Um porta-voz da Federação Alauita na Europa, identificado como Mert, em entrevista à TV Globo neste domingo (09), declarou que grupos jihadistas ligados ao governo interino sírio estão matando e jogando corpos de pessoas ao mar ou queimando, para esconder evidências de crime. Os conflitos ocorrem nas regiões de Latakia, Tartous e Banias, na costa do Mediterrâneo.
Segundo Mert, que não quis mostrar o rosto em entrevista por temer represálias. O número de mortos pode ser ainda maior. Os confrontos aconteceram entre apoiadores do antigo líder sírio Bashar al-Assad e integrantes do Hayat Tahrir al-Sham (HTS), ligados a Ahmed Sharaa, presidente interino do país e que liderou a ofensiva na Síria em dezembro de 2024.
Além das denúncias, Mert solicita intervenção internacional e ajuda de organizações multilaterais.
Nós precisamos de uma intervenção internacional, talvez da ONU, porque, se eles não intervirem, os alauitas não vão poder ficar na Síria. E essa é a nossa terra, meus ancestrais são de lá, nossos templos sagrados foram bombardeados. E é a nossa cultura, a nossa herança, a nossa história, e eles precisam destruí-la” (Mert)
De acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), com sede no Reino Unido, dos mil mortos entre quinta-feira (06) e sexta-feira (07), pelo menos, 745 eram civis, divididos em 30 “massacres”.
O outro lado
Segundo informações divulgadas pela BBC, os confrontos começaram quinta-feira (09), pois grupos leais a Bashar al-Assad recusaram-se a entregar suas armas, fazendo emboscadas contra as forças de segurança sírias. O que resultou na morte de dezenas de agentes.
Um morador de Banias, Ayman Fares, em entrevista a BBC informou que a maioria dos alauitas rejeita as ofensivas promovidas pelo ex-general de brigada do exército de Assad, Ghiath Dallah e o culpa pela violência dos últimos dias.
“Eles se beneficiam do derramamento de sangue que está ocorrendo. O que precisamos agora é que a segurança oficial prevaleça e que os assassinos das facções que cometeram os massacres sejam processados, para que o país volte a ter segurança” (Ayman Fares)
Soldado da Força Nacional da síria na cidade litorânea de Latakia (Foto: reprodução/OMAR HAJ KADOUR/AFP via Getty Images Embed)
Segundo informações, nos últimos dias, foi convocada uma “Jihad” , guerra santa, e que civis juntaram-se a diferentes grupos armados para lutar contra e a favor do atual governo sírio.
O que diz o presidente interino
Na último domingo (09), em discurso nacional, o presidente interino da Síria, Ahmed Sharaa, informou que o ocorrido já era previsto desde a queda de Bashar Al Assad, além de pedir unidade nacional.
O que está acontecendo no país são desafios que eram previsíveis. (…) Devemos preservar a unidade nacional e a paz civil o máximo possível e, se Deus quiser, seremos capazes de viver juntos neste país” (Ahmed Sharaa)
Presidente interino Ahmed Al Sharaa (Foto: reprodução/Ali Haj Suleiman/Getty Images Embed)
Al Sharaa também ordenou uma investigação independente para investigar a violência ocorrida no país, após três dias de confrontos entre tropas do governo e opositores.
Repercussão na ONU
O o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, informou que os relatos foram classificados pela comissão como “extremamente perturbadores” e que medidas urgentes precisam ser tomadas para “proteger os sírios”. Convocou , também, os líderes do governo para que identifiquem os autores dos ataques.
É necessário haver investigações rápidas, transparentes e imparciais sobre todas as mortes e outras violações, e os responsáveis devem ser responsabilizados” (Volker Türk)
Segundo informações, publicadas pela Reuters, os Estados Unidos e a Rússia pediram ao Conselho de Segurança da ONU para se reunir nesta segunda-feira (10), e discutir sobre os ataques realizados em território Sírio nos últimos dias.
Diferentes grupos éticos religiosos na Síria
O grupo religioso alauita é uma ramificação do islamismo xiita ligados a família Assad na Síria e possui grande influencia política. Estima-se que o número de alauitas no país varie de 12% a 15% da população.
No entanto, a Síria é uma país de maioria muçulmana sunita, com cerca de 70% a 75% da população professando essa vertente religiosa.
Ainda há os cristãos, cerca de 10 % da população síria; os druzes, com 3% e os judeus, com menos de 1%.
A Síria é um país fragmentado por diferentes grupos étnicos e religiosos. Em 08 de dezembro de 2024, com a queda do líder Bashar Al Assad, conflitos civis eclodiram, ainda mais, em diferentes partes do país.