O veto de Milei à mídia na cerimônia de posse dos ministros acende um alerta na Argentina. O evento privado, sem transmissão televisiva, quebra uma tradição que durou 40 anos e gera uma certa apreensão entre os profissionais que cobrem o governo. A decisão política do presidente argentino chamou a atenção no domingo (10) e pode ser um sinal do modus operandi do novo governo, a exclusão da mídia na cerimônia de posse dos nove ministros que compõem o gabinete de Javier Milei.
Ruptura da tradição
A cerimônia foi privada, sem transmissão oficial, rompendo com uma tradição mantida desde a redemocratização do país, há quatro décadas. O veto surpreendeu profissionais experientes credenciados para cobrir a Casa Rosada e foi justificado de maneira pouco convincente pelo governo, que disse que, a situação na Argentina é crítica e não há nada para se comemorar.
Especialistas em temas de liberdade de expressão, o redator Alejandro Alfie, do jornal “Clarín”, expressou sua frustração nas redes sociais, compartilhando uma foto tirada da sala de imprensa da sede do governo durante a posse dos ministros.
Javier Milei durante sua posse. (Reprodução/Matias Baglietto)
O redator disse que não foi possível entrar ou assistir por circuito fechado, além de dois usuários do Twitter compartilharem algumas fotos e vídeos de suas contas nas redes sociais, ele disse que é a privatização da comunicação pública.
Conforme retratado por Ignácio Orteli, também do “Clarín”, não houve testemunhas independentes na posse dos ministros de Milei. A restrição à cobertura da imprensa acabou se tornando contraproducente e ofuscou a realização de uma medida popular do novo presidente.
Protestos contra o veto
Houve protestos e receios do que está por vir. A Associação dos Repórteres Gráficos da República Argentina divulgou uma nota protestando contra o veto de profissionais no recinto parlamentar durante a posse de Milei.
Os jornalistas presentes nos protestos disseram que em 40 anos essa foi a primeira vez que foram impedidos de realizarem seu trabalho. O estilo agressivo e hostil do presidente em relação à imprensa preocupa a ONG Repórteres Sem Fronteiras e é motivo de alerta para o jornalismo argentino.
O diretor para a América Latina, Artur Romeu, disse em um comunicado publicado antes da posse de Milei que, como Trump e Bolsonaro, o presidente da Argentina utiliza uma retórica hostil ao jornalismo, retomada e amplificada pelos seus seguidores nas redes sociais, segundo ele essa estratégia visa desacreditar os meios de comunicação social e os jornalistas críticos de suas políticas.
Foto destaque: Javier Milei com seus ministros. (Reprodução/Infolaplata)