Estudo compara anticoagulantes em doença valvar reumática e resultados surpreendem

Heloisa Santos Por Heloisa Santos
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A Doença Cardíaca Reumática, ou Cardiopatia Reumática Crônica (CRC), causada por lesões nas válvulas e músculos cardíacos, acomete mais de 40 milhões de pessoas no mundo e geralmente é decorrente de febre reumática, especialmente em países de baixa renda per capita. Para os pacientes diagnosticados com a condição e que apresentam fibrilação atrial (ritmo atrial irregular e rápido) um estudo inédito demonstrou que a varfarina (antagonista da vitamina K — AVK) reduziu os eventos cardiovasculares e a mortalidade, sem aumentar o sangramento, em comparação com a rivaroxabana, medicamento utilizado em pacientes com fibrilação atrial.

Os resultados foram publicados no periódico de maior impacto científico, o New England Journal of Medicine (NEJM), mostrando que o tratamento anticoagulante padrão deve continuar sendo a varfarina. Este foi o primeiro estudo que comparou um DOAC (anticoagulante oral de ação direta) com a varfarina na doença valvar reumática.

No Estudo INVICTUS foram randomizados 4565 pacientes de 138 centros de 24 países da África, Ásia, e América do Sul para receber rivaroxabana 20mg (ou 15mg se taxa de filtração glomerular [estimativa da função renal] entre 15 e 49 mL/min) ou varfarina em dose ajustada, de acordo com exames, para manter o nível de RNI (um dos exames que avaliam o nível de anticoagulação da varfarina) entre 2 e 3. Os grupos foram semelhantes entre si em termos de características no início do estudo. Os pacientes que fizeram parte do estudo tinham idade média de 50 anos, com maior proporção de mulheres (72%). No Brasil, o INVICTUS envolveu 672 pacientes de 14 centros participantes públicos e privados, incluindo hospitais com a maior experiência em tratamento de pacientes com DRC, como InCor e Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, sob a coordenação do Prof. Dr. Álvaro Avezum, diretor do Centro Internacional de Pesquisa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.

No grupo que utilizou a rivaroxabana, 559 pacientes tiveram um evento (denominado de desfecho primário*) comparados a 442 do grupo que utilizou a varfarina. Já os intervalos de tempo para a ocorrência do desfecho primário foram 1576 dias com rivaroxabana e 1652 dias com varfarina. O estudo teve duração de 6 anos, e após três anos de seguimento foi possível detectar a diferença na mortalidade (por insuficiência cardíaca e morte súbita), a qual foi maior no grupo que utilizou a rivaroxabana (tempo de sobrevida médio 1652 dias no grupo varfarina vs. 1576 dias no grupo rivaroxabana).

O coordenador do estudo no Brasil, Dr. Alvaro Avezum, diretor do Centro Internacional de Pesquisa do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, comenta que esse resultado é de extrema relevância para a comunidade médica e pode impactar positivamente a vida dos pacientes que sofrem com a condição. “Os especialistas esperavam resultado diferente sobre o uso da rivaroxabana comparada a varfarina, justamente pelos resultados que a rivaroxabana, bem mais recente, apresenta em outros cenários clínicos. No entanto, a surpresa foi que a varfarina, que é um anticoagulante usado há muito mais tempo pela comunidade médica, mostrou um ganho de sobrevida maior. É um avanço importante para a medicina, pois estudos clínicos devem ser sólidos e robustos para fornecer informações científicas claras e válidas para nortear seguramente nossa prática clínica em medicina cardiovascular”, pontua Avezum.

Foto Destaque: Reprodução

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