Ronnie Lessa, réu pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes em 2018, declarou em depoimento que teria recebido a promessa de R$ 25 milhões para realizar o crime. A alegação representa uma reviravolta importante no caso, pois levanta a hipótese de que Lessa poderia ter atuado sob encomenda, uma motivação financeira que sugere o possível envolvimento de mandantes.
“Fiquei cego; minha parte eram R$ 25 milhões. Podia falar assim: era o papa, que eu ia matar o papa, porque fiquei cego e reconheço. Vou cumprir o meu papel até o final, e tenho certeza absoluta de que a Justiça será feita”, lembra o ex-policial.
O ex-policial afirma que optou por confessar o crime e realizar a delação premiada, indicando os outros envolvidos, por não ter a capacidade de voltar no tempo e que, gostaria de diminuir a angústia de todos, assumindo sua parte e apontando os envolvidos no crime.
Protesto contra a morte de Marielle em São Paulo (Foto: reprodução/
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O assassinato de Marielle Franco
O crime aconteceu no dia 14 de março de 2018 e a principal motivação apontada seria política. De acordo com o depoimento de Ronnie Lessa, o assassinato de Marielle teria sido motivado pelo temor de que ela se tornasse obstáculo em dois loteamentos de terrenos realizados pela milícia no bairro do Tanque, no Rio de Janeiro. Segundo ele, os mandantes do crime afirmaram que a vereadora teria se reunido com lideranças comunitárias e feito o pedido de que elas não aceitassem o loteamento feito pelas milícias.
No Rio de Janeiro, milícias controlam atividades ilegais em várias regiões, e Marielle denunciava essas práticas, o que pode ter gerado um desejo de retaliação. Essa teoria é fortalecida pela ligação de Lessa com a polícia e sua possível proximidade com esses grupos.
A trajetória política de Marielle Franco
Nascida em 27 de julho de 1979, mulher negra, cresceu no Complexo da Maré, Zona Norte do Rio de Janeiro. Antes de entrar na política, Marielle trabalhou como pesquisadora em direitos humanos e atuou em organizações que defendiam os direitos das minorias. Se destacou por sua crítica aberta à violência policial nas favelas do Rio de Janeiro, denunciando abusos e excessos cometidos por agentes de segurança. Iniciou sua vida acadêmica no curso de Ciências Sociais, com bolsa integral, pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), posteriormente, realizou mestrado em Administração Pública pela Universidade Federal Fluminense (UFF), com a dissertação “UPP: a redução da favela a três letras”.
Como uma mulher negra, Marielle representava uma perspectiva muitas vezes ausente nas esferas políticas tradicionais. Sua eleição como vereadora no Rio de Janeiro simbolizou a conquista de espaços políticos por pessoas historicamente marginalizadas e a importância da diversidade na política.