Voa Brasil vai oferecer até 5 milhões de passagens de R$ 200, sem subsídios

Na última quarta-feira (21), o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, divulgou informações sobre o novo programa federal Voa Brasil, clarificando que o governo não vai subsidiar passagens para torná-las mais baratas, mas sim reunir bilhetes com preços menores a partir de outros meios. Ao que tudo indica, na primeira fase do programa serão oferecidas entre 4 e 5 milhões de passagens de até R$ 200, apuradas das próprias companhias aéreas.

A primeira etapa a gente pretende lançar no início de março. Nossa ideia é que seja um volume de 5 milhões de passagens a R$ 200, sem nenhum dinheiro público,” disse Costa Filho. “É muito mais uma construção coletiva com as companhias aéreas.

Esta é uma estratégia acordada pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para oferecer um serviço de atendimento social sem gasto excessivo da verba pública. Esta deve continuar sendo utilizada para a implementação de novos programas com maior prioridade, como o Desenrola Brasil (iniciativa federal para a renegociação de dívidas), ou a manutenção de programas governamentais antigos mas cruciais, como o Sistema Único de Saúde (SUS), que está sendo sobrecarregado pela epidemia de dengue em algumas unidades.


Atualmente, voos domésticos ocorrem com 13% dos assentos desocupados (Foto: reprodução/Folhapress/Bruno Santos)

Parceria do governo

O que a falta de subsídios federais significa para o projeto do Voa Brasil é que as empresas devem continuar tarifando suas passagens de acordo com a própria vontade e liberdade comercial. Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), com dados registrados até novembro de 2023, no ano passado quase 15% dos assentos foram vendidos na faixa de preço que foi determinada (até R$ 200) – estes serão os reunidos pelo governo.

Atualmente, estão inclusas no programa as companhias Gol, Latam, e Azul, das quais serão cobradas uma meta de até 5 milhões de passagens. Na parceria, as empresas ganham a presença da marca em site oficial do governo, além de maior fluxo de consumidores para passagens que outrora poderiam até ser desconhecidas. Apresenta-se uma vantagem sutil em relação ao resto do mercado, que no entanto não é tão direta quanto um subsídio.

Notas das empresas

Sobre o projeto Voa Brasil, que já vem sendo discutido e repetidamente adiado desde março de 2023, as companhias parceiras já divulgaram notas afirmando a colaboração com o programa.

A Latam já afirmou o “compromisso com a democratização do transporte aéreo”, e a Azul confirmou que está “colaborando com o desenvolvimento do projeto”. Além disso, a Gol já disse que o projeto pode afetar passagens além da faixa de preço determinada, anunciando que com as “medidas implementadas”, ela estima que “ao longo de 2024 sejam vendidas cerca de 15 milhões de passagens por até R$ 699”.

O programa deve priorizar pessoas que não viajam faz mais de 12 meses, e deve beneficiar um público estimado de ao menos 21 milhões de brasileiros. Popularizar o transporte aéreo, além de serviço público, serviria para o governo como forma de estimular a economia do país e ajudar as companhias aéreas que vem se recuperando das perdas sofridas na pandemia.

Menina morre em praia dos Estados Unidos após areia desabar em cima dela e do irmão

Na última terça-feira (20), nos Estados Unidos, duas crianças foram encontradas soterradas por areia em uma das praias no sul da Flórida. De acordo com as autoridades locais, elas estavam cavando um buraco de quase 2 metros de profundidade quando a estrutura entrou em colapso em cima dos dois. Irmãos, o menino de 8 anos teve de ser internado, e a menina de 7 anos não resistiu.

A porta-voz do Corpo de Bombeiros de Pompano Beach, Sandra King, afirmou que os serviços médicos – alertados por transeuntes que se depararam com as vítimas e tentavam resgatá-las – chegaram à praia de Fort Lauderdale aproximadamente às 15:00 no horário local. O menino estava enterrado até o peito, enquanto que a menina estava completamente encoberta pela areia.

Após o resgate, as duas crianças foram levadas rapidamente para o Broward Health Medical Center, onde o menino de 8 anos teve seu quadro estabilizado, e a menina de 7 anos foi declarada morta. Até o momento, não foram divulgados os nomes das crianças, ou onde estavam os seus adultos responsáveis durante o momento do acidente.



Detalhes do acidente

Foi um acidente incompreensível“, disse Sandra King nesta quarta (21), assegurando a imprensa de que uma investigação sobre o caso já estava em andamento.

Na gravação do momento em que é discado o telefone emergencial (911), é possível observar que mais de uma dúzia de adultos estavam tentando salvar os irmãos antes de os bombeiros serem acionados. Além disso, foram gravados vários vídeos registrando transeuntes de joelhos tentando cavar a areia com as próprias mãos. A estimativa é de que a menina faleceu aproximadamente 15 minutos após o desabamento, ainda enterrada na areia da praia.

A cabeça dele estava acima da areia. Eu acho que sua irmã estava ao seu lado, mais afundo,” David Davies, uma das testemunhas, afirmou. “Quanto mais eles tentavam escavar ela para fora, mais a areia desabava.”

A porta-voz King disse que não sabe se a família era local ou se estavam apenas visitando, mas afirmou que o escritório do xerife da região (Sheriff’s Office) já está investigando mais detalhes sobre as crianças e os pais.

Soterramento por areia

Tais acidentes na areia já ocorreram antes em outras praias dos Estados Unidos, mas estatisticamente mortes são extremamente raras. Tão recentemente quanto semana passada, um incidente similar ocorreu com uma criança pequena na praia de Jersey Shore, mas o pai conseguiu resgatá-lo a tempo.

A última morte decorrente de um desabamento de areia nos Estados Unidos ocorreu em maio de 2023, quando um jovem de 17 anos ficou preso em um buraco na cidade turística de Frisco, na Virginia. Após a sua morte, uma das empresas responsáveis pela região alertou sobre os perigos da areia, e advertiu para nunca cavar buracos mais fundos do que a altura do joelho.

Um dos maiores agravantes da fatalidade de tais casos, além da camuflagem natural de buracos preenchidos com areia em uma praia, é a natureza fluida e pesada do material: após o soterramento, cada movimento de respiração faz a areia se deslocar, pressionando o peito nos momentos de expiração de forma que a inspiração não consegue expandir de volta, acelerando o sufocamento. Por isso, durante atividades como essa, sempre é recomendado que os adultos responsáveis fiquem de olho nas crianças e certifiquem-se de não escavar demais.

Alexandre de Moraes nega pedido de Bolsonaro para adiar depoimento à PF

Nesta segunda-feira (19), Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), negou mais um pedido de adiamento para o depoimento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) à Polícia Federal. Com isso, a data para essa etapa da investigação será mantida para esta quinta-feira (22).

De acordo com Moraes, a decisão é justificada pelo fato de que a defesa do ex-presidente já possui “acesso integral à todas as diligências e provas reunidas aos autos” e, portanto, “não há motivos para qualquer adiamento do depoimento marcado pela Polícia Federal para o dia 22 de fevereiro próximo“.

No mesmo dia, como parte da Operação Tempus Veritatis – que desde o 8 de fevereiro investiga pessoas que poderiam estar envolvidas em uma tentativa de golpe de Estado e abolição da democracia brasileira – também devem prestar depoimentos à PF outros investigados próximos de Bolsonaro, como seus ex-assessores. Outros suspeitos de conspiração incluem ex-ministros e militares do seu governo, muitos dos quais também devem prestar depoimentos, ou ter providências tomadas a seu respeito pela cúpula do Exército.


Bolsonaristas em Brasília durante atos golpistas do 8 de janeiro (Foto: reprodução/AFP/Sérgio Lima)


Investigação da PF

Entre as evidências descobertas até o momento pela Polícia Federal, as mais relevantes divulgadas envolvem dois arquivos: um texto encontrado no escritório de Bolsonaro com ensaio de discurso decretando o Estado de Sítio no Brasil, e um arquivo de vídeo retratando uma reunião ministerial de 15 de julho de 2022, em que o então presidente cobrava a participação dos presentes em uma campanha de desinformação.

No discurso encontrado – documento que a PF confirmou que Bolsonaro analisou e até ajustou – está declarada a intenção de impor no país o Estado de Sítio (suspendendo a autoridade dos poderes Legislativo e Judiciário), e a Garantia da Lei e da Ordem (uso do Chefe de Estado das Forças Armadas), que em conjunto bastam para realizar um golpe e impedir a continuidade do processo democrático.

O texto justifica tais ações a partir da “resistência” a leis injustas, e a “restauração” da ordem no Brasil. Tal discurso, a análise suspeita, combina com as estratégias discutida na reunião gravada, onde ele convocou os participantes para denunciarem supostas fraudes no sistema eleitoral, com argumentos sobre irregularidades em urnas eletrônicas. A campanha de desinformação contra a Justiça Eleitoral teria sido incentivada como forma de justificar medidas em reação.

Daqui pra frente, quero que todo ministro fale o que eu vou falar aqui,“ o ex-presidente afirmou no vídeo.

Severidade do caso

A justificativa utilizada pela defesa de Bolsonaro para adiar o depoimento seria de que ela não possui todos os arquivos e mídias sendo avaliados no caso, o que Alexandre de Moraes refutou. Atualmente, o ex-presidente não pode se reunir ou comunicar com outros investigados para discutir o que vai informar, e ele está privado de seu passaporte para garantir que não fuja do país, como a investigação afirma que ocorreu após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022.

Ao todo, são várias medidas para combater quaisquer possíveis irregularidades e demonstrar a severidade do caso – ou seja, para garantir que não ocorram mais eventos como a tentativa de golpe do dia 8 de janeiro de 2023. A ideia é traçar claros limites contra a interferência no processo democrático brasileiro.

No entanto, parte da oposição já se manifestou chamando as medidas que foram tomadas em relação ao caso de excessivas. O senador Flávio Bolsonaro (PL), por exemplo, já havia em setembro do ano passado, durante sessão da CPI do 8 de janeiro, comparado as prisões dos atuantes no ataque contra a Praça dos Três Poderes com detenções de judeus por nazistas, invocando o Holocausto.

Israel cobra desculpas de Lula por comparações de Faixa de Gaza ao Holocausto

Israel continua a cobrar para que o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), peça desculpas por sua fala, que comparou o contemporâneo bombardeio e tratamento geral de civis palestinos, por parte das Forças de Defesa de Israel (IDF) na Faixa de Gaza, ao Holocausto conduzido pelos nazistas alemães contra os judeus na Segunda Guerra Mundial. Foi uma comparação que transformou Lula em persona non grata (“não bem-vinda”) no país criticado.

O que está acontecendo na Faixa de Gaza e com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico,” Lula afirmou em discurso no final de semana. “Aliás, existiu: quando o Hitler resolveu matar os judeus.”

Nesta terça-feira (20), seguindo a resposta do primeiro ministro israelense, Benjamin Netanyahu, foi a vez do ministro das Relações Exteriores, Israel Katz, afirmar nas redes sociais que a comparação é “promíscua” e “delirante“.

Vergonha para o Brasil e um cuspe no rosto dos judeus brasileiros. Ainda não é tarde para aprender História e pedir desculpas,” escreveu Katz. “Até então – continuará sendo persona non grata em Israel!


Fala do ministro das Relações Exteriores israelenses (Foto: reprodução/Twitter/@Israel_Katz)

Israel e judeus

Em contraste com parte da fala, vários judeus brasileiros já partiram para a defesa do presidente Lula, incluindo o grupo Vozes Judaicas por Libertação, que chegaram a afirmar a importância de não oprimir outros povos como antes foram oprimidos, e perpetuarem o ódio.

A contradição do povo judaico ser ora vítima e agora algoz é palpável, tenebrosa e desalentadora. Lula externou o que está no imaginário de muitos de nós,” afirmaram em nota divulgada. “Apoiamos as colocações do presidente Lula e cobramos que a radicalidade de suas palavras seja colocada em prática.”

Para explicar tal diferença, vale lembrar que Israel, embora seja um Estado judaico, não é representativo de todos os judeus. Dentro de seu próprio território, existem israelenses que se recusam a integrar no exército por “objeção de consciência”, como Tal Mitnick, que foi condenado à prisão militar por sua recusa. Nesse contexto, também se explica porque o governo Lula descartou a possibilidade de pedidos de desculpas a Netanyahu, e continua reprovando suas ações, que caracteriza como “genocídio“: criticar Israel e criticar os judeus, em sua visão, são coisas completamente diferentes.

Ainda assim, o Holocausto é considerado por muitos como uma tragédia única e incomparável. Na Segunda Guerra Mundial, historiadores não-negacionistas tendem a concordar que morreram cerca de 6 milhões de judeus, enquanto que no atual conflito da Faixa de Gaza, podem ser até 29 mil palestinos mortos, de acordo com dados do Ministério da Saúde do local. Trata-se de uma diferença de escala significativa, embora existam semelhanças na proporção elevada de civis mortos, incluindo mulheres e crianças.

Comparar Israel ao Holocausto nazista e a Hitler é ultrapassar uma linha vermelha. Israel luta por sua defesa e garantia do seu futuro até a vitória completa,” já declarou Netanyahu, após o discurso de Lula.

Netanyahu e o conflito

Somando todos os seus seis mandatos, Banjamin Netanyahu tem governado sobre Israel como primeiro-ministro por mais de 16 anos. Atualmente, é considerado uma figura política controversa, no último sábado (17), retornaram os protestos em Tel Aviv, que haviam sido postos em pausa com o conflito, contra seu governo – também por suas falas radicais, uma das quais também invocou o Holocausto.

Em outubro de 2015, Netanyahu já chegou a dizer que Hitler não queria exterminar judeus e sim apenas os expulsar da Europa, mas Haj Amin al-Husseini, um líder palestino muçulmano, lhe deu a ideia do Holocausto meses antes da Segunda Guerra Mundial. Tal afirmação foi gravemente atacada por historiadores, que apontaram que o encontro desses dois indivíduos apenas ocorreu cinco meses depois de a exterminação em massa de judeus já ter iniciado, e que o discurso só servia como uma tentativa de tirar a responsabilidade de Hitler e atrelá-la aos palestinos para justificar sua ideologia.

Entre as críticas sofridas pela fala, Angela Merkel, chanceler da Alemanha, recusou as acusações e reafirmou a responsabilidade do próprio país pelo massacre ocorrido. Por alguns especialistas políticos, a fala de Netanyahu chegou a tratar da tragédia como um escudo e ferramenta para atacar seus inimigos políticos, minimizando o Holocausto. No entanto, a controvérsia não foi suficiente para impedir que ele se reelegesse novamente, continuando seus projetos militares, muitos dos quais entrarem em ação durante esse conflito.

Nesta terça-feira, a fala do ministro Israel Katz, parte do gabinete de Netanyahu, usou este ponto para justificar as ações de Israel, e descartar qualquer “genocídio” apontado pelo presidente Lula, afirmando que “se não tivéssemos um exército, eles teriam assassinado mais dezenas de milhares.

Hoje a guerra continua, apesar dos protestos em Tel Aviv contra o primeiro ministro israelense, e o bloqueio de ajuda humanitária contra o qual Lula protestou também deve ser mantido pelo governo na Faixa de Gaza. As fatalidades constam, na última atualização, em aproximadamente 1.400 israelenses e 28.500 palestinos.

Dengue ultrapassa 650 mil casos no Brasil em 2024

Nesta segunda-feira (19), o Ministério da Saúde divulgou que já são mais de 653 mil casos de dengue no país, e ao menos 113 mortes confirmadas, com 438 óbitos adicionais em investigação. Os dados são do dia 1º de janeiro até 17 de fevereiro, e em relação com o mesmo período no ano passado, representam uma alta de quase 300%.

O que especialistas apontam como grave é que 2023 já foi um ano atipicamente alarmante, com um recorde histórico de 1.094 óbitos, e continuando uma tendência de crescimento iniciada em 2022. Caso esse ano continue com o número elevadíssimo de casos de dengue, o Ministério da Saúde projeta que o Brasil possa chegar até 4,2 milhões de casos até o fim do ano.

Para fins de comparação, o número total de casos no ano passado foi de aproximadamente 1,6 milhões. No entanto, tudo indica que o número de falecimentos decorrentes pode ser multiplicado por um fator igual ou até ainda maior, devido à superlotação nas unidades prestando serviços de saúde, como foi observado durante a pandemia da Covid-19 nos lugares mais gravemente afetados.


Tenda de atendimento para dengue no Distrito Federal (reprodução/O Globo/Brenno Carvalho)

Casos nos Estados

As diferentes unidades federativas estão sendo afetadas em graus distintos. Atualmente, maiores números de casos se concentram nos seguintes estados:

  • Minas Gerais (192 mil casos)
  • São Paulo (90 mil casos)
  • Distrito Federal (67 mil casos)
  • Paraná (58 mil casos)
  • Rio de Janeiro (41 mil casos)

Ainda de acordo com a análise do Ministério da Saúde, tão importante quanto o número de casos absolutos é o nível de incidência da doença. Nesse quesito, o Distrito Federal lidera com 2.405 casos por 100 mil habitantes, seguido de Minas Gerais, com 936 casos na mesma amostra. Ou seja, praticamente quase uma em cada cem pessoas em Minas Gerais registrou um caso de dengue.

Clima como agravante

A hipótese mais discutida entre especialistas atualmente é a de que o clima atual no país esteja agravando a situação da dengue, permitindo que o seu mosquito vetor, Aedes aegypti, se alastre por regiões que antes não ocupava.

Observamos expansão recente do vetor para áreas geográficas que não tinham o mosquito, como Rio Grande do Sul, ou até a cidade de São Paulo,” afirma Julio Croda, infectologista pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz e professor da UFMS. “Quando você tem mais calor, o ciclo do mosquito diminui. Normalmente ele leva uns 10 dias para se desenvolver depois da eclosão do ovo. Quando faz mais calor, o ciclo é encurtado para até cinco dias.

Além disso, outros pesquisadores afirmam que os casos devem continuar aumentando no Brasil com a continuidade das chuvas. Ao todo, os sinais indicam que o fenômeno El Niño, responsável pelas ondas de calor ao fim do ano passado e ainda afetando este, pode ter agravado consideravelmente a epidemia de dengue de 2024, que deve registrar dados nunca antes vistos na história do país.

México se preocupa com Amazon e Mercado Livre, que dominam 85% do e-commerce

Na terça-feira passada (13), a organização que regula o direito da concorrência no México identificou alguns problemas e “possíveis barreiras” no setor do e-commerce, onde atualmente a Amazon (AMZO34) e o Mercado Livre (MELI34) detém 85% de todas as vendas e transações realizadas.

Cofece

De acordo com o órgão regulador Cofece (Comisión Federal de Competencia Económica), a atuação das duas empresas representa um “desafio praticamente intransponível para a expansão de players menores,” uma vez que as outras empresas do setor simplesmente não possuem os números e a infraestrutura necessária para competir de forma adequada.

Há, por exemplo, entraves de desenvolvimento tecnológico para novos empresários. Desenvolver as ferramentas, estoques, sistemas de logística, e publicidade, requer um nível de investimento elevado, o que hoje em dia não é tão viável somente a partir dos próprios lucros da empresa: com o “singlehoming” de compradores e vendedores em um único mercado, a Amazon e o Mercado Livre são praticamente donas do setor.


O Mercado Livre já respondeu ao órgão, afirmando que irá cooperar (reprodução/Shutterstock/Alison Nunes Calazans)


Medidas corretivas

Em recomendação do órgão ao governo mexicano, foram apresentadas algumas “medidas corretivas” que poderiam ser implementadas em um prazo de seis meses para regularizar a situação economicamente precária. Entre elas, estão as seguintes:

As empresas devem separar o streaming e outros serviços não relacionados ao marketplace do pacote de serviços do marketplace; as empresas devem ser mais transparentes sobre o funcionamento do algoritmo que recomenda produtos aos seus usuários; as empresas devem remover a possibilidade de escolher um parceiro logístico específico, e abrir mais opções para a integração de redes logísticas de terceiros.

No total, são medidas pensadas de forma a regularizar os serviços prestados pelas empresas. O primeiro ponto, por exemplo, serve para que a Amazon e o Mercado Livre tenham seus serviços de marketplace buscados e utilizados somente por causa das funções de marketplace.

É possível pensar no caso de risco que limita a concorrência no setor de e-commerce: se o pacote de uma das grandes empresas oferece serviços adicionais (como o streaming) e benefícios de fidelidade, este é mais desejável do que o de uma empresa que oferece apenas o seu próprio marketplace, que acaba perdendo espaço. Mas o ponto principal, claro, é que tais serviços e benefícios adicionais são coisas que apenas a Amazon e o Mercado Livre conseguem oferecer, após anos de investimentos e expansão horizontal para diferentes mercados – algo que novas empresas simplesmente não possuem, e portanto, não conseguem se firmar no setor.

Necessidade de competição

Na terça-feira (13), o Mercado Livre já respondeu à Cofece dizendo que iria cooperar, mas que sanções econômicas deveriam estar fora do radar, uma vez que a empresa não possui nenhuma investigação sobre práticas monopolistas. Ainda assim, permanece um fato que a empresa, junta com a Amazon, detém 85% do mercado.

Para o usuário, inicialmente não parece ser um problema grave: se essas empresas podem oferecer serviços adicionais (devido ao investimento tecnológico ao longo de anos) e mais baratos (devido a sua infraestrutura e logística já estabelecida), então faz certo sentido que seus serviços mereçam dominar o mercado. No entanto, a questão com que a Cofece se preocupa – e foi criada em parte para regular – trata justamente, se não do monopólio, do estabelecimento de um oligopólio na economia, e do fim da concorrência entre empresas no setor.

Embora as várias políticas empresariais de fidelidade que vem ganhando espaço na última década sejam incríveis para o lucro das empresas individuais, a falta da concorrência no longo-prazo significa que as poucas empresas que dominam o mercado podem aumentar seus preços ou precarizar seus serviços sem se preocupar com seus consumidores buscando alternativas – elas não existem. Com isso, o setor pode muito bem estagnar, sem incentivo individual para a empresa dominante aumentar a eficiência ou gastar com investimentos em inovação: este é, enfim, o principal cenário que órgãos como o Cofece se preocupam em evitar.

Carrefour anuncia que cargos de Abilio Diniz devem ficar vagos no momento

Neste domingo (18), faleceu aos 87 anos de idade o empresário Abilio Diniz, que era vice-presidente do conselho de administração da maior rede de varejo alimentar brasileira, no Carrefour Brasil. A empresa já afirmou pela noite que os cargos que ele ocupava devem ficar temporariamente vagos até que uma decisão seja tomada sobre seus sucessores.

Além da vice-presidência, Diniz também presidiava sobre o comitê de talentos, cultura e integração na empresa. Hoje, ele é mais conhecido por ter liderado como sócio da Grupo Pão de Açúcar(GPA) e ter participado na criação de grande parte do atual varejo brasileiro, acumulando uma fortuna calculada em US$ 2 bilhões, ficando firmemente entre os 50 homens mais ricos no país, de acordo com a Forbes.

Abilio estava internado no hospital Albert Einstein, em São Paulo, quando morreu devido a uma insuficiência respiratória em decorrência de pneumonite. Em janeiro ele havia viajado para Colorado, nos Estados Unidos, mas se sentiu mal e teve de voltar ao Brasil em um avião adaptado com Unidade de Terapia Intensiva (UTI).



Depoimentos

Jean-Charles Naouri, o presidente do Grupo Casino Guichard-Perrachon, disputou no passado com Abilio Diniz pelo controle do então Grupo Pão de Açúcar. Nesta segunda-feira (19), ele discursou sobre a morte do empresário.

Abilio foi um empreendedor incansável e que acima de tudo jamais abandonou seu otimismo com o Brasil,” disse Naouri à imprensa. “Seu legado será sempre lembrado como um dos maiores nomes do varejo alimentar no mundo.

Além disso, também se manifestaram os grupos Casas Bahia e o próprio GPA, que comunicaram, respectivamente, que Diniz foi essencial à construção da “história da nossa marca,” e que “sua liderança e inovações moldaram o setor, impactando positivamente a economia nacional.

Ações do Carrefour

Para o Carrefour Brasil, que ainda deve tomar suas decisões sobre como preencher o vácuo que o empresário deixa no grupo, a mudança significa uma série de consequências econômicas, tanto no funcionamento interno da empresa quanto nas suas ações, e como os investidores enxergam o evento.

Analistas da sociedade gestora JP Morgan, por exemplo, já afirmaram que a morte de Diniz deve trazer maior “volatilidade” às ações do Carrefour Brasil, porque importantes mudanças recentes na gestão, como a maior independência dos negócios do Carrefour na França, foram atribuídas a sua estratégia de administração, que agora pode desaparecer.

Acreditamos que o infeliz falecimento vai levantar questões entre os investidores se as mudanças serão preservadas na ausência de sua forte voz no conselho,” escreveram os analistas da JP Morgan.

Como resultado, às 11h17 (horário de Brasília) desta segunda-feira, as ações do Carrefour Brasil constavam nas maiores perdas do Ibovespa, com uma queda íngreme de mais de 2%, enquanto que o índice em si apenas apresentava baixa de 0,4%. No entanto, ainda não está claro se esta tendência deve continuar por muito tempo, ou se a situação vai demorar a se estabilizar mesmo quando sucessores forem descobertos para os cargos necessários.

Documento com discurso golpista é encontrado no escritório de Bolsonaro

Nesta quinta-feira (8), durante a execução da Operação Tempus Veritatis, que investiga o planejamento de um golpe de Estado que havia sido planejado por Jair Bolsonaro e seus aliados em 2022, a Polícia Federal encontrou um documento que aparenta ser o rascunho de um discurso defendendo e anunciando a decretação de um Estado de Sítio no Brasil.

Defesa de Bolsonaro

De acordo com a defesa do ex-presidente, o documento só se encontrava em sua sala, na sede do Partido Liberal (PL), porque este foi enviado por celular e impresso com o intuito de tornar Bolsonaro ciente dele, de modo que ele “pudesse tomar conhecimento do material dos referidos arquivos.”

Supostamente, Bolsonaro apenas tomou conhecimento desta minuta no dia 18 de outubro de 2023, quando o seu advogado, Paulo Amador da Cunha Bueno, realizou esse envio. O documento contém um discurso detalhado de forma a justificar um golpe de Estado, com base na Garantia da Lei e da Ordem (GLO – uma ação militar em que o presidente da República ordena as Forças Armadas) brasileira.


Documento encontrado pela PF argumenta em favor da decretação do Estado de Sítio (Foto: reprodução/g1)


O ex-Presidente — desconhecendo o conteúdo de tais minutas — solicitou ao seu advogado criminalista, Dr. Paulo Amador da Cunha Bueno, que as encaminhasse em seu aplicativo de mensagens, para que pudesse tomar conhecimento do material dos referidos arquivos,” comentou a defesa de Bolsonaro em nota. “A impressão provavelmente permaneceu no local da diligência de busca e apreensão havida na data de hoje, que alcançou inclusive o gabinete do ex-Presidente.

De acordo com a defesa, o documento, não-assinado, não era do conhecimento de Bolsonaro durante as eleições de 2022, e alegou a sua “distância de qualquer empreitada ilegal”, negando o envolvimento do ex-presidente em qualquer suposto plano para realizar um golpe e evitar a eleição, do atual presidente, Lula (PT).

No entanto, a operação desta quinta que investiga o plano de ruptura – que incluía, segundo a PF, a prisão de inimigos políticos como Alexandre de Moraes, Gilmar Mendes, e Rodrigo Pacheco – já é fundamentada em vários casos registrados de falas antidemocráticas entre aliados de Bolsonaro.

Por exemplo, além dos ministros e assessores investigados, entre os militares há Augusto Heleno, que afirmou em julho de 2022 que antes da disputa eleitoral era necessária uma “virada de mesa, um soco na mesa,” e Braga Netto, que a PF captou chamando outro general, Freire Gomes, de “cagão” por não ter aderido ao plano golpista.

Documento

Logo, ainda não pode ser desconsiderada a hipótese de que o documento foi de fato criado de forma a integrar um suposto golpe de Estado. Tendo essa possibilidade em mente, cabe ainda analisar o discurso encontrado pela operação, e aguardar a finalização das investigações, que devem informar um parecer prévio.

Afinal, diante de todo o exposto, e para assegurar a necessária restauração do Estado Democrático de Direito no Brasil, jogando de forma incondicional dentro das quatro linhas, com base em disposições expressas da Constituição Federal de 1988, declaro o estado de Sítio e, como ato contínuo, decreto operação de garantia da lei e da ordem,” diz o parágrafo final da minuta encontrada no escritório de Bolsonaro.

O texto cita Aristóteles, e afirma que a resistência a “leis injustas” é um “princípio do iluminismo.” Em conjunto com a declaração de Estado de Sítio (temporariamente suspendendo a autoridade dos poderes Legislativo e Judiciário) e a Garantia da Lei e da Ordem (uso do Chefe de Estado das Forças Armadas), tudo indica que o documento anuncia um golpe militar em discurso. Apenas resta, para comprovar o planejamento de um plano golpista, verificar a autenticidade do documento, em que as investigações devem brevemente focalizar seus esforços.

Protestos de fazendeiros europeus chegam até a Espanha

Na última quinta-feira (1), fazendeiros protestaram em Bruxelas acampados do lado de fora de um edifício do parlamento, jogando ovos e iniciando fogos enquanto os líderes da União Europeia (UE) realizavam uma reunião sobre a situação da Ucrânia. Nesta quinta-feira (8), o protesto dos fazendeiros já se estende pela Europa e chega até à Espanha, onde tratores interrompem o tráfego nas ruas.

Protestos

A natureza dos protestos parte das várias regulações e ditas ‘burocracias’ impostas pela União Europeia, tanto para garantir a qualidade dos produtos como para combater abusos ecológicos ou medidas que possam levar a mudanças climáticas. Como resultado dessas medidas legislativas sobre o mercado, os fazendeiros europeus acabam tendo mais gastos acumulados na sua produção do que produtos importados de fora, fabricados sem tais regulações.

Desse modo, os produtos do exterior acabam ‘invadindo’ os mercados europeus com preços mais baixos do que a produção local, e acabam sendo mais competitivos. Por serem medidas da União, afetam todos os países do grupo – o que explica porque os protestos se alastraram por vários países, como França, Alemanha, Itália, e agora chegando até o Parlamento de Barcelona. Na Espanha, o tráfego foi interrompido por tratores em várias cidades, Ávila, Vitória, e Antequera.


Fazendeiro bloqueia uma rodoviária no leste da França (Foto: reprodução/AFP/Sebastien Bozon)


Europa e Ucrânia

Alguns dos protestos já se tornaram violentos, e necessitaram da interferência policial. O Ministério do Interior da Espanha já divulgou, por exemplo, que 12 pessoas foram detidas na quarta-feira por bloquear centros de distribuição de mercadorias. Existe uma forte indignação dos fazendeiros, que é agravada em especial por dois fatores.

Primeiro, há o mercado exterior com que a Europa compete, em especial, a Ucrânia. Desde o início da guerra com a Rússia, já havia certa preocupação com relação à questão das exportações ucranianas, e a União Europeia acabou renunciando as cotas e taxas de imposto sobre esses produtos como uma forma de ajudar o país a resistir à invasão, com suporte econômico.

As medidas que foram removidas existiam justamente para manter o mercado ‘justo‘ de forma a incentivar a competitividade com produtos do exterior. Em sua ausência, a crise já havia chegado, em setembro de 2023, ao ponto da Polônia proibir importações de grãos ucranianos, e até parar de fornecer armas à Ucrânia. Já na época o primeiro-ministro polonês, Mateusz Morawiecki, havia dito que sua decisão de baseava no “interesse do agricultor polonês.”

Mudanças Climáticas

O segundo motivo pelos protestos terem tanta força é que a pauta do meio-ambiente se torna em décadas recentes um assunto crescentemente político, e cada vez mais associado à burocracia estatal.

No atual cenário político, é comum que as ‘regulações verdes’ sobre o mercado sejam tidas como principais fatores para explicar porque os setores econômicos de certos países (ou blocos, como o da UE) não conseguem competir com produtos mais baratos de outros países sem escassez: a lógica é de que os países com menos legislações de meio-ambiente podem fabricar mercadorias mais baratas, qualificando como concorrência desleal.

Porém, o outro lado da moeda é o fato de que as regulações da União Europeia sobre seus produtos tendem a ser extremamente importantes para assegurar o consumo saudável de seus cidadãos, a sustentabilidade de seus recursos no longo-prazo, e a cooperação efetiva contra o aquecimento global e outras mudanças climáticas: o ano de 2023 foi o mais quente já registrado na história, mas caso a UE não tivesse qualquer restrição sobre suas indústrias, é possível que a situação seria ainda pior.

Para a visão global, onde interesses sociais e econômicos colidem, a lógica dita que a concorrência desleal com que os fazendeiros europeus se preocupam só pode ser solucionada de duas maneiras: ou todos os países do mercado internacional passam a impor as mesmas regulações burocráticas sobre seus produtos, ou todos deixam de cobrá-las. Infelizmente para a comunidade científica preocupada com o futuro da humanidade em um planeta cada vez mais meteorologicamente caótico, a segunda solução é muito mais desejável no caso individual, à cada nação, no curto-prazo: os atuais protestos evidenciam, se não apenas a vontade da Europa, essa tendência no panorama global.

PF apreende passaporte de Bolsonaro para que ele não fuja do país durante as investigações

Nesta quinta-feira (8), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi alvo de uma operação da Polícia Federal, e teve o seu passaporte confiscado para garantir que não iria sair do país durante as investigações atuais.

O documento se encontrava no seu escritório em Brasília, na sede do Partido Liberal (PL) – cujo presidente, Valdemar Costa Neto, foi preso nesta manhã por porte ilegal de arma de fogo – e teve a certidão de entrega já emitida, o que o advogado do ex-presidente, Paulo Bueno, já confirmou. A Operação Tempus Veritatis, deflagrada, foi embasada pelo ministro Alexandre de Moraes, atual presidente do Supremo Tribunal Federal (STF).

No total, a Polícia Federal hoje deve cumprir 33 mandatos de busca e apreensão, em dez diferentes estados, além do Distrito Federal. Investiga-se uma tentativa coordenada de golpe de Estado, que buscava manter Bolsonaro no poder com ajuda de militares e prender alvos-chave da oposição, como os ministros Gilmar Mendes e Alexandre do STF, e até Rodrigo Pacheco, presidente do Senado.

Passaporte confiscado


Em maio de 2022, mais de metade da população temia a tentativa de invalidar as eleições, segundo a Datafolha (Foto: reprodução/AFP/André Borges)


Estou tentando entender, parece que é um novo inquérito,” afirmou Bolsonaro, sobre os mandatos de busca e apreensões, à Folha.

O pedido em específico para a captura do seu passaporte em Brasília se baseia em um precedente histórico. Ao final do ano de 2022, o ex-presidente já demonstrou, ao viajar à Florida por três meses com o intuito de não passar a faixa para o novo presidente Lula (PT), algo que a PF e o STF consideram como um precedente de que o mesmo poderia ocorrer durante as investigações.

Como medida cautelar, além das confiscações de passaportes, os vários alvos da operação estão proibidos de estabelecer contato com outros alvos. Até o momento, já foram presos dois ex-assessores de Bolsonaro: Filipe Martins e Marcelo Câmara.

Alvos da Operação

Os principais alvos de busca divulgados atualmente são alguns militares que parecem estar envolvidas no planejamento golpista, seja por interferência com o processo de voto nas urnas eletrônicas, ou conspiração:

  • General Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional;
  • General Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e da Defesa;
  • General Estevam Cals Theóphilo Gaspar de Oliveira, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres do Exército;
  • General Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa;
  • Almirante Almir Garnier Santos, ex-comandante-geral da Marinha.

Além destes, são notáveis figuras políticas atualmente investigadas o ex-ministro Anderson Torres, o ex-assessor Tercio Arnoud Thomaz, o coronel reformado Ailton Barros, e o já mencionado presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que já foi preso.

Ainda existem dois mandatos de prisão cuja conclusão ainda não foi divulgada, sobre o coronel Bernardo Romão Correa Neto, e o major Rafael Martins de Oliveira. A operação já havia sido planejada há meses pelo STF em colaboração com a Polícia Federal, e deve ter seus resultados anunciados em breve.