A guerra com o garimpo ilegal continua mesmo após um ano de intervenção federal nas terras Yanomami. Em ação do Ibama nesta última quinta-feira (11), agentes fecharam novamente um acampamento de garimpo ilegal aberto em 2023. Foram encontrados combustíveis, mantimentos, aparelhos de geolocalização e muita bebida alcoólica, proibida por lei dentro do território devido à fácil dependência dos indígenas. Também foram encontradas evidências de comércio de drogas no acampamento.
Crise humanitária e conflitos com o garimpo
Logo no início de seu terceiro mandato como presidente, Lula visitou as terras indígenas Yanomami, em Boa Vista, e se deparou com uma crise humanitária. Os indígenas sofriam com desnutrição, doenças e a constante ameaça do garimpo ilegal. “Uma situação desumana”, nas palavras do presidente. Promessas foram feitas para mudar esta realidade.
Mas um ano depois, a situação não mudou muito. Mais campos de garimpo ilegal foram encontrados e desde janeiro de 2023, pelo menos dez conflitos entre fiscais e garimpeiros foram registrados. Em um deles, um criminoso foi morto e identificado como foragido da polícia e líder de facção.
No decorrer de um ano, o Ibama destruiu cerca de 35 aviões e helicópteros usados pelos garimpeiros. As autoridades também encontraram uma pista de pouso localizada na Venezuela, a poucos quilômetros da fronteira com o Brasil. Nela, havia nove aviões de garimpo.
Agente do Ibama em operação contra o garimpo em terras yanomami (foto: reprodução/Ibama)
A Polícia Federal já abriu mais de 400 investigações de garimpo nas terras Yanomami e a Justiça bloqueou 600 milhões de reais em bens investigados, algo fundamental para reprimir esse tipo de crime. “É o dinheiro que se precisa eliminar para reprimir o crime através da asfixia de sua estrutura criminosa. Sem dinheiro não tem garimpo, sem dinheiro não tem helicóptero, não tem balsa, não tem bombas, não tem mangueiras, não se pagam os garimpeiros”, disse o superintendente da Polícia Federal.
A nova estratégia
A intervenção de emergência decretada pelo presidente Lula em janeiro de 2023 tinha previsão de apenas seis meses de duração. De janeiro a novembro do ano passado, 308 indígenas morreram no território, sendo mais da metade desse número de crianças de até quatro anos de idade.
Em reunião com seus ministros na terça-feira (09), Lula anunciou que a estratégia agora será diferente. Ao invés de uma operação emergencial, a ocupação das Forças Armadas e da Polícia Federal será permanente nas terras indígenas. Uma casa de governo será criada em Boa Vista para administrar o orçamento de R$ 1,2 bilhão.
Lula em reunião ministerial para discutir a crise yanomami (foto: reprodução/Agenciagov)
Durante o período de um ano, notou-se a redução de 85% de área desmatada pelo garimpo. Nas palavras de Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, isso ainda não é o bastante. “O que é suficiente é estancar completamente a atividade garimpeira, porque além da malária, você tem a contaminação com mercúrio, você tem a violência que impede as pessoas de ter a sua segurança alimentar tradicional”.
A crise humanitária encontrada em Roraima persiste. Os ministros foram até o posto de Auaris, bem próximo da fronteira com a Venezuela. É a região Yanomami com mais óbitos no ano passado. Foram 55 mortes.
Auaris teve quase um terço de casos de malária do território. Ainda há crianças se recuperando de desnutrição grave, como a adolescente Iza, de 13 anos, que pesa apenas dez quilos.
Muitas crianças yanomami sofrem de desnutrição (foto: reprodução/ URIHI – Associação Yanomami)
Nas aldeias, muitos jovens são aliciados pelo garimpo. Assim, quase não há gente para trabalhar na roça e os que podem, nem sempre tem saúde para tal. “A malária tá aumentando ainda, então a gente está sofrendo. Tem não tem condição de trabalhar para fazer roça, aí nós também ficamos com sofrimento de fome”, conta o líder indígena Geraldo Sanumá, cujo povo é um subgrupo Yanomami. Na semana passada, uma aldeia Sanumá teve cinco crianças transferidas para Boa Vista em estado agudo de desnutrição. Um garoto de quatro anos morreu.
O secretário de saúde indígena, Weibe Tapeba, afirma que o garimpo destrói o meio ambiente, a saúde e também a identidade de um povo. Com ajuda das autoridades, cerca de 200 comunidades indígenas com vazio assistencial serão auxiliadas e o número poderá ser ampliado à medida que as áreas forem recuperadas de volta.
Foto destaque: agente do Ibama queima acampamento usado pelo garimpo ilegal em terras Yanomani (reprodução/Fantastico)