Após o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu retomar a guerra em Gaza e violar o cessar-fogo com o Hamas, manifestantes protestaram do lado de fora do Knesset, o parlamento israelense, nesta quarta-feira (19). O fim do cessar-fogo acabou com trégua que durava dois meses.
Na Rodovia 1, estrada principal que liga Tel Aviv a Jerusalém, protestantes seguravam uma faixa com a frase “O futuro da coalizão ou o futuro de Israel” em referência às acusações de Netanyahu priorizar a solidez de sua coalizão governamental em vez da segurança de Israel, além dos reféns israelenses e palestinos em Gaza.
Essas acusações foram feitas após Israel bombardear Gaza na madrugada de terça-feira (18) e matar mais de 400 pessoas, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza. Esse foi um dos piores números de mortos em um único dia da guerra.
Primeiro-ministro Benjamin Netanyahu bombardeou Gaza após dois meses de cessar-fogo (Foto: reprodução/Amir Levy/Getty Images Embed)
Para o primeiro-ministro, a retomada do conflito ajudou a fortalecer sua coalizão instável em meio ao andamento de seu julgamento por corrupção e antes de uma importante votação sobre o orçamento de Israel. No entanto, para muitos israelenses, a continuação da guerra traz desespero e desperta sentimentos de raiva com o governo. Para palestinos, é o fim do sossego que durou somente dois meses.
Interrupção do julgamento
Elias Shraga, o presidente do órgão de fiscalização jurídica Movimento para o Governo de Qualidade em Israel, que participou da manifestação do lado de fora do Knesset, disse que o conflito de Israel ainda acontece para que Netanyahu continue no poder. “Netanyahu queria escapar da justiça. Esta é a única razão pela qual estamos enfrentando o golpe de regime e esta guerra sangrenta. Esta é uma mistura perigosa”, disse à CNN.
Netanyahu iria testemunhar em seu julgamento de corrupção na terça-feira (18). A audiência foi cancelada por conta da retomada do conflito em Gaza, algumas horas antes do primeiro-ministro ir ao tribunal. Ele nega qualquer irregularidade.
“Uma razão pela qual ele queria escapar da justiça é porque ele quer manter sua coalizão e está pronto para sacrificar seu povo, é isso. É muito simples”, continuou Shraga, que ainda afirmou que a retomada da atividade militar mostra mais uma vez que o primeiro-ministro “não se importa com os reféns” do Hamas que seriam libertados sob o acordo de cessar-fogo.
“Estamos sacrificando nossos semelhantes neste momento, [enquanto] nosso [primeiro-ministro] vende sua alma”, declarou Shraga. Netanyahu alega que a pressão militar sobre o Hamas é necessária para o resgate de reféns.
Apoio da extrema-direita
O líder da oposição Yair Lapid também participou dos protestos de quarta-feira. Segundo ele, as manifestações tem como objetivo “garantir que o governo entenda que não pode fazer o que quiser”
Com uma fita amarela que simboliza o apoio aos reféns em Gaza, Lapid contou à que os manifestantes estão “tentando dizer às pessoas do mundo que Israel não ficará em silêncio quando eles estiverem tirando nossa democracia”.
Ex-primeiro-ministro e líder da oposição Yair Lapid (Foto: reprodução/Marc Israel Sellem/THE JERUSALEM POST)
O ministro de extrema direita que, contrário ao acordo de cessar-fogo, deixou o governo, parece ter retomado seu apoio a Benjamin Netanyahu. Após o bombardeio sangrento em Gaza, na terça-feira (18), seu partido Poder Judaico anunciou que se uniria novamente à coalizão do primeiro-ministro.
Yuval Yairi, um artista de Jerusalém, relatou à CNN que acredita na existência de razões políticas por trás da retomada dos combates. Ele diz que Netanyahu precisa de seus aliados de direita antes do prazo final de votação do orçamento em 31 de março. Ele crê que a guerra corrói a democracia de Israel.
“Estou muito preocupado com a possibilidade de uma guerra civil. Esta nação está dividida. Às vezes parece que não há saída. As pessoas não acreditam mais na democracia. Elas não acreditam na vida que tínhamos antes de tudo começar. Você vê a divisão: religião de um lado, secularismo do outro. Parece sem esperança”, contou Yairi.
Apoiadores de Netanyahu
Do lado de fora do Knesset também havia grupos apoiadores do primeiro-ministro. Na tenda do “Heroism and Hope Forum”, Margalit Yachad, uma motorista voluntária de ambulância compõe um grupo a favor da guerra contínua em Gaza. Ela acredita que Netanyahu age de acordo com o que é melhor para o interesses do país. “Não sei por que há tanto ódio sobre ele ou a direita. Devemos respeitar o líder primeiro e não dizer coisas horríveis sobre ele, porque o inimigo vê que estamos todos divididos em partes — e não podemos vencer assim”, relatou à CNN.