Crise no Goiás: Mancini e Andrino deixam o clube em meio à queda na Série B

Após sequência de resultados ruins e pressão da torcida; o Esmeraldino promove mudanças profundas na gestão e busca reação nas rodadas finais da Série B

13 out, 2025
Treinador vagner Mancini | Reprodução/Getty Images Embed/Buda Mendes
Treinador vagner Mancini | Reprodução/Getty Images Embed/Buda Mendes

O clima no Goiás Esporte Clube azedou de vez. Depois de um início promissor na Série B, o time goiano mergulhou em uma fase turbulenta que culminou em duas demissões importantes. No intervalo de menos de 24 horas, o Esmeraldino anunciou as saídas do diretor de futebol, Lucas Andrino, e do técnico Vagner Mancini. As decisões, tomadas após mais um tropeço fora de casa, evidenciam o momento delicado de um clube que chegou a liderar a competição, mas agora corre o risco real de sair do G-4.

O primeiro a deixar o cargo foi Andrino, na manhã de domingo (12), um dia depois do empate em 1 a 1 com o Athletic, em Minas Gerais. O dirigente vinha sendo alvo de duras críticas da torcida e estava no clube desde o início de 2024. Na segunda-feira (13), foi a vez de Mancini ser desligado. O treinador resistiu a pressões anteriores, mas o empate diante do Athletic, somado à sequência de cinco jogos sem vitória, tornou insustentável sua permanência.

Com as saídas, o Goiás encerra um ciclo que parecia promissor meses atrás. Mancini foi contratado em abril para substituir Jair Ventura e acumulou 14 vitórias, 11 empates e 8 derrotas em 33 partidas, totalizando 53,5% de aproveitamento. Apesar do vice-campeonato na Copa Verde e do bom início na Série B, o rendimento despencou no returno, deixando o torcedor frustrado e o clube pressionado às vésperas do desfecho da temporada.

Desempenho em queda livre e pressão crescente

O Goiás é o retrato de um time que perdeu o rumo na fase decisiva da competição. O empate diante do Athletic ampliou o jejum para cinco jogos sem vencer — um retrospecto de quatro empates e uma derrota. Antes disso, o time já vinha em declínio: em nove partidas recentes, venceu apenas uma.

Depois de encerrar o primeiro turno na liderança, com 37 pontos em 19 jogos, o Esmeraldino viu a gordura acumulada se dissolver rapidamente. No returno, o rendimento despencou para 38,5% de aproveitamento, com apenas três vitórias em 13 partidas. Foram 12 gols marcados e 14 sofridos nesse período — números que escancaram a perda de eficiência tanto no ataque quanto na defesa.

A derrocada refletiu diretamente na tabela. A seis rodadas do fim da Série B, o Goiás caiu para a quarta colocação, com 52 pontos, e corre sério risco de sair do grupo de acesso. A Chapecoense, quinta colocada com 50, ainda jogaria nesta terça (14) e poderia ultrapassar o time goiano em caso de vitória sobre o Botafogo-SP.

O confronto entre as equipes, no domingo (19), na Serrinha, promete clima de decisão. Mais do que um simples duelo direto, será um teste de nervos para um elenco pressionado e um clube em reconstrução após as demissões.


Diretor de futebol do Goiás, Lucas Adrino, vestindo uma camisa polo preta com o escudo do Goiás

Lucas Andrino, diretor de futebol (Foto: reprodução/Rosiron Rodrigues/Goiás EC)

Torcida perde a paciência e protesta na Serrinha

A pressão que derrubou Andrino e Mancini vinha crescendo há semanas. Na última quarta-feira (8), o estádio Hailé Pinheiro, a Serrinha, amanheceu pichado com frases de protesto: “Série A é obrigação”, “Fora Andrino”, “Fora Mancini” e “Mercenários”. As mensagens, endereçadas à diretoria e ao elenco, escancararam a insatisfação da torcida com a queda de rendimento.


Muro pichado pela torcida do Goiás

Frase de protesto escrito pela torcida do Goiás (Foto: divulgação/X/ge)

O estopim ocorreu após a derrota por 2 a 1 para o CRB, em casa, pela 31ª rodada. Durante a partida, os torcedores já davam sinais de revolta: vaias ecoaram nas arquibancadas, e gritos de “olé” acompanhavam a troca de passes do time adversário. Ao apito final, a impaciência se transformou em cobrança aberta por mudanças.

Funcionários do clube agiram rapidamente para apagar as pichações, mas o gesto simbólico da torcida deixou claro que a paciência havia se esgotado. Mesmo assim, à época, Andrino tentou defender o treinador:

“Desde que cheguei, sempre tomamos decisões com diálogo e posicionamento de todas as partes. Acredito no acesso e no trabalho da comissão técnica”, afirmou o dirigente em coletiva, dias antes de ser demitido.

A confiança, no entanto, não resistiu à sequência de tropeços e ao risco iminente de o clube perder o acesso que parecia garantido no primeiro turno.

Desafio final: reagir ou ver o sonho escapar

A reta final da Série B reserva um caminho árduo para o Goiás. O time enfrentará seis adversários diretos pelo acesso: Chapecoense, Criciúma, Athletico, Cuiabá, Novorizontino e Remo. Cada ponto perdido pode custar o retorno à elite.

Segundo cálculos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Esmeraldino tem 37,7% de chances de subir, o quinto maior índice da competição — mas o número é preocupante para quem esteve no topo há poucas semanas.

Com um novo comando prestes a ser anunciado, o clube precisa de respostas rápidas. A confiança do torcedor está abalada, e o clima interno exige reestruturação imediata. O Goiás, tradicional e acostumado a disputar a Série A, vê o tempo se esgotar. Se quiser transformar a turbulência em reação, precisará resgatar o espírito competitivo que o colocou entre os líderes no início do campeonato.

As próximas rodadas serão mais do que decisivas: serão um teste de caráter para um clube que, entre altos e baixos, ainda luta para provar que a queda de rendimento não é sinônimo de fracasso. O desafio agora é devolver à torcida o orgulho que, por ora, parece ter ficado no primeiro turno.

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