Uma onda de calor intensa no Centro-Sul do Brasil está sendo causada por um fenômeno meteorológico conhecido como “bloqueio atmosférico.” Esse bloqueio impede a entrada de massas de ar frio, resultando em temperaturas acima da média para a região. Além disso, fatores como o El Niño atípico e as mudanças climáticas globais estão contribuindo para a intensificação desse evento climático.
O bloqueio atmosférico está gerando temperaturas significativamente mais altas do que o normal, com previsões de que essas condições persistentes possam aumentar ainda mais nos próximos dias, a partir de sexta-feira (22). O El Niño, que está mais intenso este ano, aquece as águas do Oceano Pacífico e dificulta a chegada de frentes frias no Brasil, reforçando o bloqueio atmosférico e agravando o calor.
O aquecimento global também desempenha um papel nesse cenário, tornando eventos climáticos extremos, como ondas de calor, mais prováveis. A combinação desses fatores resultou em um mês de setembro mais quente do que o usual no Centro do Brasil.
As altas temperaturas já estão afetando várias regiões, com termômetros marcando até 10°C acima da média climatológica. A previsão é de que as temperaturas continuem elevadas, com máximas acima de 40°C em algumas áreas das regiões Centro-Oeste e Norte, bem como no interior de São Paulo.
Mapa de anomalia de aquecimento no Oceano Pacífico que caracterizou o El Niño de 1997/98, um dos mais fortes já registrados. (Foto: reprodução/Divulgação/Nasa).
Fatores que aumentam o calor
O bloqueio atmosférico em curso, embora seja um fenômeno meteorológico comum, está despertando preocupações devido a alguns fatores-chave:
El Niño atípico: O El Niño, mais intenso neste ano, aquece as águas do Oceano Pacífico e tem um impacto significativo no clima brasileiro. Ele reduz a influência das frentes frias, contribuindo para a formação do bloqueio atmosférico.
Aquecimento global: A emissão de gases de efeito estufa devido à queima de combustíveis fósseis é apontada por especialistas como uma causa do aumento da ocorrência de eventos climáticos extremos, como ciclones e enchentes. O aquecimento global também é responsável por tornar ondas de calor, como as recentes na Europa, mais frequentes e intensas.
Setembro: Este mês já é caracterizado por altas temperaturas no centro do Brasil, devido ao final do período seco e ao aumento da radiação solar. Isso contribui para a intensificação do calor durante esse período.
Esses fatores em conjunto estão exacerbando o bloqueio atmosférico atual, resultando em temperaturas acima da média e uma onda de calor persistente na região do Centro-Sul do Brasil.
Meteorologistas como Cesar Soares da Climatempo destacam que as atuais ondas de calor no Brasil são influenciadas pelo fenômeno climático El Niño. Segundo Soares, o El Niño limita a entrada de massas de ar polar, elevando as temperaturas.
Giovani Dolif, meteorologista do Cemaden, ressalta que o atual cenário de El Niño e o aquecimento global indicam a possibilidade de temperaturas acima da média na primavera e verão. Ele aponta que o pico do El Niño é esperado no final do ano e sua influência deve diminuir no meio do ano seguinte.
Em maio, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) alertou para o potencial do El Niño causar recordes de temperatura em 2023. O verão no Hemisfério Norte já registrou temperaturas históricas, indicando um possível recorde global.
O meteorologista Giovani Dolif enfatiza a combinação de dois fatores significativos: o fenômeno El Niño e as mudanças climáticas globais. Ele observa que o planeta está experimentando altas temperaturas, sendo julho o mês mais quente já registrado na Terra, e os oceanos também estão aquecendo.
Embora eventos climáticos extremos sempre tenham ocorrido, os cientistas argumentam que a atividade humana está aumentando a probabilidade de sua ocorrência. Eles afirmam que, sem o aquecimento global, algumas ondas de calor seriam improváveis.
A World Weather Attribution (WWA), uma organização que estuda eventos climáticos globais, destaca a ligação direta entre extremos de temperatura e o aquecimento global, evidenciando que essa relação é mais clara do que a observada em eventos como grandes tempestades ou acumulados de chuva.
As análises da WWA indicam que, sem o aquecimento global, registros recentes, como temperaturas de 40 ºC no Reino Unido e a onda de calor de 2021 na América do Norte, seriam virtualmente impossíveis. Além disso, a mudança climática aumentou em 30 vezes a probabilidade de ondas de calor prematuras e mortais ocorrerem neste ano na Índia e no Paquistão.
Giovani Dolif também aponta que setembro é caracterizado por temperaturas mais altas em grande parte do centro do Brasil. Isso ocorre devido à combinação do término do período seco e ao aumento da radiação solar.
Ele destaca que, no final de junho, quando o inverno começa, a incidência solar é mínima, enquanto o pico máximo de radiação solar ocorre no final de dezembro. Em setembro, a intensidade solar aumenta, e como é o período de encerramento da estação seca, a umidade é reduzida.
Cesar Soares observa que, desde o domingo, as temperaturas em partes das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste estão consideravelmente acima da média climatológica, com um aumento de mais de 5 graus Celsius. Essa condição persistirá, pelo menos, até o final da semana, configurando uma onda de calor na região.
Próximos dias
Segundo as previsões do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), há uma perspectiva de agravamento das condições climáticas a partir de sexta-feira. As temperaturas máximas deverão superar os 40°C em áreas das regiões Centro-Oeste e Norte, incluindo o interior de São Paulo. Na cidade de São Paulo, é esperado que as temperaturas máximas ultrapassem os 35°C a partir da mesma data.
Marcelo Martins, meteorologista do Cemaden, indica que na região, o calor temporariamente diminuirá a partir desta terça-feira, 19 de setembro, devido à presença de nuvens, chuva, ventos e a possibilidade de temporais. Entretanto, na quinta-feira (21), as temperaturas deverão aumentar novamente.
Na cidade de Criciúma, no último dia de agosto, os termômetros atingiram a marca de 40,7°C. Outro registro de calor notável na região ocorreu em Joinville, no mês de agosto, com temperaturas alcançando os 38,7°C.
Foto destaque: Registros do Super El Niño. Reprodução/Metsul.