Suprema Corte dos EUA avalia recurso que pode ameaçar casamento entre pessoas do mesmo sexo

Juízes da Suprema Corte dos Estados Unidos se reúnem para decidir se acata recurso de ex-funcionária que busca reverter decisão sobre o casamento homoafetivo

07 nov, 2025
Bandeira do orgulho LGBT+ | Reprodução/Getty Images embed/Saul Loeb
Bandeira do orgulho LGBT+ | Reprodução/Getty Images embed/Saul Loeb

Na sexta-feira (7), a Suprema Corte dos Estados Unidos se reuniu para examinar um recurso que pode ter impacto profundo sobre o reconhecimento legal de uniões entre pessoas do mesmo sexo.  O caso foi apresentado pela ex-funcionária pública do condado de Rowan, no estado de Kentucky, Kim Davis, que se recusou a emitir licenças de casamento após a histórica decisão da corte de 2015, no caso de Obergefell v. Hodges, que garantiu o direito ao casamento para casais do mesmo sexo em todo o país. 

Naquele julgamento de 2015, a maioria da Suprema Corte reconheceu que a Constituição dos EUA protege o direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, o que levou a celebrações em frente ao prédio da corte e a centenas de milhares de casamentos realizados posteriormente.  Entretanto, Davis que então ocupava o cargo de escrivã no condado citou objeção religiosa para negar licenças e foi processada, condenada ao pagamento de indenizações e chegou a ser presa por desobedecer ordem judicial.

O recurso movido por Davis pede à corte não apenas que analise sua situação pessoal, isto é, que seja absolvida de responsabilidade sob argumento de liberdade religiosa, mas também que reconsidere o precedente Obergefell. Embora muitos especialistas considerem improvável que a corte volte atrás, o fato de o recurso ter sido admitido gera preocupação entre ativistas LGBT+.

Cenário mais conservador

Do ponto de vista institucional, a atual composição da Suprema Corte revela um cenário mais conservador do que o que existia em 2015. O juiz decisivo na época, Anthony Kennedy, aposentou-se em 2018; sua substituição pelo juiz Brett Kavanaugh, e a nomeação da juíza Amy Coney Barrett em lugar da juíza liberal Ruth Bader Ginsburg reforçam uma maior inclinação conservadora.

Ao mesmo tempo, o princípio do stare decisis ou seja, a doutrina jurídica que prescreve que precedentes devem ser respeitados é um fator de peso para que a corte rejeite revisitar decisões consolidadas. O juiz Samuel Alito, que discordou de Obergefell, afirmou que o precedente “merece o respeito conferido pela doutrina do stare decisis”.

Para decidir se aceita ou rejeita o recurso, a corte considera diversos critérios, incluindo o grau de dependência que a sociedade desenvolveu sobre o precedente.

No caso do casamento entre pessoas do mesmo sexo, fatores como direitos de guarda de filhos e planejamento financeiro entram nessa avaliação.  Outro aspecto relevante é quantos juízes estão dispostos a ouvir o caso e, no final, votar pela sua procedência, são necessários quatro votos para admitir o recurso, mas para reverter o precedente, cinco votos são requeridos.

Cenário pode parecer desfavorável

Ainda que o cenário pareça desfavorável à reversão completa da decisão de 2015, o simples fato de o recurso estar em análise reacendeu temores de que a proteção jurídica para casais do mesmo sexo possa ser enfraquecida ou colocada em risco.
Um dos alertas partiu de James Obergefell, o autor da ação original de 2015 que leva seu nome ao afirmar: “Neste momento, não confio na Suprema Corte”.

Caso a corte decida não admitir o recurso, ele será arquivado e o precedente mantido sem novo julgamento. Se for admitido, poderá haver análise sobre a questão técnica referente à responsabilidade de Davis ou, mais amplamente, uma revisão sobre o direito ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.



Recurso movido por Kim Davis, pede anulação do casamento homoafetivo nos EUA (Vídeo: reprodução/YouTube/CNN Brasil)


O julgamento, portanto, está sendo acompanhado com atenção internacional não apenas pela comunidade LGBT+ dos EUA, mas pelos observadores de direitos humanos globalmente, dado o papel simbólico e efetivo dos EUA em pautar direitos civis em outras jurisdições. A decisão final, esperada em breve, poderá tanto encerrar a incerteza quanto instalar um novo período de debate jurídico e social.

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