O ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou que as declarações do senador Marcos do Val (Podemos-ES), sobre proposta de golpe que teria sido apresentada pelo ex-deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), reforça a “responsabilidade jurídica” do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em atos antidemocráticos.
“Nós temos relatos que vão se somando, sempre mencionando pessoas muito próximas a ele [Bolsonaro]. Estamos diante de um fato novo que fortalece a ideia que, além da responsabilidade política, há cada vez mais indícios conducentes à responsabilidade jurídica do ex-presidente”, explicou, Dino, na última quinta-feira (2).
Senador Marcos do Val. (Reprodução/Waldemir Barreto/Agência Senado)
O senador afirmou, nas próprias redes sociais e à revista Veja, que presenciou, junto com Bolsonaro e Silveira, uma reunião em 9 de dezembro de 2022, em que foi sugerido que do Val gravasse as conversas com o ministro do STF, Alexandre de Moraes, a fim de conseguir uma fala que pudesse comprometer o magistrado, levando a anulação das eleições.
Em entrevista coletiva horas depois, Dino negou que Bolsonaro teria o coagido para participar de um golpe. Bolsonaro teria ficado em silêncio e a ideia da gravação teria sido de Silveira, com medo de voltar à prisão, de acordo com o senador, que falou que negou a participar do plano e comunicou Moraes sobre o evento.
O ministro do STF, nesta quinta-feira, autorizou o interrogatório, pela Polícia Federal, à do Val dentro de cinco dias. Dino, ao falar sobre o episódio, relembrou que a PF encontrou, em janeiro, um “planejamento de golpe de Estado” na casa do ex-ministro da Justiça e ex-secretário da Segurança Pública do DF, Anderson Torres.
“São como tijolos que vão se somando na construção de edifício. Esse edifício já tem materialidade. Qual? Um golpe de Estado. Um edifício em que se arquitetava um golpe de Estado no Brasil. Agora, quem eram os arquitetos, engenheiros e mandantes da construção do edifício? A investigação vai mostrar”, disse, Dino.
O ministro da Justiça também afirmou que “os atos de 8 de janeiro eram a ponta visível do iceberg”, deixando “cada vez fica mais evidente que há um encadeamento lógico nesses vários eventos tendentes à ruptura da democracia”. Dino afirmou que, mesmo não podendo dizer que “todas as pessoas participaram de tudo”, há “muita clareza, muita nitidez, que havia infelizmente um núcleo, inclusive dentro da política, dedicado a rasgar a Constituição e tentar dar um golpe de Estado no Brasil”.
Flávio Dino retornou na quinta-feira (2) ao posto de senador, no qual foi eleito em outubro para o cargo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) o nomeou ministro da Justiça em janeiro deste ano. Dino foi exonerado nesta quarta-feira (1) temporariamente para assumir o mandato e participar das eleições internas da Casa.
Foto destaque: Ministro da Justiça, Flávio Dino. (Reprodução/Metrópoles)