Muitos pais de crianças doentes precisam de apoio financeiro para garantirem remédios e exames para seus filhos e recorrem à vaquinhas online, onde pessoas do país inteiro podem ajudar através de doações. Estelionatários agora miram nesse tipo de nicho para aplicar golpes, se aproveitando da generosidade das pessoas e desviando ajuda necessária a uma criança doente.
Uma família descobriu que as fotos da filha, que precisava tratar um tumor, foram usadas em um golpe e que os criminosos haviam usado a própria mãe como laranja do golpe.
Caso Nicolly
Em um caso ocorrido em 2022 em Aracaju, o casal Madelaine e Renato Morigi descobriu um tumor atrás do olho esquerdo da filha Nicolly. “A gente começou a guardar dinheiro para ajudar nos exames, ressonância e no transporte para levá-la ao médico“, contou Madeleine. Mas sem condições de bancar o tratamento, eles recorreram à generosidade das pessoas através de uma vaquinha online para ajudar nas despesas médicas da filha.
A menina foi operada em abril do ano passado, mas após realizar uma nova ressonância, notou-se que o tumor havia retornado. Então a família recorreu novamente à vaquinha online e divulgou a campanha nas redes sociais. Foi nesse momento que Madelaine descobriu que as fotos e a história de Nicolly haviam sido usadas em uma vaquinha falsa.
Ao ser chamada de golpista em uma plataforma, um usuário mandou link e prints da falsa campanha à Madelaine. “Eu falei para essa pessoa que me xingou que a menina da foto era minha filha. Ela me mostrou print e link. Quando vi, em um mês, os golpistas tinham conseguido R$ 35 mil na vaquinha falsa da minha filha”.
Madelaine então recebeu uma ligação do Rio de Janeiro. No outro lado da linha falava Stephani Santos Barbosa, revelando que o irmão dela, Luiz Antônio dos Santos, e a cunhada, Tainara Ribeiro, foram os responsáveis por aplicar o golpe usando o nome da filha de Madelaine.
Os golpes de Tainara
Stephani começou a desconfiar do irmão e da cunhada quando viu os dois começando a esbanjar com viagens e itens caros, o que não combinava com a realidade da família. Stephani então viu Tainara editando a foto de uma criança desconhecida no celular. Stephani conseguiu filmar o ocorrido e resolveu investigar a página sendo administrada por Tainara.
A página era um perfil chamado “Todos Pela Laura”, que incluía o número atual de telefone de Tainara e um laudo médico assinado pela oncologista Juliana Ferrari Mutaro, que não trabalha com crianças, apenas adultos.
Mas essa não foi a única vez em que a médica teve seus dados roubados e usados por golpistas. Juliana revela que no ano anterior, descobriu ter seu nome vinculado a um laudo de uma criança com leucemia. A página em questão se chamava “Anthony luta contra o câncer”, um perfil falso que usava as fotos de outra criança. Juliana tentou fazer um depósito para descobrir a quem pertencia a conta bancária e descobriu-se que a dona era Hosana, a sogra de Tainara.
Tainara e Luiz Antônio foram chamados para depor na delegacia e foram indiciados pelo crime de estelionato. A advogada Lívia Madeira, que defende o casal, alega que Tainara estava em desespero financeiro, o que foi rebatido por Hosana. “É mentira. Pessoas com dificuldades financeiras vai procurar um trabalho, ganhar dinheiro honestamente”, declarou ela.
Para o advogado Ronaldo Lemos, especialista em tecnologia, essas falsas campanhas configuram crimes de estelionato e de falsa identidade e incentiva as vítimas a fazerem boletim de ocorrência, seja na delegacia normal ou na dedicada a crimes cibernéticos. Ele também frisou que é importante alertar os bancos indicados pelos golpistas, para que os depósitos possam ser interrompidos.
“Esse tipo de golpe tem um efeito horroroso de desincentivar as pessoas a serem solidárias”, diz o advogado. Muitas famílias precisam das doações para o tratamento dessas crianças e é uma realidade triste que criminosos se aproveitem dessa situação de vulnerabilidade. Com a ajuda das denúncias, mais pessoas poderão ser realmente beneficiadas nessa corrente do bem online, que dá uma chance a essas crianças de sobreviver.