Os moradores da região do centro da cidade de São Paulo viveram momentos de incerteza nesta segunda-feira (18) após diversos bairros permanecerem por quase 10 horas sem energia elétrica, e por volta de 35 mil moradores e comerciantes locais sofrerem o impacto da falta de luz. As informações são do diretor de operações da Enel, Márcio Jardim.
A origem do problema
Segundo a concessionária Enel, o problema que se iniciou por volta das 10 horas da manhã deu-se origem por “uma escavação realizada pela Sabesp na região central de São Paulo atingiu acidentalmente cabos da rede subterrânea da distribuidora, e causou a interrupção da energia“. A Sabesp, no entanto, nega que a obra tenha atingido a rede elétrica e seja o pivô da quebra de fornecimento.
Em nota, a Enel se manifestou a respeito.
“A Enel Distribuição São Paulo informa que restabeleceu a energia para 70% dos clientes afetados nos bairros de Higienópolis, Bela Vista, Cerqueira César, Santa Cecília e Vila Buarque. A distribuidora esclarece que uma escavação realizada pela Sabesp na região central de São Paulo atingiu acidentalmente cabos da rede subterrânea da distribuidora, e causou a interrupção da energia por volta das 10h30 desta segunda-feira (18). De imediato, a companhia deslocou equipes de técnicos e eletricistas ao local para identificar a causa e realizar o reparo da rede. Em paralelo, a Enel disponibilizou geradores para atender um hospital e outros clientes prioritários. Em função das características envolvendo a rede subterrânea que atende aquela região, as equipes da distribuidora atuaram em parceria com a Sabesp durante toda a tarde”.
Já a Sabesp afirmou que a situação está sendo investigada e que a “avaliação preliminar constatou que as obras de manutenção e ligação dos ramais de esgoto não danificaram a rede elétrica subterrânea. A escavação foi feita manualmente, a partir das 11h, sem deslocamento da fiação“.
Transtornos na saúde
A interrupção no fornecimento de energia gerou transtornos na região central. Hospitais, residências e lojas enfrentaram o calor excessivo que acomete todo o estado sem energia, o que gerou ainda mais desconforto.
Pacientes que necessitavam de atendimento médico precisaram esperar, como foi o caso de Jane Aparecida, dona de casa que necessitava de atendimento ortopédico na Santa Casa, entretanto, não conseguiu. Em entrevista ao G1, ela contou que não havia atendimento, apenas preenchimento de fichas e ninguém era chamado. Jane ainda destacou que os banheiros estavam sujos, sem papel higiênico ou sabão. “Um verdadeiro caos“, pontuou Jane.
Para quem precisava de hemodiálise não foi diferente. Ao lado do Cemitério da Consolação, pacientes com doenças renais crônicas ficaram em espera, aguardando o retorno da energia. A espera gerou preocupação e também revolta.
“Eu estou esperando por uma questão de não desobedecer. Por mim, já tinha ido embora, sei que não vai voltar. Você acha que a Enel vai dizer ‘O coitadinho está lá sem fazer a hemodiálise dele’? Não, não…”, contou o entrevistado Luis Cenise, enquanto aguardava o atendimento para realização do tratamento.
Pacientes de quimioterapia do Instituto do Câncer Dr. Arnaldo foram instruídos a retornarem para casa, uma vez que o atendimento estava impossibilitado. Entrevistados pelo G1 contavam com incerteza qual seria a data do retorno, que poderia ser na terça-feira (19) ou quarta-feira (20).
Quanto ao Hospital Santa Isabel, localizado em Higienópolis, operou apenas com atendimentos essenciais, garantidos por geradores básicos de energia. Higienópolis também ficou sem atividade nos semáforos.
Contatos pela TV Globo, a Santa Casa comunicou que remarcou os atendimentos de pacientes ambulatoriais e que as áreas de internação e emergência foram supridas por geradores básicos. Já o Hospital Santa Isabel e o Instituto do Câncer Dr. Arnaldo não retornaram o contato.
Em meio ao apagão, elevadores e demais meios de locomoção elétricas residenciais e comerciais não funcionaram, gerando situações desconfortáveis, como Dona Berenice, de 74 anos e residente da Vila Buarque, recém-operada, que precisou subir nove andares do prédio onde mora para conseguir acessar seu apartamento.
Comércio atingido
Não diferente da saúde, a área comercial também se viu na linha de danos causados pela quebra no fornecimento de energia elétrica.
O reflexo da falta de energia foi visível em ambas as áreas, uma vez que em frente a Santa Casa, um restaurante não preparou nem metade do consumo diário, que servia em média até 120 refeições e, nesta segunda-feira (18), não chegou a 30. José Carlos, gerente do local, ao contatar a Enel foi informado que o retorno não estava previsto.
“Os freezers, os sorvetes vão estragar, fora as mercadorias que estão lá em cima. Tem de R$ 700 a R$ 1 mil de sorvete. Vai perder tudo, chegou hoje”, relatou ele ao G1, contabilizando parte dos danos que eram previstos para o dia de calor, com temperaturas acima dos 35°c.
Mesmo em comércios que não dependem exclusivamente da energia elétrica também houve danos ao faturamento, como relata Claudinei Schiassi, dono de uma livraria. Ele conta que o prejuízo é online, uma vez que faz vendas através do serviço de market place e pode ser penalizado por atrasos e não emissão de notas fiscais.
“Nós temos as penalidades pelos marketplaces. A gente atende as vendas online, tem um prazo pra entregar. A gente não consegue emitir nota e não consegue entregar, então vou ser penalizado amanhã por esse atraso, né. Algumas penalidades a gente fica uma semana sem poder vender. Por uma falha que não é nossa, né”, lamentou.
Já na banca de jornais do Paulo Cardoso, a reclamação é quanto à qualidade dos serviços.
“Tá tudo descongelado. No escuro, eu vou ter que fechar mais cedo. Desde as 10h30 da manhã. A gente paga energia tão cara. Se ficar um dia sem pagar, eles já mandam mensagem, fazem a maior palhaçada. Na hora de prestar o serviço pra gente, a gente tá assim. Eu estou na escuridão e tenho que fechar”, contou em entrevista ao G1.
Nas redes sociais, a comoção foi generalizada por quem frequenta ou reside na área de apagão.
Usando as redes, principalmente o ‘X’ (antigo Twitter), os internautas deixavam evidente a insatisfação.
As empresa ainda não se manifestou através das redes socais, deixando os internautas sem resposta.