A revista Resuscitation publicou nesta quinta-feira (14), um estudo com equipes de pessoas treinadas em 25 hospitais da Bulgária, Reino Unido e Estados Unidos que acompanharam médicos até pacientes que estavam tecnicamente mortos. Essas equipes fixaram equipamentos que mediam oxigênio e atividade elétrica na cabeça de quem estava morrendo enquanto os médicos faziam a RCP, que durava entre 23 e 26 minutos.
Os médicos chamam de “experiência de quase morte” quando conseguem fazer uma pessoa que o coração parou de funcionar e a respiração parou, de volta à vida. Isso pode acontecer em qualquer “tipo” de morte, não só em um ataque cardíaco. Segundo Sam Parnia, médico intensivo da NYU Langone Health, que pesquisa a experiência de quase morte há décadas, desde que a RCP – Ressuscitação Cardiopulmonar – foi inventada, em 1960, milhões de pessoas relataram ter passado por essa experiência.
Relatos
Uma destas pessoas foi Aubrey Osteen, um homem de 80 anos que sofreu um ataque cardíaco em dezembro de 2020 e precisou passar por uma cirurgia, e, quando os médicos iam serrar seu peito, ficou consciente. Ele disse que tentou pedir mais anestesia, até que percebeu que não poderiam ouvi-lo, pois não estavam na mesma dimensão.
Osteen relatou que viu seu corpo sair pela caixa torácica e flutuar sob a mesa de cirurgia enquanto os médicos tiravam seu coração e tentavam consertar. Pouco tempo depois, escutou alguém dizer “rins” – seus dois rins fecharam ao mesmo tempo, e aí ele soube que tinha morrido.
O homem relatou que nesse momento passou para o próximo nível, e quando chegou lá, estava na presença de Deus, ou de uma figura poderosa, e que via uma luz mais brilhante do que qualquer coisa que já viu na Terra, mas não era ofuscante. Além dessa figura poderosa, também havia um anjo, que o confortou e disse para Aubrey relaxar que tudo iria ficar bem, e que ele teria que voltar. Osteen, hoje com 82 anos, acredita que foi “ressuscitado” para contar sobre sua experiência.
Pacientes relatam ver luz forte e presença de algo divino em experiências de quase morte. (Foto: reprodução/news.stanford.edu)
O estudo
Sam Parnia estuda a “consciência oculta” da morte, na qual mede a atividade elétrica no cérebro humano quando o coração e a respiração param. O médico diz que os pacientes relatam a mesma coisa: a consciência mais intensa e vivida, o pensamento mais nítido e claro e a sensação de que estão separados do corpo, podendo ouvir e ver a equipe médica, enquanto estes pensam que estão mortos e tentam reanimá-los.
Outro relato dos pacientes é a de “revisão” da vida, momento em que se lembram de acontecimentos, pensamentos e sentimentos que não lembravam e se avaliam, moral e eticamente. Parnia diz que nesse momento eles não podem mais se enganar. Além disso, assim como Aubrey, as pessoas também dizem ver Deus ou “uma incrível forma de amor e compaixão”.
O estudo da revista Resuscitation diz que os cérebros das pessoas que estão passando pela morte ficam estagnados, mas, mesmo assim, após uma hora de reanimação, eles viam picos, que são os surgimentos de atividade elétrica cerebral, e incluíam ondas beta, delta, alfa, gama e teta. Apenas 53 das 567 pessoas do estudo voltaram à vida, 28 dessas foram entrevistadas, 11 estavam conscientes durante a RCP e seis disseram ter vivido uma experiência de quase morte.
Controvérsias
Parnia disse que o estudo não combinou atividade elétrica com a experiência de quase morte no mesmo paciente pois sua amostra não era a suficiente, já que a maioria não sobreviveu. Dos poucos que sobreviveram e tiveram seus eletrocardiogramas legíveis, 40% demonstraram ondas cerebrais que passaram de planas para sinais normais de lucidez. Por fim, Parnia disse que os que sobreviveram têm suas memórias fragmentadas ou esquecem o que aconteceu por conta da forte sedação. “Estamos em território desconhecido. E o principal é que não são alucinações. Esta é uma experiência real que emerge com a morte”, concluiu.
Foto destaque: pacientes relatam “sair do corpo” em experiências de quase morte. Reprodução/VoltaAoSupremo