Contradição nos dados oficiais: relatório do Rio ao STF aponta menos presos em megaoperação do que o anunciado

Relatório da operação contenção diverge de informações iniciais; OAB-RJ e defensoria pública cobram transparência e lista de detidos na megaoperação

05 nov, 2025
Polícias na megaoperação | Reprodução/Getty Images Embed/AFP/ Mauro Pimentel
Polícias na megaoperação | Reprodução/Getty Images Embed/AFP/ Mauro Pimentel

Uma discrepância significativa nos números de detidos durante a megaoperação policial nos complexos da Penha e do Alemão, no último dia 28, colocou em xeque a comunicação oficial do Governo do Rio de Janeiro. No documento encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF), o governador Cláudio Castro informou ao ministro Alexandre de Moraes a detenção de 99 pessoas — sendo 82 em flagrante e 17 com mandados judiciais, incluindo dez adolescentes. Contudo, logo após a ação, as autoridades estaduais haviam divulgado as prisões de 113 suspeitos em coletiva de imprensa.

A Polícia Civil, por meio de nota, tentou justificar a diferença apontando uma “duplicação das informações iniciais”, alegando que alguns indivíduos presos em flagrante já possuíam mandados de prisão expedidos contra eles. A explicação, no entanto, não aplaca a crítica de entidades da sociedade civil. Passada mais de uma semana da megaoperação que resultou em 121 mortes — a mais letal da história do estado —, órgãos como a Defensoria Pública ainda não tiveram acesso à lista oficial com os nomes dos detidos.

OAB-RJ e especialistas cobram transparência

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) manifestou-se por meio de nota, ressaltando a importância do princípio da transparência e a necessidade de ampla divulgação dos dados da Operação Contenção à sociedade e aos órgãos competentes. A entidade, que instituiu um Observatório de Investigações para acompanhar os desdobramentos, afirmou que adotará “medidas cabíveis para a obtenção de informações precisas e consistentes sobre os fatos”.

Em tom crítico, Rodrigo Mondego, coordenador na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, classificou a inconsistência como uma “amostra de como o governo não age de forma profissional”. Ele questionou a falha de registro e apuração, dado o número de agentes envolvidos, incluindo policiais civis, que têm o dever de investigar.


Visita de Alexandre de Mores no RJ para analisar informações da megaoperação (Vídeo: reprodução/YouTube/


Detalhes do Relatório e Desvantagem Bélica

O relatório de 26 páginas entregue ao STF detalha ainda que, dos 99 detidos, 29 são provenientes de outros estados e 17 possuíam mandados de prisão em aberto. Curiosamente, o objetivo declarado da Operação Contenção era capturar cem procurados, um número próximo ao de prisões efetivas no documento final. Além disso, entre os 115 suspeitos mortos identificados, 59 possuíam mandados de prisão. No entanto, o governo não esclareceu se estavam entre os alvos prioritários da ação.

O governador Cláudio Castro defendeu o “uso proporcional da força” diante do que classificou como ameaça do Comando Vermelho (CV). O documento enumera táticas de “guerrilha urbana” e uso de “armas de uso restrito” pela facção criminosa contra os 2,5 mil policiais empregados.

O governo admite uma desvantagem bélica das forças de segurança, que estariam limitadas a fuzis 7,62 e 5,56, enquanto os criminosos dos complexos possuiriam um arsenal estimado em 800 a mil fuzis, incluindo armamentos de “altíssima potência” como os fuzis .30 e .50 — que, conforme especialistas, não podem ser utilizados pelas polícias brasileiras. Essa disparidade bélica, somada a elementos como túneis, minas terrestres e drones com capacidade de lançamento de granadas, dificultaria o avanço policial, apesar do planejamento, inteligência e suposto “respeito absoluto à lei”. Por fim, o número de armas apreendidas também apresentou variação, subindo de 118 para 122 no documento final (96 fuzis, 25 pistolas e um revólver), aumentando a lista de inconsistências nos dados oficiais da Operação Contenção.

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