Uma série de brasileiros tem buscado a Argentina como oportunidade para estudar medicina. Os motivos são sociais, econômicos e educacionais. Universidades particulares caras, ensino básico de baixa qualidade e dificuldade no sistema de vestibulares são alguns deles.
Maria Alice tem 22 anos e estuda em Rosário. Ela não queria fazer anos de curso pré-vestibular e resolveu procurar opções no exterior em que não tivesse que pagar caro.
“Eu não queria ter que ficar seis anos no cursinho, pois essa é a média para passar numa faculdade pública. Já as particulares são caras e faturam muito”, disse em entrevista à BBC News Brasil.
Na Argentina, basta se inscrever no curso, fazer as matérias necessárias e atingir a nota exigida para, de fato, começar a estudar medicina. Isso pode durar de três meses a um ano. No Brasil o comum é que se utilize a nota do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) ou que se faça um vestibular da própria universidade. Ela mora sozinha e tem gastos entre 2,5 e 3 mil reais com alimentação, passeios, faculdade e apartamento.
“Na minha faculdade, fiz um curso de ingresso que tinha matérias que envolviam química, física, biologia, anatomia e para quem é estrangeiro tem o espanhol. A gente faz esse curso de ingresso, depois tem as questões e entrevista com o reitor e professor. No final, eles fazem um ranking com um número de pessoas aprovadas”, afirma a estudante.
Apesar dessas vantagens, há algumas questões que incomodam os estudantes. Na Universidade de Buenos Aires (UBA), por exemplo, os alunos têm de aprender muitas coisas por si próprios. Em certas faculdades não há muitas aulas presenciais e o curso pode ser demorado.
Universidade de Buenos Aires (Foto: WikiCommons)
Diego Alves Schmidt, de 20 anos, cursa seu primeiro ano na UBA e defende o método de admissão argentino. Entretanto, acredita que a falta de contato com pacientes é um aspecto negativo. “No Brasil você começa cedo nos postinhos e UPAs, por exemplo”, conta.
Evelise Labatut Portilho, pós-doutora em Educação e professora do programa stricto sensu de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), acredita que a dificuldade para o acesso em faculdades de medicina no Brasil se dá por conta de problemas no ensino básico. “Tem alunos que não conseguem ler e fazer um cálculo mental. A solução para isso é que as instituições deixem de ser empresas e voltem a ser instituições de ensino”.
Os que retornam precisam prestar o Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituição de Educação Superior Estrangeira, ou Revalida. A prova é feita para os estrangeiros formados fora do país e a brasileiros que se graduam no exterior. Ela é dividida em duas etapas eliminatórias com provas escritas e de habilidades clínicas. A taxa de aprovação costuma ser baixa. Na primeira etapa, 5.259 brasileiros se inscreveram no teste e 680 foram aprovados, correspondendo a 12,93%. Na segunda etapa, 1.318 inscritos e zero aprovação.
Foto destaque: Estudantes de medicina. Reprodução/Shutterstock