Racismo na área da saúde: Acesso ao tratamento de câncer de mama é desigual para mulheres negras

Julia Cabrero Por Julia Cabrero
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Desigualdades étnico-raciais não são investigadas como deveriam no âmbito da saúde. O descaso começa quando só em fevereiro de 2017, o formulário do SUS não possuía opção do preenchimento raça/cor, o que comprometia analisar esse problema. Preconceitos e motivos socioeconômicos prejudicam o tratamento de pessoas negras contra o câncer. 

Não obstante, a desigualdade racial acontece de forma geral no Brasil. Um exemplo são os níveis de mortalidade materna e por doenças cerebrovasculares, eles são mais elevados entre mulheres pretas brasileiras. Dados disponibilizados pelo SUS, 50% das mulheres negras avaliadas residem em áreas de baixa renda, contra 35% das mulheres brancas.

Na oncologia, os dados de incidência e mortalidade não são apresentados segundo essa estratificação de raça, o que gera outro déficit evidente no sistema de saúde. Mulheres negras possuem menor acesso às ações do plano de controle do câncer de mama. Ademais, o diagnóstico tardio é um dos principais motivos para a menor sobrevida dessas pacientes. O câncer de mama tem bom prognóstico, porém, quando identificado no início. 


Mulher Negra fazendo exame de Mamografia (Foto: Reprodução/Portal Geledés)


Apenas em 2020, um estudo feito pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com base em dados do SUS, indicou que a sobrevida de mulheres negras em casos de câncer de mama é até 10% menor do que entre mulheres brancas. Os dados para a realização dessa pesquisa foram retirados de informações dos bancos de dados do Sistema de Informação Ambulatorial, do Sistema de Informação Hospitalar e do Sistema de Informação sobre Mortalidade.

“Pensamos que seria muito relevante avaliar a sobrevida das mulheres tratadas pelo SUS, em âmbito nacional”, declara a doutora Lívia Lemos responsável pelo estudo. 

A pesquisa durou cinco anos e acompanhou o processo evolutivo de 59.811 mulheres pacientes de câncer de mama, que deram entrada na rede pública de saúde entre 2008 e 2010. A avaliação da sobrevida dessas mulheres foi realizada de acordo com a raça/cor autodeclarada e utilizou como padrão a classificação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divide a cor da pele da população brasileira em branca, preta, parta, amarela e indígena. 


Mulher negra fazendo exame de Toque (Foto: Reprodução/Portal Geledés)


“No início do acompanhamento todas estavam vivas. Com o passar do tempo as mulheres vão morrendo, mas as de cor de pele preta morrem mais rápido do que as brancas”, disse Livia Lemos.

Para a pesquisadora, políticas públicas deveriam ser implantadas para esse setor da saúde. É preciso entender importância do acesso à consultas e a realidade dessas mulheres para que diminua a desigualdade apontada na pesquisa. 

“Se as autoridades sanitárias forem sensibilizadas, é muito importante que considerem a criação de políticas de baixo para cima e que essas mulheres sejam ouvidas e tenham lugar de destaque na criação de estratégias para diminuir essa iniqüidade em saúde“, finaliza a pesquisadora.

Com todas as dificuldades e falta de acesso, esse tema vem sendo discutido cada vez mais pela população. É preciso questionar e ter pessoas especializadas lutando dentro do sistema para enfrentar essa realidade por uma democracia racial brasileira.

 

Foto Destaque: Reprodução/Getty Images/iStockphoto

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