O governo paraguaio anunciou ontem na segunda-feira (1), que resolveu convocar o embaixador brasileiro, José Antônio Marcondes, para dar explicações a respeito de um monitoramento ilícito da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) sobre os sistemas governamentais do Paraguai. Um funcionário da própria agência denunciou o caso para a Polícia Federal.
Monitoramento paralelo
Em depoimento para a PF, um agente da Abin relatou que existia uma operação de inteligência paralela dentro do órgão e que buscava informações confidenciais envolvendo negociações na Usina de Itaipu. As atividades extraoficiais se iniciaram no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas continuaram no atual mandato de Lula.
O governo brasileiro está negociando com o país fronteiriço a respeito dos termos de comércio na geração de energia elétrica. O Brasil e o Paraguai são membros do bloco do Mercosul (Mercado Comum do Sul) e possuem em conjunto a Usina Hidrelétrica de Itaipu, uma barragem hidrelétrica responsável pelo fornecimento de energia para os dois países.
Rubén Ramírez, chanceler do Paraguai, afirmou em uma coletiva de imprensa que o Brasil deve explicações ao governo paraguaio sobre o suposto caso de espionagem. Também ressaltou que o caso é “delicado” e o ministro paraguaio que atua na negociação elétrica em Itaipu, Javier Giménez García de Zúñiga, anunciou que as negociações estão temporariamente suspensas.
Interesses comerciais
Em nota, o governo brasileiro disse que barrou as ações ocultas assim que souberam dela em março de 2023, ano de posse do governo petista. As informações que estavam sendo vigiadas envolviam o Anexo C do Acordo de Itaipu, um segmento do acordo da negociação envolvendo a energia gerada e suas condições de comercialização.
O interesse era guiado pela expectativa de comercialização da energia excedente com a iniciativa privada. A renegociação do acordo seria o fim da obrigatoriedade das empresas “cotistas” em comprar energia do Paraguai no final de 2026.