A pandemia gerou muitos traumas para a saúde mental. Os casos de depressão e ansiedade aumentaram nesse período e o reflexo já está na sala de aula com as crianças. Segundo estudos, sete em cada 10 criança relatam sintomas de ansiedade e depressão na pós-pandemia. Professores relatam as dificuldades e a sensação de insuficiencia ao lidar com a situação.
“Temos muitas crianças com sintomas de depressão e ansiedade. Uma aluna chegou a desmaiar na escola e várias vezes a criança sai no meio da aula, no meio da prova, não conseguindo respirar, fica lá chorando, tremendo”, disse uma professora do EMEF Solano Trindade, no Jardim Boa Vista, zona oeste de São Paulo.
Metade dos adolescentes já sentiu a necessidade de pedir ajuda para a saúde mental (Reprodução/Novos Alunos)
Os professores não conseguem diagnosticar os motivos, mas acreditam que é decorrente de todos os casos na pandemia. A professora, que optou pelo anonimato, falou sobre encaminhar as crianças para o psicólogo, mas que muitas vezes não passam do atendimento inicial. O que também gera preocupação é que com a pandemia, muitos pais ficaram desempregados e as famílias estão passando fome, além da falta de atendimento relatada.
“Encaminhamos uma criança que sofreu estupro quando mais nova e a UBS [Unidade Básica de Saúde] respondeu com um documento falando que ela necessita de encaminhamento à psicologia. Mas fala também que eles estão sem psicólogo no núcleo de apoio à saúde da família na unidade e que ela não se enquadra no perfil do Caps IJ [Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenil].”
Em um estudo, realizado pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, em abril desse ano, em parceria com o instituto Ayrton Senna, 69% dos estudantes da rede estadual paulista relataram sintomas de depressão e ansiedade. A pesquisa também detalhou que 5,7% dos estudantes presenciaram violência psicológica com muita frequência e 3,8% afirmam viver com violência física em casa com muita frequência.
“Estou com seis alunas que acham que são trans [transexuais, pessoas cuja identidade de gênero é diferente de seu sexo biológico] e temos relatos de abusos sexuais sofridos pelas crianças”, conta a professora.
A professora também se sente incomodada e frustrada por não conseguir auxiliar os seus alunos nesse período e de que pensam neles até nas férias.
“Eu me sinto bem desesperada, com uma sensação de impotência, sobrecarregada e despreparada. orque é isso: se a única coisa que eles têm sou eu, eu queria conseguir oferecer uma coisa melhor a eles, mas eu não sei como devo agir em algumas situações, então me sinto mal. É horrível uma criança te procurar com uma situação grave como violência e você não fazer nada, porque parece que a escola, enquanto instituição, está aceitando aquela situação. Isso me deixa muito mal. Nas férias, eu estava sonhando com essas crianças”, lamenta a professora.
A professora observa que a relação dos alunos mudaram nesse período. É mais difícil ter um relacionamento próximo com o amigo e são diversos motivos para esse sofrimento: mortes na família, país se separando, falta de comida em casa, violência familiar são coisas que as crianças não sabem lidar.
Um levantamento da OMS apontou que o Brasil é o país com o maior índice de ansiosos no mundo (18 milhões de pessoas) e o terceiro maior de depressivos (11 milhões), atrás de Estados Unidos e Austrália.
Foto destaque: Criança olhando para a janela. Reprodução/Envalto Elements