Uma nova onda de viroses veio ao Brasil ainda em 2021, e não é somente de casos de Covid-19, a influenza Darwin/H3N2, teve um grande alastramento no país, principalmente, após a flexibilização das medidas protetivas. Além disso, a variante Omicron está rondando o país com novos casos em alguns estados que preocupam autoridades e parte da sociedade. A ela, se junta o temor pela variante do Sars-CoV-2 Ômicron.
Novo surto de gripe no Rio de Janeiro ultrapassa 20 mil casos. Reprodução/Andrea Piacquadio/Pexels
Segundo a chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Marilda Siqueira, as vacinas são a solução para essas epidemias, pois ela agirá contra esses vírus como uma arma.
O laboratório em que trabalha, atua como um Centro de Referência Nacional em vírus respiratórios junto ao Ministério da Saúde e como referência para a Organização Mundial de Saúde (OMS) em Covid-19 nas Américas. Além disso, a cientista é a única brasileira a integrar o Comitê Científico sobre Evolução do Sars-CoV-2 da OMS, responsável por classificar e orientar medidas contra as novas variantes do coronavírus.
Ao ser questionada sobre um possível ataque duplo de viroses, em uma entrevista com O Globo, Marilda responde da seguinte maneira:
“Sim. A pandemia não acabou e a gripe (influenza) voltou com tudo. Os vírus influenza circularam muito pouco no Brasil e no mundo em 2020 e até agosto de 2021, mas, com o relaxamento das medidas não farmacológicas contra a Covid-19, voltaram.”
Segundo a especialista, há tantas pessoas adoecendo porque foi criado um ambiente ideal para a sua criação, e a redução do uso de máscaras e higienização das mãos piorou muito a maior circulação do vírus e o retorno de novos casos. Marilda culpa também a baixa imunização contra a influenza deste ano com a elevação dos casos.
De acordo com Marilda, mesmo que haja um aumento considerável de casos entre os jovens, considerados mais seguros contra o vírus, ela afirma que isso não indica que ele seja mais contagioso.
“Até agora não há prova disso, e é preciso analisar as séries históricas e comparar com anos passados. Porém, possivelmente estamos vendo apenas a gripe sendo a gripe e pegando todos os vulneráveis. Quando nos gripamos, produzimos anticorpos. Porém, assim como ocorre com a Covid-19, eles não duram muito, cerca de seis meses. Se o vírus está em circulação, e a pessoa volta a entrar em contato com ele, nossas defesas são reativadas. Como os vírus influenza praticamente não circularam por muitos meses, perdemos essas defesas e todo mundo ficou vulnerável.”, explica
Siqueira ainda relata que o vírus da gripe é mais volátil que o do coronavírus e por isso que ele muta anualmente e por conta deste fato que a vacina precisa ser anual, principalmente entre os idosos acima de 80 anos, que é possível um sistema imunológico naturalmente mais fragilizado. Apesar desse hábito que todos os brasileiros deveriam ter, ela diz ainda que “mesmo não sendo a mesma variante, elas (vacinas) continuam a oferecer proteção suficiente para impedir o agravamento da gripe. A pessoa pode até adoecer, mas terá muito reduzido o risco de doença severa e morte.”
“A vacina da influenza não é o sonho de consumo, mas é o que se tem e precisamos dela. Além disso, precisamos lembrar que, se a pessoa se vacinou em abril, possivelmente, já não têm mais anticorpos.”, afirma Siqueira
Por fim, ela declara que as novidades das vacinas do ano que vem será a mudança da variante A/Hong Kong/H3N2 para a A/Darwin/H3N2 e a inclusa também da imunização contra a Victoria (influenza B), como também enfatizou que tomar todas as doses contra Covid-19 é uma conquista.
“As pessoas precisam entender que a gripe não é uma doença leve. Antes da pandemia de Covid-19, era muito temida e deve continuar a ser. Ela pode matar. Não se vai trabalhar nem se sai de casa gripado. Agora, ela pegou uma população vulnerável e está se espalhando, como a gripe sempre fez ao longo da História. É um inimigo perigoso. Não existe gripezinha. Esta é o resfriado, causado por outros vírus.”, relatou a cientista
A cientista foi uma das responsáveis pelo batizo e classificação da Ômicron como variante de preocupação (VOC), pois segundo ela, era melhor pecar pelo excesso, já que “ela tem mutações em áreas ligadas a escape de anticorpos e isso preocupa.”, conclui.
Foto Destaque: Pesquisadora Marilda Siqueira, da Fiocruz. Divulgação/Fiocruz