desistido”, afirmou ele.
Sendo uma das estrelas do Real Madrid e também um dos mais importantes jogadores do Brasil, o protagonismo de Vini Jr. para o amistoso é evidente. Além da importância técnica como atacante, Vinicius tem se mostrado um dos mais relevantes atletas no que diz respeito ao combate ao racismo. Após diversos ataques sofridos dentro e fora de campo, Vini Jr. tem se posicionado pela luta antirracista constantemente.
O slogan “Uma só pele, uma só identidade” foi utilizado no painel da CBF, que também contava com a frase “Racismo é crime” repetidas vezes em meio aos patrocinadores. Sendo protagonista do jogo por diferentes motivos, Vinicius JR. falou por cerca de 40 minutos no CT do Real Madrid. Confira os principais pontos abordados:
Insultos racistas
Vinicius lamentou os ataques que vem sofrendo das torcidas adversárias, mas pontuou que o racismo sofrido por todos os negros no mundo é diário. “O racismo verbal é minoria perto de tudo que os negros sofrem no mundo”, disse o atleta. Também pontuou a dificuldade que seu pai teve para conseguir emprego pelo fato de ser negro. Vinicius disse se sentir sozinho após ter feito várias denúncias que não geraram punições. “Ninguém é punido, nenhum clube é punido”, afirmou. Ainda falou sobre lutar não só por ele, mas por “todas aquelas pessoas que vão vir”.
“Se fosse apenas por mim ou pela minha família, eu acredito que eu já teria desistido de tudo que eu venho lutando. A cada dia que eu vou para casa, eu fico mais triste, mas eu fui escolhido, como você falou, para defender uma causa tão importante. Que a cada dia eu estudo mais sobre, eu venho aprendendo para que, no futuro bem próximo, meu irmão, que tem cinco anos, não venha a passar por tudo que eu estou passando”, disse Vinicius.
Agradecimentos e cobranças
Vinicius agradeceu aos demais jogadores que tem endossado o discurso antirracista, assim como agradeceu as medidas tomadas pela CBF no combate ao racismo nos estádios. Nesse sentido, criticou a imprensa espanhola, que critica suas falhas em campo, porém critica pouco as injúrias raciais sofridas pelo jogador. Vini também pontuou seus estudos sobre a questão e indagou: “Eu venho estudando, tenho 23 anos e sigo estudando. Por que eles, os repórteres daqui da Espanha, que são mais velhos do que eu, não podem estudar? Não podem ver o que realmente está acontecendo? Que cada vez eu estou mais triste, cada vez eu tenho menos vontade de jogar? Mas eu vou seguir lutando”.
Forças para lutar
Ao ser perguntado de onde tira forças para continuar jogando e defendendo o Real Madrid e a Seleção Brasileira, Vini Jr. respondeu que luta por todos que o apoiam e por sua família. Agradeceu os familiares e pontuou que nem todo jogador tem o apoio que ele recebe dos familiares.
Frustrações
Vinicius criticou a impunidade na Espanha em casos como o dele. Segundo o atleta, se os episódios de racismo fossem devidamente punidos pelas autoridades, a tendência seria, pelo menos, que os agressores ficariam calados, mesmo que mudassem de opinião. Também citou o fato de ser ofendido por crianças que sequer entendem o que estão dizendo e a complexidade do assunto.
Luta antirracista x futebol
Ao responder sobre o que seria mais importante para ele, a luta contra o preconceito ou sua carreira no futebol, Vinicius afirmou que a luta é mais importante, visto que existem muitos jogadores, muitos melhores do que ele. De acordo com o jogador, a busca é por um mundo mais evoluído, no qual a população negra possa ter uma vida normal como os demais. “Se fosse por mim, eu já teria desistido”, afirmou. Vinicius não segurou as lágrimas ao discorrer sobre sua concentração diária em meio às agressões.
Visitante no Santiago Bernabéu
Vinicius jogará em seu estádio, porém como visitante, com a maioria da torcida contra sua equipe. Ao falar sobre o assunto, o atacante ressaltou a importância do jogo para as duas equipes e sobre a realização de um sonho, jogar no Santiago Bernabéu com a camisa da Seleção.
Endrick
Vini Jr. elogiou a estreia de Endrick pela Seleção. Como serão companheiros de clube em breve, o jogador do Palmeiras de 17 anos irá para o Real Madrid no meio do ano, Vini tem ajudado Endrick a conhecer a cidade, decidir onde morar entre outras questões. Sobre a questão racial, Vinicius espera que seu colega também tenha calma para lidar com os possíveis ataques e se colocou à disposição para ajudá-lo no que for preciso.
Situação atual de Vini Jr.
De acordo com o jogador, a situação piorou depois que ele passou a se posicionar de maneira mais firme contra o racismo. Como a legislação espanhola não considera o racismo como crime, a Federação Espanhola e a LaLiga pouco podem fazer para punir os responsáveis pelos ataques. Vinicius citou como exemplo a CBF e as leis brasileiras que criminalizam os atos e buscam punir os infratores.