As consequências da crise hospitalar no Afeganistão

Alice Cassimiro Por Alice Cassimiro
4 min de leitura

A saúde pública no Afeganistão se encontra em estado de calamidade, e o que nunca foi satisfatório, tornou-se ainda mais complicado desde que a ajuda financeira vinda do exterior foi congelada em 2021, quando o grupo extremista Talibã assumiu o poder.

O país encontra-se em alerta devido a falta de diversos recursos hospitalares, como tubos e máscaras de oxigênio, remédios e ventiladores, o que está acarretando num grande número de mortes, em sua maioria, de crianças.

Segundo a Unicef, diariamente, cerca de 167 crianças morrem no Afeganistão de doenças das quais poderiam e deveriam se recuperar facilmente se tivessem o tratamento correto. O número choca, apesar de ser apenas uma estimativa.

Além disso, quando adentramos a ala pediátrica do hospital principal do oeste do país, na província de Ghor, questionamos se esse número não é subestimado, haja vista que, diversos quartos estão repletos de crianças doentes, pelo menos duas em cada cama, em sua maior parte com pneumonia. E apenas duas enfermeiras cuidam de 60 crianças.


Mães com seus filhos em hospital do Afeganistão. (Foto: Reprodução/ BBC)


A situação tem se tornado ainda mais difícil para a operação das agências humanitárias desde a recente proibição pelo Talebã do trabalho das mulheres em ONGs (organizações sem fins lucrativos), aumentando a quantidade de crianças e bebês em risco no país.

Enfermeiras relatam, em profunda tristeza: “Não temos equipamento e existe falta de funcionários especializados, especialmente mulheres” e complementa: “Quando cuidamos de tantas crianças em condições graves, quem devemos examinar primeiro? Não há nada que possamos fazer, a não ser ver os bebês morrerem “.

Tudo o que é visto em Ghor traz sérias questões sobre os diversos fatores que levaram a saúde pública no Afeganistão ao declínio em um período tão curto de tempo, depois que bilhões de dólares foram enviados pela comunidade internacional por cerca de 20 anos, até 2021, trazendo à tona um questionamento geral: Para onde foi todo aquele dinheiro?

Atualmente, existe um mecanismo de emergência no qual o dinheiro não pode ser oferecido diretamente para o governo do Talebã, que não é reconhecido internacionalmente. Por isso, as agências humanitárias passaram a financiar os salários dos funcionários médicos e custos com remédios e alimentação.

Esse financiamento permite que hospitais como o de Ghor se mantenham apenas funcionando, entretanto, este dinheiro, que já não é suficiente, pode também estar ameaçado.

As agências alertam que seus doadores podem reduzir o financiamento devido às restrições vindas do Talebã referente ao trabalho das mulheres, incluindo a proibição de que mulheres afegãs trabalhem para ONGs e para as Nações Unidas, violando o direito internacional.

Até o momento, apenas 5% dos pedidos de recursos das Nações Unidas para o Afeganistão foram atendidos.

Não há maneiras de contar quantas crianças já morreram e poderão vir a morrer, mas as evidências da enorme crise que existe no Afeganistão estão por toda parte.

 

Foto destaque: Criança em hospital no Afeganistão. Reprodução: © Sayed Bidel/UNICEF. 

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