La Liga adota medidas de “tolerância zero” ao racismo contra Vini Jr.

La Liga anuncia ações rigorosas para o próximo jogo entre Real Madrid e Atlético de Madrid, buscando combater os intensos casos racismo

Alice Zanin Por Alice Zanin
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Foto destaque: Vinícius Junior e a "Tolerância Zero": Novas Medidas da La Liga para o Clássico Madrid (Reprodução/Instagram/@vinijr)

No próximo domingo, durante o clássico entre Atlético de Madrid e Real Madrid no Estádio Metropolitano, a La Liga promete “tolerância zero” contra qualquer ato de racismo direcionado a Vinicius Junior. A medida é uma resposta aos frequentes crimes de discriminação enfrentados pelo jogador brasileiro nos últimos anos, especialmente por parte da torcida do Atlético.

De acordo com entrevista concedida ao portal GE, a La Liga anunciou que terá profissionais dedicados exclusivamente ao monitoramento de possíveis crimes racistas, dentro e fora do estádio. A casa do Atlético de Madrid, o Estádio Metropolitano, contará com câmeras estrategicamente posicionadas para cobrir toda a área, além de equipes espalhadas pelo local. 


Em seu Instagram, Vinicius Junior denuncia a La Liga por sua neutralidade em casos racistas (Reprodução/Instagram/@vinijr)


Apesar de não revelar o número exato de dispositivos e pessoas envolvidas na operação, a liga garantiu que todos os crimes serão reportados às autoridades competentes.

“A La Liga não permitirá esse tipo de comportamento sob nenhuma circunstância. Tais ações não apenas mancham a imagem do esporte e do país, mas também representam uma ameaça direta à segurança e ao bem-estar de todos os torcedores.”

A La Liga se comprometeu a denunciar formalmente e pedir a detenção dos responsáveis pela campanha de ódio contra Vinícius. A liga classifica essas ações como incitação ao ódio, crime previsto no Código Penal espanhol, e afirma que não tolerará comportamentos que prejudiquem a imagem do esporte e coloquem em risco a integridade dos jogadores e torcedores.

“Tolerância zero” e medidas já tomadas

No ano passado, a liga lançou uma plataforma dedicada a denúncias de discriminação racial, incentivando a participação ativa de todos na luta contra o preconceito. A medida mais recente foi a introdução do gesto “Não ao racismo”, idealizado pela Fifa e adotado pelos árbitros para sinalizar qualquer ato racista em campo ou nas arquibancadas. 


Em coletiva, Vini Jr. chora ao comentar sobre o racismo
Em coletiva pela seleção brasileira, Vini Jr. chora ao comentar sobre o racismo (Foto: Reprodução/EFE/Kiko Huesca)

Todos os casos reportados são encaminhados para a Real Federação de Futebol da Espanha (RFEF), a Comissão Estatal contra Violência, Racismo e Xenofobia do Ministério do Esporte e ao Ministério Público das províncias espanholas. 

Alguns protocolos em caso de racismo em campo são:

  • Paralisação do jogo por alguns minutos, seguida de anúncios para erradicar com o comportamento discriminatório;
  • Suspensão temporária do jogo, caso o cenário continue o mesmo, e os jogadores são retirados do campo;
  • O último recurso, caso o cenário não mude, é a suspensão definitiva da partida.

Três torcedores do Valencia foram condenados a oito meses de prisão por insultos racistas contra Vinicius Junior durante uma partida no estádio Mestalla, em maio de 2023. Mais recentemente, um torcedor do Mallorca recebeu uma sentença de um ano de detenção após proferir injúrias racistas ao jogador brasileiro. Esses casos evidenciam um esforço das autoridades espanholas em punir atos de racismo no futebol, reforçando a necessidade de ações rigorosas para coibir esse tipo de comportamento nos estádios.

Casos de racismo por parte do Atlético de Madrid

O Atlético de Madrid, infelizmente, possui um longo histórico de episódios racistas envolvendo Vinicius Junior e é por esta razão que a La Liga busca reforçar suas medidas para a partida de domingo, receosos de que os casos possam voltar a ocorrer.

O primeiro caso registrado ocorreu em setembro de 2022, quando torcedores do clube proferiram insultos racistas dentro e fora do Estádio Metropolitano, chamando o jogador brasileiro de “macaco” durante o clássico. Embora o crime tenha sido denunciado, o caso foi arquivado pela Promotoria de Delitos de Ódio.

Em janeiro de 2023, antes de um confronto entre Atlético e Real Madrid pela Copa do Rei, um boneco com a camisa de Vinicius Junior foi pendurado em uma ponte em Valdebebas, simulando um enforcamento. A mensagem “Madrid odeia o Real” acompanhava o ato deplorável. Este caso ainda está sob investigação. 

Boneco pendurado simulando Vinicius Junior
Boneco pendurado simulando Vinicius Junior (Foto: Reprodução/Ge.Globo)

No mesmo mês, a La Liga apresentou uma denúncia à Promotoria de Delitos de Ódio de Madri após novos insultos racistas dirigidos a Vinicius nas proximidades do Estádio Metropolitano.

Já em setembro do ano passado, uma menina que usava uma camiseta com o nome do jogador foi ofendida por um torcedor do Atlético. O suspeito foi identificado e recentemente prestou depoimento. 

Em janeiro deste ano, no Estádio Metropolitano, foram ouvidas canções de torcidas racistas para provocar o jogador. “É um macaco, Vinicius Junior é um macaco” , dizia os torcedores do Atlético de Madrid, em coro.

Longo histórico de racismo contra Vinícius Júnior

O jogador Vinicius Junior tem enfrentado, desde sua chegada à Europa, uma série de casos de crimes raciais de torcedores de clubes espanhóis. Antes que as denúncias judiciais ganhassem corpo e que a mobilização em torno dessa questão crítica se intensificasse, o brasileiro teve que lidar com diversas situações de discriminação:

Barcelona x Real Madrid (outubro de 2021): Durante o clássico no Camp Nou, torcedores do Barcelona proferiram insultos racistas, chamando Vinicius de “macaco”. A La Liga denunciou o caso à Procuradoria de Ódio de Barcelona, mas os responsáveis pelos ataques não foram identificados e a investigação foi arquivada.

Mallorca x Real Madrid (março de 2022): A emissora Gol flagrou a torcida do Mallorca fazendo imitações de macacos e lançando ofensas, como sugerir que o jogador “pegasse bananas”. Novamente, a LaLiga apresentou uma denúncia, que também foi arquivada pela Procuradoria de Ódio local.


Em vídeo publicado no Instagram, Vinicius JR. denuncia os atos de racismo (Reprodução/Instagram/@vinijr)


Controvérsia sobre as comemorações (setembro de 2022): Após um jogo contra o Mallorca, as danças de Vinicius em suas comemorações geraram debates na mídia. O capitão do Atlético de Madrid, Koke, sugeriu que uma reação hostil da torcida seria compreensível.

Atlético de Madrid x Real Madrid (setembro de 2022): Na partida no Estádio Metropolitano, Vinicius foi alvo de gritos racistas da torcida do Atlético, com um torcedor exibindo um macaco de pelúcia. A La Liga apresentou uma denúncia, mas o caso foi arquivado, sendo considerado que os insultos não configuraram crime.

Valladolid x Real Madrid (dezembro de 2022): Na partida, Vinicius foi chamado de “negro de merda” e “macaco”, com a torcida imitando sons de macaco ao ser substituído. O jogador fez uma cobrança pública à LaLiga, que foi respondida pelo presidente da entidade, Javier Tebas.

Real Madrid x Atlético de Madrid (janeiro de 2023): Antes de um clássico pela Copa do Rei, torcedores do Atlético simularam um enforcamento de Vinicius, pendurando um boneco com sua camisa em uma ponte. A LaLiga fez uma queixa ao Tribunal de Instrução de Madri, levando à prisão de quatro pessoas meses depois.


Vini Jr. comemora gol com ato antiracista
Vini Jr. comemora gol com ato antiracista (Foto: Reprodução/AP Foto/Jose Breton/Los Angeles Time)

Mallorca x Real Madrid (fevereiro de 2023): Durante a partida, Vinicius foi novamente atacado verbalmente, com um torcedor gritando “Vinicius, macaco!”. A LaLiga registrou a denúncia, e o autor foi identificado e punido.

Barcelona x Real Madrid (março de 2023): Novamente, na partida contra o Barcelona, Vinicius ouviu gritos de “macaco” e “morra”. O caso foi denunciado à Justiça, mas ainda não foi concluído.

Valencia x Real Madrid (maio de 2023): Desde a chegada ao estádio, Vinicius foi alvo de gritos de macaco por parte dos torcedores do Valencia. Durante o jogo, ele apontou dois torcedores que estavam imitando sons de macaco, registrando mais um triste episódio de racismo.

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Redatora estagiária da IN Magazine e estudante em duas graduações: jornalismo esportivo & comunicação social, pela Universidad Nacional de La Plata.