Calor extremo pressiona fluxos econômicos na China, EUA e Europa

Beatriz Lacerda Por Beatriz Lacerda
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A relação entre mudanças climáticas e economia global está intensificando neste verão. O calor e a extrema seca estão atingindo países como Estados Unidos, Europa e China, implicando na produtividade das empresas e dos trabalhadores, em um momento de crescimento econômico desacelerado, refletindo um aumento considerável nos preços.

Em Sichuan, uma província no sudeste da China, todas as fábricas foram fechadas por seis dias, para economizar energia. Os navios que transportam carvão e produtos químicos têm dificuldade de locomoção ao longo do rio Reno, na Alemanha. As pessoas que vivem na costa oeste dos Estados Unidos estão submetidas às medidas de economia de eletricidade pelo aumento da temperatura.

Muitas cidades da China estão enfrentando a onda mais forte de calor dentro de seis décadas, com temperaturas que passam de 40 graus Celsius. Na província de Sichuan, o racionamento de energia atingirá algumas das maiores fábricas de eletrônicos do mundo, como a Foxconn, fornecedora da Apple, e a Intel.

Além disso, a província também é o epicentro da indústria de mineração de lítio na China, e com a paralização das atividades o custo da matéria-prima, componente usado para produzir baterias de carros eletrônicos, pode rapidamente aumentar.


Foto: Sichuan, província chinesa (Reprodução/LonelyPlanet)


Analistas do grupo financeiro Nomura, cortaram a projeção de 2022 para o crescimento do PIB em 2,8% na quinta-feira, enquanto o grupo Goldman Sachs reduziu em 3% – muito abaixo da meta de 5,5% estabelecida pelo governo.

Bem May, diretor de pesquisa macro global da Oxford Economics, disse que os efeitos do aumento de temperatura “têm a capacidade de ser bastante significativos para regiões específicas afetadas”. Os impactos dependem agora de quanto tempo vai durar as ondas de calor e a falta de chuva.

O calor prejudica as redes de transporte e sobrecarrega o fornecimento de energia, além de prejudicar a produtividade dos trabalhadores. Bob Ward, diretor de políticas e comunicações de Granthnam Research Institute on Climate Change and the Environment da London School of Economics, disse que “não devemos nos surpreender com os eventos de ondas de calor, eles são exatamente o que prevíamos e fazem parte de uma tendência: mais frequentes, mais intensos, em todo o mundo”.

Os rios que sustentam o crescimento global, Yangtze, Danúbio e Colorado, estão secando, impedindo a movimentação de mercadorias e afetando os sistemas de irrigação e refrigeração de usinas e fábricas.

Em países como Alemanha, especialistas confirmam que algumas empresas estão se preparando para uma possível crise econômica. O rio Reno está encolhendo, impedindo o fluxo de navios. Reno é um canal de passagem para produtos químicos e grãos – incluindo carvão, que está em alta demanda á medida que o país preenche instalação de armazenamento com gás natural antes do inverno. Encontrar alternativas é difícil, até mesmo pela escassez de mão de obra.

“É apenas uma questão de tempo até que as fábricas da indústria química ou siderúrgica sejam fechadas, óleos minerais e materiais de construção não cheguem ao seu destino ou transporte de grandes volumes e pesados não possam mais ser realizados”, comunicou nesta semana Holger Lösch, vice-presidente diretor da Federação das Indústrias Alemãs.

Mas, os abalos econômicos na Alemanha começaram em agosto, de acordo com dados divulgados durante esta semana. Carsten Brzeski, chefe global da macro do ING, disse que o país “precisaria de um milagre econômico” para evitar uma recessão ao longo dos próximos meses. Sem um investimento significativo na modernização da infraestrutura, os custos continuarão subindo.

No oeste americano, uma extrema seca está drenando os maiores reservatórios do país, fazendo com que o governo federal tenha que implementar novos cortes obrigatórios de água. A seca também acaba forçando os agricultores a destruir plantações. De acordo com uma pesquisa da American Farm Bureau Federation, uma companhia de seguros e grupo de lobby que representa interesses agrícolas, pouco menos de três quartos dos agricultores dos EUA relataram que a seca está prejudicando suas colheitas – com perdas significativas de safra e renda.

“Há sinais de que esses episódios de calor não estão apenas se tornando um pouco mais intensos e frequentes ao longo do tempo. Está acontecendo de maneira não gradual, e isso dificultará a adaptação”, afirmou Ward, da London School of Economics.

A pesquisa foi realizada em 15 estados de 8 de junho a 20 de julho em regiões do Texas a Dakota do Norte e Califórnia, locais que representam quase metade do valor da produção agrícola do país. Na Califórnia – um estado com altas colheitas de frutas e nozes –metade dos agricultores disseram que retiraram árvores e colheitas de vários anos, devido à seca.

Foto destaque: Rio Reno, na Europa (Reprodução/Stock/Tanja Cathrin Liebig)

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