O primeiro brasileiro diagnosticado com a varíola dos macacos está isolado no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, na capital paulista, e contou como está sua rotina depois de contrair a doença. Após o diagnóstico, o homem está em isolamento desde o último dia 6 de junho.
“Eu já contei 60 feridas, mas estou ótimo. Não há motivos para pânico. Eu não vejo a hora de sair daqui para voltar ao trabalho. Aliás, eu já até trabalhei daqui do hospital. ”, afirmou Emílio ao portal G1.
“Não estou preocupado em ser visto como o primeiro brasileiro com varíola dos macacos. Quero poder mostrar às pessoas que estou bem, que fui e estou sendo cuidado por excelentes médicos. Que um momento de dor sirva para a ciência brasileira desenvolver proteção a todos. A melhor proteção é a informação verdadeira. Sou a favor da ciência e aceito participar de pesquisas”, ressaltou.
O homem, de 41 anos, afirmou que apesar dos sintomas presentes no começo, agora não sente mais dores pelo corpo.
“O pior aconteceu ainda em casa. Tudo aquilo que a gente lê na internet: exaustão, febre, cansaço, dor de cabeça, dor no fundo do olho. É muito forte mesmo”, finalizou Emílio.
Brasileiro diagnosticado com varíola dos macacos usa notebook enquanto está isolado no Hospital Emílio Ribas, em SP (Foto: Arquivo pessoal)
Os primeiros sintomas, como cansaço, dor no corpo e algumas coceiras, surgiram ainda no final de maio, dias depois de ele chegar ao Brasil de uma viagem à Europa que fez com a mãe e que durou oito dias. A mãe está bem, sendo monitorada, assim como todas as pessoas que tiveram contato com o paciente.
A confirmação da doença ocorreu na última quinta-feira (9) por meio de uma nota do Instituto Adolfo Lutz.
“A Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo confirmou o primeiro caso de Monkeypox [varíola dos macacos] no Brasil. A confirmação ocorreu pelo Instituto Adolfo Lutz após realização de diagnóstico diferencial de detecção por RT-PCR do vírus Varicela Zoster (com resultado negativo) e análise metagenômica do material genético, quando então foi identificado o genoma do Monkeypox vírus”, disse a nota da pasta.
Além deste caso, a Prefeitura de São Paulo informou que monitora o estado de saúde de uma mulher de 26 anos, sem histórico de viagem ao exterior, hospitalizada com suspeita de ter contraído a doença. Segundo o prefeito Ricardo Nunes (MDB), a paciente passa bem. Familiares e pessoas próximas a ela também estão sendo acompanhados pela gestão municipal.
A secretaria estadual e o Ministério da Saúde também já tinha informado um dia ante que oito casos estão sob análise no País. As suspeitas são nos estados do Ceará, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul e São Paulo, com um caso em cada um e mais quatro, dois em Rondônia e outros dois em Santa Catarina.
Imagem feita por um microscópio mostra vírus da varíola dos macacos (Foto: Cynthia S. Goldsmith, Russell Regnery/CDC/Handout via Reuters)
Onde surgiu a varíola dos macacos?
A varíola dos macacos foi identificada pela primeira vez em 1958 entre macacos de laboratório. O primeiro caso em humanos foi notificado em 1970, na República Democrática do Congo, e desde então a doença tem sido detectada em países nas regiões central e ocidental da África, sendo considerada endêmica lá, ou seja, com incidência relativamente constante ao longo dos anos.
Somente em 2003 a doença foi registrada fora daquele continente —naquele ano, ocorreu um surto nos Estados Unidos entre pessoas que tinham como animal de estimação cão-da-pradaria (um tipo de roedor) e que haviam tido contato próximo com um grupo de animais importados da África.
Quais os sintomas da varíola dos macacos?
A doença começa com febre, fadiga, dor de cabeça, dores musculares, ou seja, sintomas inespecíficos e semelhantes a um resfriado ou gripe. Em geral, de a 1 a 5 dias após o início da febre, aparecem as lesões cutâneas (na pele), que são chamadas de exantema ou rash cutâneo (manchas vermelhas). Essas lesões aparecem inicialmente na face, espalhando para outras partes do corpo.
Elas vêm acompanhadas de prurido (coceira) e aumento dos gânglios cervicais, inguinais e uma erupção formada por pápulas (calombos), que mudam e evoluem para diferentes estágios: vesículas, pústulas, úlcera, lesão madura com casca e lesão sem casca com pele, completando o processo de cicatrização. Vale ressaltar que uma pessoa é contagiosa até que todas as cascas caiam —as casquinhas contêm material viral infeccioso— e que a pele esteja completamente cicatrizada.
Os casos atuais têm apresentado alguns elementos atípicos, como a ausência dos sintomas de mal-estar iniciando o quadro clínico, e também a manifestação do exantema que começa na área genital e perianal e pode não se espalhar para outras partes do corpo.
Como é a transmissão da varíola dos macacos?
A varíola dos macacos não se espalha facilmente entre as pessoas —a proximidade é fator necessário para o contágio. Sendo assim, a doença ocorre quando o indivíduo tem contato muito próximo e direto com um animal infectado (acredita-se que os roedores sejam o principal reservatório animal para os humanos) ou com outros indivíduos infectados por meio das secreções das lesões de pele e mucosas ou gotículas do sistema respiratório.
A transmissão pode ocorrer também pelo contato com objetos contaminados com fluídos das lesões do paciente infectado —isso inclui contato a pele ou material que teve contato com a pele, por exemplo as toalhas ou lençóis usados por alguém doente.
Foto Destaque: Homem diagnosticado com varíola dos macacos. Reprodução: Arquivo Pessoal.