O vice-presidente da República, Hamilton Mourão (Republicanos), defendeu nesta quinta-feira (14), em tom de deboche, a compra de 35 mil comprimidos de Viagra pelas Forças Amadas, remédio geralmente utilizado para tratar disfunção erétil.
Mourão disse ainda que as críticas são “exageradas”, relativizou o uso do medicamento dentro da caserna e argumentou que grande parte da verba destinada à compra sai de um fundo alimentado por descontos nos salários dos militares.
“Eu não posso usar o meu Viagra, pô? O que são 35 mil comprimidos de Viagra para 110 mil velhinhos que tem [disfunção erétil]? Não é nada”, justificou o general, em entrevista aos jornalistas Fabio Murakawa e Fernando Exman, do Valor Econômico.
A compra de mais de 35 mil unidades do remédio foi revelada na segunda-feira (11), após o deputado federal Elias Vaz (PSB-GO) pedir explicações ao Ministério da Defesa sobre a aquisição. Na licitação, que consta de dados do Portal da Transparência e do Painel de Preços do governo federal, o medicamento aparece com o nome de “sildenafila”, um genérico do Viagra.
O Ministério da Defesa afirma que o medicamento é indicado pela Anvisa para tratamento de Hipertensão. (Foto: Reprodução/Montedo.com)
As unidades da droga compradas pelas Forças variavam entre 25mg e 50mg. Do total, mais de 29 mil comprimidos foram destinados à Marinha; O Exército recebeu 5 mil doses e a Aeronáutica, 2 mil.
Durante a entrevista, Mourão explicou como funciona a compra de medicamentos pela cúpula das Forças. “Vamos colocar como funciona o sistema de saúde do Exército: um terço é recurso da União, que é o chamado fator de custo, é a contrapartida da União para os militares. E dois terços é o fundo de saúde que é bancado pela gente”, pontuou.
“Eu desconto 3% do meu salário para o fundo de saúde. E todos os procedimentos que eu faço a gente paga 20%, além dos 3% que ele desconta. Nós temos farmácias. A farmácia vende medicamentos. E o medicamento é comprado com recursos do fundo”, acrescentou o general.
Procurado pela In Magazine, o Ministério da Defesa afirmou que o medicamento é indicado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o tratamento de Hipertensão Pulmonar Arterial (HAP) e que os processos de compra das Forças Armadas são “transparentes e obedecem aos princípios constitucionais”.
As Forças Armadas afirmam, oficialmente, que os medicamentos são destinados ao combate à hipertensão pulmonar arterial (HAP) e às doenças reumatológicas.
Compra vira alvo de investigação
O Tribunal de Contas da União (TCU) abriu procedimento na tarde de terça-feira (12) para investigar se houve “desvio de finalidade em compras de 35.320 comprimidos de citrato de sildenafila, popularmente conhecido como Viagra, e a comprovação de superfaturamento de 143%”. O ministro Weder Oliveira será o relator do caso.
Na Câmara dos Deputados, parlamentares também miram a aquisição do medicamento e cobram a instauração de uma CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] para apurar o caso. Quem lidera a coleta de assinaturas para o requerimento é o deputado federal Bira do Pindaré (PSB-MA). Para ser instalada, a comissão precisa de um terço do total dos parlamentares, ou seja, 171 deputados. Até o momento de publicação da reportagem, cerca de 50 assinaturas haviam sido colhidas.
Foto Destaque: Hamilton Mourão, vice-presidente da República. Sergio Lima/AFP