Fome no Brasil tem parâmetro quase dobrado após dois anos de pandemia

Diogo Nogueira Por Diogo Nogueira
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Um levantamento feito pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), divulgado nesta quarta-feira (8), mostra que o país quase dobrou o contingente de pessoas em situação de fome estimado em 2020. Os dados são do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil.

No total, são 14 milhões de pessoas a mais passando fome no país.

O 1º inquérito, lançado em abril do ano passado, estimava em 19 milhões o total de brasileiros que não tinham nada para comer em 2020, cerca de 9 milhões a mais que em 2018, quando a população somava 10,3 milhões de pessoas.

A médica epidemiologista e pesquisadora da rede PENSSAN, Ana Maria Segall, diz que a pandemia traz ainda mais desamparo e sofrimento.

“Os caminhos escolhidos para a política econômica e a gestão inconsequente da pandemia só poderiam levar ao aumento ainda mais escandaloso da desigualdade social e da fome no nosso país”, apontou ainda a pesquisadora.

“O país regrediu para um patamar equivalente ao da década de 1990”, destacou a rede PENSSAN na divulgação do resultado do segundo inquérito. Os dados anteriores havia apontado que o cenário da fome no país remontava ao que era notado em 2004.

“A continuidade do desmonte de políticas públicas, a piora no cenário econômico, o acirramento das desigualdades sociais e o segundo ano da pandemia da Covid-19 tornaram o quadro desta segunda pesquisa ainda mais perverso”, disse a entidade.


A fome no Brasil atinge principalmente as famílias que vivem no Norte e Nordeste do país, que registra o percentual de 25,7% e 21%, respectivamente. (Foto: Guido Dingemans/Getty Images)


A metodologia da pesquisa considerou a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia), a mesma utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para mapear a fome no país.

A Ebia define a segurança alimentar como o acesso pleno e regular aos alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais. Já a insegurança alimentar é classificada em três níveis – leve, moderada e grave.

Insegurança alimentar

São 12,5 milhões de brasileiros que vivem com algum grau de insegurança alimentar, o que corresponde mais que a metade (58%) da população do país, segundo a pesquisa.

Em comparação com 2020, a insegurança alimentar aumentou em 7,2%. Já em relação a 2018, o avanço chega a 60%.

“As medidas tomadas pelo governo para contenção da fome hoje são isoladas e insuficientes, diante de um cenário de alta da inflação, sobretudo dos alimentos, do desemprego e da queda de renda da população, com maior intensidade nos segmentos mais vulnerabilizados”, apontou o coordenador da Rede PENSSAN, Renato Maluf.

Retrato da fome no Brasil

A média de famílias brasileiras que enfrentam a fome atualmente chega a 15%, informa a pesquisa. Alguns farotes regionais e sociais, contudo, agrava o cenário.

As estatísticas mostram que:

– é maior nas áreas rurais, onde atinge 18,6% dos domicílios;

– é realidade na casa de 21,8% de agricultores e pequenos produtores;

– saltou de 10,4% em 2020 para 18,1% em 2022 entre os lares comandados por pretos e pardos;

– atinge 19,3% dos lares sustentados por mulheres e 11,9% dos chefiados por homens;

– em relação a 2020, mais que dobrou entre os domicílios com crianças menores de 10 anos de idade;

– é maior nos domicílios em que a pessoa responsável está desempregada (36,1%);

– saltou de 14,9% para 22,3% nos domicílios sustentados por pessoa com baixa escolaridade

Foto em destaque: Registro feito em outubro de 2021, na cidade de São Paulo, mostra pessoa em busca de alimento ao revirar lixo. (Aloisio Mauricio/ESTADÃO CONTEÚDO)

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