Wagner Moura: “Falar de Marighella, que resistiu à ditadura, é falar dos que resistem no Brasil de agora”
“Marighellista desde sempre”, Define Wagner Moura.
A identificação do diretor, com menino criado na rua do Desterro 9, Salvador, Bahia é o seu motivo principal para a produção do filme.
Carteira de Carlos Marighella, membro do Partido Comunista do Brasil. Foto (Reprodução/Brasil de Fato)
O personagem principal do primeiro longa-metragem que ele assina nessa função é grande e uma referência de resistência, mesmo com suas contradições. Para Wagner, a narrativa de Carlos Marighella é análoga à que vivemos no Brasil hodiernamente.
No entanto, a produção representa muito mais para Wagner Moura do que seu primeiro filme dirigido. Para ele, o longa tem muito a ver com sua memória afetiva e o faz lembrar modo que aquele garoto, lá da cidade de Rodelas, interior da Bahia, começava a enxergar o mundo. Essa lembranças são tão reais que algumas cenas do filme foram inspiradas em momentos da vida da infância de Moura, como a cena em uma escola onde o professor expõe e justifica os motivos para o que ele afirmava ser uma “revolução” para livrar o pais do comunismo.
Dois anos e nove meses depois de sua premiere no festival de Berlim o filme finalmente tem estreia marcada no Brasil. (Foto: Reprodução/ PensaPiauí)
Sem dúvida a pandemia foi um dos fatores para o atraso no lançamento dessa produção. No entanto, outro motivo também trouxe incômodo para o diretor. Wagner classificou as tratativas da Agência Nacional de Cinema (Ancine) como tentativa de censura.
Por meios de processos e tramites burocráticos a Ancine conseguiu protelar o máximo que pôde o lançamento do filme aqui no Brasil.
Moura acredita que, por apresentar um personagem que tem um discurso e uma ação contraria aos defensores do totalitarismo e da ditadura, tal qual o presidente Bolsonaro, o filme tenha sofrido essas tentativas para atrapalhar a estreia.
O filho de Augusto Marighella e Maria do Nascimento é um militante de narrativa extraordinária. Parte do filme decida-se a isso, contando sua história e mostrando seus últimos anos de intensa militância.
Os últimos anos de vida de Marighella foram um turbilhão que levaram ele para a prisão e pôr fim a perseguição política.
Para construir o roteiro Wagner se baseou no livro do jornalista Mário Magalhães, “Marighella: o guerrilheiro que incendiou o mundo”, de 2012 e teve a parceria de Felipe Braga nessa missão.
“Marighella é o fruto da cultura negra da Bahia, da observação e sensibilidade sobre a desigualdade social do país, do acesso a uma educação de extrema qualidade, sintetizada nos anos dele no antigo (colégio) Ginásio da Bahia, da profunda influência que a mãe negra católica e o pai italiano exerceram sobre ele e, por fim, do ambiente político e social do Brasil nos anos trinta”, conta o biografo.
Seu Jorge dá a vida ao “Mito da Resistência”, Carlos Marighella. Foto (Reprodução/ BlackBrasilToDay)
Convulsões sociais, autoritarismo e repressão faziam parte do panorama no período Getulista. O mundo vivia num momento difícil que, em muitos aspectos, nos remete ao momento atual.
“Posso resumir o que chamo de Marighellismo como minha admiração não só pelos que lutaram contra a ditadura, mas também a resistência dos indígenas contra os portugueses, Pamares, Canudos, as revoltas dos Malês e a dos Alfaiates, ambas na Bahia. Todas essas histórias sempre me fascinaram e me indicaram, sobre tudo por terem sido contadas do ponto de vista do poder, do opressor. Marighella representa muito isso, os personagens que tiveram sua história silenciada”, afirma Wagner Moura
A estreia do filme, no Brasil, está marcada para a próxima quinta-feira (4).
Foto destaque: Reprodução/ VozdoOperário