O agronegócio gaúcho enfrenta uma crise severa após enchentes devastadoras, com perdas estimadas em cerca de R$ 3 bilhões, de acordo com a Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul). As chuvas intensas inundaram vastas áreas de produção, e a recuperação total pode levar pelo menos uma década. A Farsul, com o apoio do projeto S.O.S Agro RS, coletou dados preliminares que indicam um prejuízo médio de R$ 1,4 milhão por agricultor afetado.
O levantamento, que contou com a participação de 2.025 produtores, mostrou que 347 relataram prejuízos significativos, totalizando mais de R$ 467,6 milhões. Além das áreas diretamente inundadas, há preocupações com as produções que não puderam ser colhidas e as perdas de colheita já realizadas.
Desafios e demandas imediatas
Os agricultores enfrentam desafios enormes a curto prazo, com 60,4% preocupados com a sobrevivência de seus negócios nos próximos dois meses e 19% esperando uma redução significativa no desempenho. Graziele de Camargo, uma das líderes do S.O.S Agro RS, destacou que a recuperação completa das perdas, que incluem colheitas, maquinários, infraestrutura e solo danificado, pode levar até 10 anos.
Em resposta à crise, a Farsul tem pressionado por medidas federais urgentes. O presidente da Farsul, Gedeão Pereira, enfatizou a necessidade de uma solução excepcional e espera que a visita do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, ao estado traga anúncios de apoio crucial. Entre as principais demandas está a criação de uma nova linha de crédito com condições favoráveis para que os produtores possam sanar suas dívidas e continuar operando.
Apoio federal e medidas de crédito
Para ajudar os produtores afetados, o governo federal abriu uma linha de crédito especial de R$ 600 milhões destinada ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Esta medida permite que as famílias agricultoras realizem pagamentos em até 120 meses, com um desconto de 30% e três anos de carência.
O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, estima que aproximadamente 140 mil produtores foram gravemente afetados pelas enchentes no estado. No entanto, a Farsul argumenta que esta ajuda, embora necessária, não é suficiente para resolver todos os problemas.
O levantamento do S.O.S Agro RS revela que 96,5% dos produtores precisarão de crédito adicional para retomar suas atividades. A proposta da Farsul é por uma linha de crédito com um prazo de 15 anos, dois anos de carência e amortização de 3%.
Controvérsia sobre importação de arroz
Outra medida recente do governo que causou polêmica foi a ampliação do montante destinado à compra de arroz no exterior para R$ 7,2 bilhões. Esta ação visa garantir o abastecimento do alimento, considerando que o Rio Grande do Sul é responsável por 70% da produção nacional. Contudo, Gedeão Pereira criticou a medida, chamando-a de desnecessária e argumentando que o montante seria mais do que suficiente para cobrir os prejuízos do agro gaúcho.
Pereira e o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, expressaram preocupação de que a importação possa prejudicar a recuperação dos produtores locais e afetar negativamente a próxima safra. Eles defendem que os recursos deveriam ser direcionados para apoiar diretamente os agricultores afetados pelas enchentes, em vez de gastar em importações que poderiam ser evitadas.
A decisão do governo de liberar a compra sem consultar a Farsul foi vista como um passo em falso, exacerbando ainda mais a tensão entre os produtores e as autoridades federais.