Cresce pressão dos EUA para que Brasil condene invasão russa na Ucrânia

Wendal Carmo Por Wendal Carmo
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Desde que a Rússia iniciou a ofensiva militar contra a Ucrânia, na madrugada de quinta-feira (24), o Brasil vem mantendo uma postura de neutralidade. Em nota, publicada onze horas após a invasão russa, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro disse acompanhar com “grave preocupação a deflagração de operações militares pela Federação da Rússia contra alvos no território da Ucrânia”, mas manteve o tom adotado nos últimos dias.

No entanto, a neutralidade brasileira não agradou a comunidade internacional, em especial a Casa Branca. Como parte de um esforço norte-americano em isolar a Rússia, a Embaixada dos EUA no Brasil cobrou, nesta sexta-feira (25), que o país condene expressamente a invasão russa na Ucrânia.

A manifestação do Brasil seria feita de forma multilateral, através do apoio à resolução proposta pelos Estados Unidos no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) – do qual o Brasil é membro rotativo. O Itamaraty tem estudado adotar essa postura internamente, apesar de não confirmar o endosso ao documento.

As dúvidas sobre se o Brasil subscreverá a resolução também partem do diplomata Douglas Koneff, encarregado de Negócios da Embaixada dos EUA no Brasil. Apesar de confirmar as conversas em andamento com o Palácio do Itamaraty, Koneff evita cravar o apoio do Brasil. O diplomata, no entanto, diz que “a voz do Brasil importa”.

“Qualquer declaração que condene as ações russas, como violações do direito internacional e da carta das Nações Unidas, ajuda e é bem-vinda. Um pedido de desescalada das hostilidades ao povo ucraniano e de retirada das tropas são passos importantes para todos os países. O Brasil é um país importante, tem assento no Conselho de Segurança. A voz do Brasil importa”, pontua o atual chefe da diplomacia americana em Brasília.  


O encarregado de negócios da Embaixada dos EUA no Brasil, Douglas Koneff — Foto: US Embassy Brasília


A pressão para que o Brasil adotasse uma postura incisiva, atingiu seu ápice quando o presidente Jair Bolsonaro (PL) anunciou sua visita à Rússia, mesmo com o acirramento da tensão no leste europeu. A Casa Branca atuou para demover Bolsonaro de não viajar a Moscou, mas acabou sem êxito.

Em resposta às investidas norte-americanas, o presidente brasileiro disse que se Joe Biden, atual presidente dos EUA, o convidasse iria a Washington – sede do governo americano.

Durante a visita ao Kremlin, o mandatário brasileiro chegou a manifestar “solidariedade à Rússia”, o que gerou forte incômodo da Casa Branca, com a diplomacia brasileira.

Agora, porém, o Palácio do Planalto deu autonomia à chancelaria brasileira para tratar do tema, só quer que, antes de o posicionamento tornar-se público, ele seja comunicado a Bolsonaro.

Ontem, o vice-presidente da República Hamilton Mourão defendeu a soberania da Ucrânia e chegou a comparar Vladimir Putin a Adolf Hitler, ditador alemão nazista da Segunda Guerra Mundial. “O mundo ocidental tá igual ficou em [19]38 com o Hitler, na base do apaziguamento, e o Putin não respeita o apaziguamento. O Brasil não está neutro. O Brasil deixou muito claro que respeita a soberania da Ucrânia”, disse, em conversa com jornalistas.

À noite, Mourão foi desautorizado pelo presidente Bolsonaro. Durante a tradicional live que realiza sempre às quintas-feiras, o mandatário afirmou, sem citar o general, que quem trata desse assunto é o presidente. “Deixar bem claro: o artigo 84 diz que quem fala sobre esse assunto é o presidente. E o presidente chama-se Jair Messias Bolsonaro. E ponto final. Com todo respeito a essa pessoa que falou isso — e falou mesmo, eu vi as imagens — está falando algo que não deve. Não é de competência dele. É de competência nossa”, declarou.

 

Foto destaque: O presidente brasileiro Jair Bolsonaro [à esquerda] e o presidente Joe Biden [à direita]. ALAN SANTOS/PR| GET IMAGES

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