Nesta segunda-feira (26), uma pesquisa divulgada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), mostrou que domicílios que são chefiados por pessoas negras são duas vezes mais afetados pela fome que aqueles lares chefiados por pessoas brancas. Os resultados do estudo foram obtidos pelo recorte de raça e gênero do 2° Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (VIGISAN). De acordo com a pesquisa, a situação se agrava quando uma mulher negra chefia a casa. Nesse sentido, a fome tende a ser maior. A pesquisa aponta, desse modo, que, além de cor, a fome também tem gênero.
Fome atinge duas vezes mais lares chefiados por negros, que brancos (Foto Reprodução:Freepik)
O estudo revela que 60%, de modo geral, dos lares chefiados por pessoas da raça negra, passa por alguma situação de insegurança alimentar. Cerca de 20,6% dos domicílios chefiados por negros são atingidos pela fome. Enquanto, 10,6% dos lares de pessoas brancas são afetados pela mesma situação. Revela ainda que quando os lares são chefiados por mulheres pretas, o problema tende a se agravar, pois cerca de 70% deles sofrem algum tipo de insegurança alimentar. A pesquisa foi realizada presencialmente, entre novembro de 2021 e abril de 2022. Foram consultados 12.745 domicílios de 577 municípios do Brasil. Tanto áreas urbanas quanto rurais, de todas as regiões brasileiras, foram abordadas no estudo.
Os dados mostram que, ainda no Brasil, o racismo estrutural é um problema e permanentemente presente na sociedade. Da mesma forma que a desigualdade de gênero. Kiko Afonso, que é membro da Ação da Cidadania, uma das organizações que apoiou a pesquisa, além de membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, diz que o governo brasileiro precisa intensificar os programas sociais de transferência de renda, assim como propõe que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) investigue a fome no país. “Precisamos da produção constante de dados como estes para poder ter a dimensão real de algo que assola o país”, diz.
Os dados divulgados pelo recorte de raça e gênero da pesquisa do II VIGISAN 2022 mostrou que maior escolaridade também não protege os lares chefiados por mulheres negras da falta de alimentos. Segundo a pesquisa, 33% dessas famílias são atingidas pela insegurança alimentar moderada ou grave e de 21,3% de homens negros, comparado a 17,8% de mulheres brancas e 9,8% de homens brancos. Outro dado revelado pelo estudo é que estar desempregado ou trabalhando informalmente faz surgir também uma diferença no tocante à insegurança alimentar, pois neste contexto, a fome afeta metade dos domicílios chefiados por pessoas negras, comparado com um terço dos lares comandados por pessoas brancas. Já na condição de desemprego, o problema se agrava mais ainda: a fome atinge 39,5% dos lares chefiados por mulheres e por homens negros (34,3%).
Foto Destaque: Negros são duas vezes mais atingidos por fome que brancos. Foto: Reprodução/ Freepik