Homem recebe fígado de porco em transplante na China

Nicole Mendes Por Nicole Mendes
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Transplante usando órgão de porco é realizado na China (Reprodução/Unsplashed Imagens)

Primeiro transplante de fígado de porco geneticamente modificado em uma pessoa viva é feito na China. A cirurgia foi realizada em maio no First Affiliated Hospital da Anhui Medical University na província de Anhui em um homem de 71 anos. O procedimento foi considerado inovador e a faculdade é pioneira no transplante de fígado de porcos para humanos. 

Em entrevista à revista científica Nature, o cirurgião líder do transplante, Sun Beicheng, disse que o paciente está muito bem após a realização da cirurgia. Beicheng também diz que a família do idoso demonstrou interesse no xenotransplante após exames mostrarem que só o fígado dele  não seria suficiente para permanecer vivo. O paciente inicialmente apresentava um grande tumor no lobo direito do seu fígado e por isso não era elegível para receber um órgão humano. Os exames indicavam que o fígado apresentava um funcionamento demasiadamente mal  e assim não teria um bom resultado pós cirúrgico. 

A retirada do lobo direito do fígado foi realizada em 17 de maio, sendo substituído por um órgão de porco de 514 gramas. O porco foi submetido a alterações genéticas pela própria equipe de cirurgia para que o corpo não rejeitasse o novo órgão. Para isso, foram desativados três genes que contribuem para a produção de açúcares na superfície da pele do porco que poderiam ser atacadas pelo sistema imunológico humano. Além disso, foram introduzidos sete genes que expressam proteínas humanas.

Os xenotransplantes

O xenotransplante é uma nova prática da ciência que consiste na troca de órgãos entre espécies diferentes. O transplante realizado na China foi o quinto xenoplanstante feito, logo depois de em março ter ocorrido um transplante de um rim de porco num paciente humano vivo. Atualmente essa é uma prática que está em ascensão e diversos centros de pesquisa no mundo estudam as possibilidades. No Brasil, a USP se destaca como uma faculdade que em abril inaugurou o primeiro biotério dedicado à criação de porcos para gerar órgãos geneticamente modificados.

Ainda assim, a prática apresenta desafios como a rejeição do órgão transplantado, o crescimento indevido do órgão e até mesmo a transmissão de doenças. Os xenotransplantes procuram diminuir o déficit de doadores de órgãos. No Brasil, por exemplo, a fila para transplantes de rim chegam a 34 mil pacientes segundo o relatório mais recente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) e nos três primeiros meses de 2024 quase 670 pessoas morreram sem receber um rim, cerca de 7 inscritos por dia.

Por que porcos?


Dois porcos em cima de uma cerca
Porcos são usados em transplantes de órgãos (Reprodução/Unsplashed Imagens)

A ciência diz que os suínos seriam os melhores doadores para um xenotransplante por causa da anatomia dos órgãos ser a mais próxima a dos humanos e porque eles são criados e abatidos em grande escala para o consumo. Por isso, o uso de seus órgãos é mais aceito pela sociedade. Outra vantagem é a diferença de tamanho estre as raças de porcos, assim, poderia ser possível o transplante para diversas faixas etárias como por exemplo para crianças.

É necessário fazer modificações no porco antes da retirada do órgão. É preciso silenciar certos genes identificados como incompatíveis aos seres humanos. Ainda não há consenso em quantos genes precisam ser silenciados. Essas pesquisas só foram possíveis depois de experiências de clonagem com a ovelha Dolly no final dos anos 1990 e pelo sequenciamento genômico humano completo no início dos anos 2000.

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