Gaza: mais da metade da população prefere paz a conflito com Israel

Nicollas Alcântara Por Nicollas Alcântara
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Oito dias após o Hamas realizar um ataque-surpresa contra Israel, o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, pronunciou-se, afirmando que as ações do grupo não representam seu povo. Desde 2006, não houve eleições palestinas, criando incerteza sobre quem realmente representa os palestinos. Uma pesquisa realizada em julho do ano passado pelo Centro de Mídia & Comunicação de Jerusalém (JMCC) em parceria com a fundação alemã Friedrich Ebert revelou que apenas 12% dos palestinos confiam no Hamas e que preferem a paz do que conflitos com o Israel.

No entanto, o ataque recente do grupo pode prejudicar as negociações em busca de um Estado palestino, de acordo com especialistas consultados. “O ataque foi feito pelo Hamas, mas é a população palestina quem está profundamente vulnerável“, afirma Tanguy Baghdadi, professor de política internacional e fundador do podcast Petit Journal. “O Hamas conseguiu certo prestígio junto à parte da população não por conta de sua atuação militar, mas pelo fato de, muitas vezes, atender às necessidades mais básicas“.

 

Vulnerabilidade

A população palestina enfrenta profundas vulnerabilidades, com dados da ONU de 2022 indicando que 65% dos palestinos vivem na pobreza e enfrentam insegurança alimentar na Faixa de Gaza. Muitos palestinos se opõem aos ataques a Israel, pois acreditam que tais ações levam a retaliações prejudiciais à população mais vulnerável. Mais de 50% da população acredita que essas operações prejudicam os interesses nacionais.

Desde 2007, quando o Hamas assumiu o controle da Faixa de Gaza em oposição ao Fatah, que governa a Cisjordânia, as fronteiras da região foram cercadas por forças israelenses devido a preocupações com o grupo terrorista. Essa divisão na liderança palestina se estende também à condução do governo, com o Fatah adotando uma postura conciliadora e o Hamas impondo restrições às liberdades individuais e uma visão radicalizada da religião muçulmana.

Apesar dos resultados favoráveis à plataforma conciliadora do Fatah em pesquisas eleitorais, a maioria dos palestinos ainda não confia em nenhum grupo político ou religioso. A situação em Gaza, juntamente com o crescimento de assentamentos judaicos ilegais na Cisjordânia, minou a esperança dos palestinos em formas pacíficas de resistência.


Bombardeio israelense sobre o céu da Faixa de Gaza. (Foto: reprodução/Mahmud Hams/AFP)


Busca pelo diálogo

Apesar dos apelos de organizações internacionais e líderes de vários países para abrir um diálogo em busca da criação do Estado palestino, a atmosfera atual não parece propícia para negociações de paz. A tendência é o aumento das hostilidades, inclusive entre civis, o que está refletido nos crescentes ataques contra palestinos na Cisjordânia. Isso cria uma sensação de insegurança e hostilidade entre os dois lados.

A sociedade palestina defende um Estado laico e democrático“, afirma Ualid Rabah, presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal). “Ela é espiritualizada assim como o Brasil, que é fortemente cristão, mas é contra a religião gerindo os assuntos do Estado, o que é muito diferente de algumas opiniões que defendem que a Palestina possa vir a ser um Emirado Islâmico.”

Mesmo com o cenário atual, a busca por uma paz genuína na Palestina é vista como positiva para ambas as partes, de acordo com o presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil, Ualid Rabah, que argumenta que isso traria prosperidade tanto para os palestinos quanto para os israelenses. As reivindicações palestinas incluem o fim do apartheid, o levantamento dos bloqueios em Gaza, a desocupação dos territórios palestinos e o retorno dos refugiados, buscando uma solução pacífica para o conflito.

Foto destaque: Manifestante levanta bandeira da Palestina em protesto em defesa à população em Nova York, nos EUA. Reprodução / SPENCER PLATT / Getty Images/AFP

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