Milhares de vacinas contra a dengue podem vencer se a procura não aumentar

Fernanda Eirão Por Fernanda Eirão
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Foto destaque: milhares de vacinas contra a dengue podem ser descartadas no fim de abril (Foto: reprodução/Ed Us/Unsplash)

O governo brasileiro está correndo contra o tempo na tentativa de evitar que cerca de 145 mil doses de vacina contra a dengue sejam descartadas em seis estados. Os imunizantes fazem parte de um lote comprado pelo Ministério da Saúde com vencimento marcado para 30 de abril. O público-alvo das vacinas são crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, já que depois dos idosos, são os que concentram o maior número de hospitalizações por conta da doença.

O plano para evitar o desperdício de vacinas

A Ministra da Saúde Nísia Trindade anunciou no fim de março um plano para evitar a perda desses imunizantes. O Ministério quer redistribuir as doses não utilizadas para outros municípios em outros nove estados, mas a adesão não tem sido compatível com a quantidade de vacinas disponível.

Em estados como Amapá, 22.376 doses perto de vencer foram recebidas no início do mês, vindos do Distrito Federal e do Mato Grosso do Sul, pelo fato destas duas unidades da federação compartilharem característica com o estado. Por volta de mil doses foram aplicadas em conformidade com os dados preliminares da Secretaria de Saúde. Outros oito estados também participam do remanejamento das doses que vencem em abril.


O Brasil registra milhões de casos de dengue, apesar da campanha de vacinação (Foto: reprodução/Buda Mendes/Getty Images embed)


Alguns estados ainda têm um grande número de doses a serem aplicadas, sendo o Goiás o estado de maior número, são 77,4 mil doses. A Bahia tem 15,3 mil, São Paulo possui 11,6 mil doses, o Amazonas tem 13 mil em estoque, e a Paraíba tem 6,1 mil. Os estados do Acre, Rio Grande do Norte e Maranhão não informaram o número de doses a serem usadas este mês.

A aposta do Ministério é fazer todas as aplicações a tempo e por isso, não há um plano alternativo para o eventual desperdício dessas vacinas. De acordo com a pasta, 31.65 doses foram aplicadas na primeira semana de abril. Em março, foram 449.725 aplicações e em fevereiro, mês de início da campanha, um pouco mais da metade disso. Segundo o aval da secretária nacional de Vigilância em Saúde e Ambiente, Ethel Maciel, o ritmo de aplicações é positivo. “Não tivemos nenhum indicativo por parte de estados e municípios de possível perda”, comentou ela. Ethel acrescenta que há um atraso no registro de doses aplicadas em municípios, o que faz com que os números divulgados não reflitam a realidade do avanço da campanha de vacinação. 

A pasta não trabalha com a possibilidade de remanejar as doses fora da faixa etária alvo neste ano, pois vai contra o planejamento da comissão técnica e a sugestão da Organização Mundial de Saúde.

O plano de imunização nas escolas

A epidemiologista Carla Domingues, ex-coordenadora do Programa de Imunizações (PNI) do Ministério da Saúde, avalia que o governo precisa intensificar a campanha para evitar a perda de doses. “Precisamos de um mecanismo mais forte de mobilização. Estamos falando de uma população de 10 a 14 anos, a melhor estratégia é vacinar nas escolas. Isso precisa ser colocado como prioridade do Ministério da Saúde”, disse ela.

A Ministra da Saúde chegou a anunciar ação de imunização contra a dengue e outras doenças em escolas no início de março, via Programa Saúde nas Escolas. A ministra Nísia Trindade disse na época que a ação estava prevista para a segunda quinzena de março, mas a pasta reavaliou a iniciativa após casos de reação alérgica à vacina. Isso fez com que o ministério visse que a iniciativa precisa ser acompanhada de forma adequada. A recomendação também foi repassada às prefeituras.


A vacinação nas escolas ajudaria a intensificar a campanha, mas enfrenta um grande obstáculo (Foto: reprodução/Buda Mendes/Getty Images embed)


“Seria lamentável ter perdas num cenário em que temos pouca vacina. É aceitável uma perda de 3 a 5%, que chamamos de perda física, quando um refrigerador estraga ou algo do tipo. Mais do que isso é inadmissível e o governo precisa trabalhar para que não haja”, declarou a ministra.

O país tem passado por um disparo nos casos de dengue nos últimos quatro meses. Foram 3 milhões de casos registrados. Foram mais de 1.300 mortes pela doença e outros milhares de casos suspeitos. O Brasil também lidera o ranking de dengue nas Américas, fazendo com que o governo precise agir de forma rápida e eficiente para impedir o avanço da doença.

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